A tradicional figura de líderes comunitários mais velhos, com décadas de experiência nas favelas, está dando lugar a uma nova geração de jovens que, cada vez mais, assume o protagonismo nas comunidades do estado do Rio de Janeiro.
Ativista na Beira Mar, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Isabelle Venancio faz parte dessa mudança. Ela nasceu em um local que, segundo ela, a ensinou desde cedo sobre resistência, luta e a importância de ser uma voz ativa na transformação de sua comunidade.
“A minha vivência como mulher periférica sempre me impulsionou a buscar espaços onde eu pudesse não apenas reivindicar, mas também construir alternativas para as dificuldades que enfrentamos diariamente. O ativismo comunitário foi uma resposta à minha realidade. Se eu queria mudar a história da minha família e da minha comunidade, precisava me engajar na luta”, conta a jovem de 26 anos.
Ela destaca que, além da desigualdade social, um dos principais desafios de liderar nas comunidades é a falta de recursos e reconhecimento. Isabelle conta que, muitas vezes, a voz dos jovens é silenciada ou desvalorizada e que “liderar em contextos de falta de recursos e vulnerabilidade social exige uma dose extra de resistência”.
Ascensão feminina
Apesar dos desafios, a ativista, que também é coordenadora de comunicação do PerifaConnection, acredita que a presença de jovens, especialmente mulheres, é fundamental para o futuro das favelas.
“Acredito que a mudança começa pela gente, pelas nossas ações, pela nossa participação e pela força da coletividade. Historicamente, as mulheres negras têm sido pioneiras na luta por justiça social, igualdade e direitos humanos, enfrentando as opressões racial, de gênero e de classe. Ter mulheres jovens à frente dessas lutas é essencial para renovar a coragem e a esperança”, ressalta.
Quase 2 mil comunidades
De acordo com o Censo 2022, o Rio é o segundo estado com o maior número de favelas do Brasil, com 1.724 comunidades, ficando atrás apenas de São Paulo, que possui 3.123. A Rocinha continua sendo a maior favela do município, tanto em número de moradores quanto em domicílios, com 30.371 residências ocupadas.
Além da Rocinha, outras grandes comunidades cariocas estão entre as 20 maiores do país em número de habitantes, como Rio das Pedras, com 55.653 moradores (5º lugar), e Jacarezinho, com 29.766 pessoas (16º lugar).