O Rio deveria adotar o princípio urbano da caminhabilidade, ou seja, em apenas 15 minutos, as pessoas acessariam todos os serviços à sua disposição a pé, inclusive o trajeto moradia-trabalho, através das estações de metrô, VLT, BRT e ônibus. Em território brasileiro, essa realidade pode ser não tão distante, uma vez que uma proposta similar tem potencial para se concretizar para os cariocas no centro urbano do Rio de Janeiro. O estudo ‘Masterplan Centro do Rio: uma visão de futuro’, encomendado pelo BNDES e pela Prefeitura do Rio, aponta caminhos para os cariocas levarem uma vida contemplada pela urbanidade. Pelo menos no que diz respeito à mobilidade e ambiência urbana.
O total abandono por questões socioeconômicas e uma super infraestruturação são características marcantes da Zona Central da cidade, além da forte formação de microcentros, como a Lapa e as regiões da Praça XV e a Região Portuária do Boulevard Olímpico. Aliás, a cultura bairrista presente no comportamento dos moradores do Rio é um fator que afasta a população do desejo de residir nessa área, marcada no imaginário carioca apenas pelo aspecto mercadológico. Uma saída para despertar o interesse em ocupar o Centro é oferecer atrativos da indústria do entretenimento. Pequenos eventos, shows, gastronomia, inclusive investindo na revitalização de tradicionais bares e restaurantes, teatros e cinemas são pontos importantes no processo de ocupação do Centro. A intenção com iniciativas como essa é atrair a parte da população mais jovem, que esteja ingressando no mercado de trabalho.
Quando se discorre sobre os novos equipamentos atrativos para o Centro do Rio, também é fundamental abordar a questão ambiental e da arborização, praças e áreas verdes, pois isso é o que cria as condições favoráveis a viver com dignidade, com coerência e com tranquilidade. Todos esses fatores são os primórdios da revitalização.
No papel, pode-se dizer, a ideia é perfeita. Mas e na prática? O que realmente falta para que a Zona Central seja esse espaço modernizado? Bom, a resposta é simples: um planejamento urbano adequado, participativo de verdade, contando com a indução do desenvolvimento imobiliário sustentável, para finalmente transformar essa área do Rio em uma grande oportunidade de sucesso.
Uma cooperação entre a política pública e a privada é vital, sempre com a participação direta da população, sem esquecer que uma solução para essa revitalização é, de fato, a médio e longo prazos. Mas para obter sucesso nessa caminhada, é necessário começar em curtíssimo prazo, agora, já!
Oferecendo uma boa qualidade de vida em uma região como o Centro, que conta serviços públicos e, principalmente, com transporte à disposição, o carioca vai ter vontade de morar no Centro. Ah, e de andar a pé. Andar a pé eu vou… No Rio!
Por Sydnei Menezes – Arquiteto e urbanista, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ)