Segunda-feira.
Acordei bem-disposto e com uma enorme vontade de ficar sozinho. Pensar. Quase 80 anos. Hora de fazer um balanço da vida.
Levantei-me devagarzinho para não acordar a mulher que dormia. Sono tranquilo, merecido. Calcei o tênis novo, presente dos filhos cuidadosos, e fui caminhar na ciclovia que margeia o canal de Marapendi, na Barra da Tijuca.
Contrariando a meteorologia, o céu estava nublado e corria uma brisa leve, mais fria que fresca. Iniciei a caminhada e me dei conta de que estava sozinho naquela pista. Só aí eu percebi que era muito cedo. Eu tinha madrugado!
Acelerei o passo sentindo o frio no rosto e me sentindo o dono daquele lugar. Olhava para o canal e via as garças de olho em algum peixe mais afoito ou ingênuo. As capivaras se faziam representar por um casal com dois filhotes. Que bom poder andar quase correndo sem ter que voltear os cachorrinhos das madames. Mais tarde isso seria impossível, pensei.
E continuei a pensar: o Vasco está na série A do Brasileirão, o Bolsonaro continua inelegível, o Dino vai pro Supremo, a Bovespa voltou a subir, o dólar a cair, a taxa SELIC e o risco Brasil estão baixando, o desemprego em declínio, a Amazônia e os yanomamis sendo socorridos, ninguém doente na família (todos vacinados!), a inflação controlada e a praia do Flamengo voltando a ser própria para o banho. Ah, e a inteligência artificial chegando para ficar e – quem sabe? – substituir a natural que parece faltar na cabeça de tantos gestores públicos e eleitores de mitos. Quantas coisas boas, que beleza!
E melhor que tudo isso, tal qual o Rio de Janeiro da canção de Gil, a minha mulher continua linda. Caminhando e pensando essas coisas, sentindo-me leve, diminui o passo e examinei de relance as pitangueiras em flor. Parei sob um frondoso pé de jamelão, cujos frutos caídos enodoavam o chão cimentado.
Então ouvi. Ouvi um sabiá iniciando um canto bonito e quase contínuo. Permaneci parado e fiquei, absorto, escutando o sabiá. Pouco depois um segundo sabiá se pôs a cantar, e um terceiro, distante, a lhe responder.
Não sei quanto tempo fiquei escutando aquela sinfonia, interrompida por um companheiro de quase todas as manhãs:
“Vamos, amigo, vamos caminhar. O que você está fazendo aí, tão cedo, parado, com cara de idiota?”
E eu, incontinente, sem pensar:
“Sendo feliz!”
Muito bom! Encontrar felicidade em coisas simples é uma dádiva, sinônimo de sabedoria.👏👏
Muito bom, ser Feliz de uma maneira simples com pensamentos positivos e leves e apreciando a natureza. Como é bom ser Feliz.
Que beleza de crônica, saída do coração ! É muito bom ver que Alguém que anos a fio, enveredou pela carreira técnica, guardou no recôndito de tu’ alma o gosto pela beleza da companheira de mais de 1/2 Sec, apreciar a Natureza, com tudo que ela tem belo; além de valorar estes índices todos, fazendo com que o país esteja numa situação econômica confortável !
Foi um prazer ler o teu escrito !
E a vida é isso… visualizar e vivenciar sempre as coisas mais simples da vida. Simples? Não! As mais belas!
O corpo envelhece mas nossas motivações nos acompanham.
Mais Um belo texto , parabéns pela abilidade de colocar em palavras o que lhe vai na alma .
Ai, eu amei!!
Sou fã da forma como brinca com as palavras e torneios sintáticos produzindo um texto delicioso para se desfrutar. Quem não gosta de ler(infeliz) deveria experimentar ler Alfeu Valença. Mas o melhor de tudo é que ele nunca deixa passar in albis informações relevantes sobre a situação do país; nem quando nos diverte sendo ele mesmo e falando a verdade sobre a política e sobre a imensurável beleza da esposa…
A Tempo Real realmente acertou, mais uma vez, com esse novo desfrute. Desculpem, se foi trocadilho… Mas amei.
As obras da natureza inspiram a sua felicidade e o seu contentamento, deixa-nos felizes. Abração.
Gostei do texto!
Alfeu, excelente texto, chega num momento em estamos precisando exatamente disso: paz!
Você escreve com um bom estilo, leve e agradável.
Espero ser prendado com outras crônicas.
Muito bom. Admiro sua capacidade de comunicar, compartilhar pensamentos, sentimentos e ideias.
Saudamos o poeta que existe em você!
Sabendo-se que, o poeta é quem transforma o prosaico em inusitado e desperta a sensibilidade daqueles que têm olhos de ver e coração de sentir. Então, a anta não é apenas um animal, as sabiás fazem uma sinfonia, e o caminhar não é apenas exercício é correr carregando o coração. Obrigada pelo sopro de beleza!
Esse texto foi um grande presente 🎁 pra mim, foi no dia do meu aniversário. Obrigado e felicidades
Linda crônica.
Admiro teu lado leve de ver a vida .
Prezado Alfeu, você está morando no Brasil ou na Suíça? Será que estamos no mesmo país? Sério mesmo que você está achando tudo uma maravilha? Vivemos uma ditadura escancarada do STF em conluio com o PT e quem não quiser que vá reclamar com o Bispo. Um certo alguém voltou à cena do crime e ultimamente, amparado pela Rede Globo, que passa pano pra´tudo, desandou a falar besteira como nunca. A gloriosa Petrobras, a nossa Petrobras, foi novamente “aparelhada” e está a um passo de apresentar o prejuízo da era Dilma. Não demora pipoca mais um “malfeito” na Petros. Não sei você, mas eu estou pagando dois PEDs (2015 e 2018) e mês que vem começa um terceiro relativo a 2022. Não repactuei. Antes foi por roubo. Agora foi o quê? Incompetência mesmo? O rombo nas contas do governo federal não demora vai igualar o PIB, mas o “pokemon” diz que está tudo bem. Puseram um comunista confesso no STF e tem gente na cara de pau dizendo que é em nome da democracia. Hoje em dia até lupanar é em nome do Estado Democrático de Direito. Aos poucos a gente está virando uma Alemanha Oriental. By the way: embarquei em todo o período da pandemia e não me vacinei. Milagre ou foi a tal da imunidade natural?
Espero encontrá-lo com saúde. Um beijo pra´Celinha.
forte abraço
Parabéns Alfeu vc é um diferencial num país carente de mentes brilhante que continue colocando textos que nos faz pensar . Obrigado meu caro continue nos mantendo em tempo real.