Wanderlino Teixeira, grande poeta niteroiense, me alertou para um artigo sobre Tecnofeudalismo, publicado no jornal O Globo. Tecnofeudalismo? Estranhei. Que diabo seria isso? Sabendo que recomendação de Wanderlino é para ser levada a sério, corri pra ver. Valeu a pena!
Se no passado as transformações foram tão lentas que não foi possível determinar o momento em que surgiu o capitalismo, durante a evolução do Feudalismo para a Idade Moderna, hoje, pelo contrário, já é possível determinar e caracterizar as transformações enquanto elas estão acontecendo. E isto é o que está fazendo Yanis Varoufakis, economista, Ministro da Economia da Grécia na década 2010.
O seu livro “Tecnofeudalismo – O que matou o capitalismo”, a ser lançado no Brasil pela editora Planeta em abril próximo, registra a mudança importantíssima que está ocorrendo nas relações comerciais.
Com extrema felicidade, ele adotou o termo Tecnofeudalismo para explicar como o monopólio das grandes empresas que dominam o mercado de tecnologia, conhecidas como big techs, está fazendo a economia mundial ficar muito parecida com o feudalismo da Idade Média. Os mercados tradicionais estão sendo substituídos por plataformas de comercio digital, que agem do mesmo modo como faziam os feudos. Nós, os usuários, estamos nos transformando nos servos. A principal fonte de riqueza deixou de ser o lucro gerado pela produção de bens e a riqueza passou a se concentrar nas big techs que, deixando de lado os meios de produção tradicionais, gera um capital ligado a algoritmos que não produzem nada.
E isso mata com o capitalismo? Sim, porque, como explica o autor, à medida que os mercados foram dominados por essas plataformas, a acumulação de riqueza passou a ser baseada na renda, e não no lucro. No capitalismo, o lucro é o resultado da diferença positiva entre a receita e a despesa de um negócio. Por outro lado, a renda é o que se ganha sem produzir nada, como os algoritmos. A conclusão é que, não existindo mercado e lucro, não existe capitalismo.
Hoje, as big techs já se tornaram feudos digitais e são muito poderosas. Imagine que se as maiores como Google, Meta, Amazon, Apple, Tesla e outras, forem retiradas da Bolsa de New York, o que sobra? Nada. Seria o colapso daquela Bolsa. Por outro lado, se eu e você entrarmos em uma delas e pesquisarmos “panelas de pressão”, veremos produtos diferentes. Eu verei panelas diferentes das suas. O tal algoritmo é que decidirá o que nos mostrar, e o fará ajustando aos nossos gostos pessoais, que ele já conhece.
No livro, encontraremos algumas observações muito importantes, reforçando o quanto somos servos dos novos senhores feudais. Mostra que a Tesla (produz os carros elétricos, do Elon Musk) fabrica muito menos automóveis do que outras fabricantes de carros, mas vale mais do que Toyota, Mercedes, BMW, Stellantis e Volkswagen juntas. Por quê? Porque ela coleta seus dados enquanto você dirige. Ela sabe que músicas você escuta, quais os dias e horários que você vai ao supermercado e muito mais. Notem que quando uma plataforma recomenda um livro ou uma música, nós sempre temos vontade de lê-lo ou escutá-la. E geralmente gostamos. Gostamos porque conversamos com aqueles algoritmos todos os dias. Eles nos conhecem melhor que nossos familiares e amigos, e sabem das nossas preferências. As big techs não controlam apenas o nosso comportamento, mas as nossas mentes.
A minha conclusão pessoal é que o termo Tecnofeudalismo faz muito sentido pois as grandes empresas de tecnologia, realmente, se assemelham aos senhores feudais, detendo controle sobre vastos recursos e dados, enquanto nós, usuários, nos tornamos “servos”, dependentes delas para acesso a serviços e produtos, que nem sempre escolhemos. Note-se que as receitas dessas plataformas não se originam apenas das vendas de produtos ou serviços, mas também da monetização dos nossos dados pessoais, o que afeta a privacidade dos usuários e coloca sob suspeição a ética do modelo econômico.
Excelente texto.
Retrata exatamente o que tem estamos vivendo nas redes sociais.
Gostei. Cada texto seu que leio, é um conhecimento adquirido.