A dupla Rio-Niterói aguarda com expectativa a escolha da sede dos Jogos Pan-Americanos de 2031, que será feita em outubro. Enquanto a decisão não chega, as duas cidades brasileiras apostam em um pacote robusto de obras para garantir os votos necessários.
Entre os destaques está a aguardada Linha 3 do metrô, que promete ligar o Rio a Niterói. Do outro lado, a capital do Paraguai, Assunção — única concorrente da dupla brasileira — também tenta surpreender, também com foco na modernização do transporte público.
Cenários distintos, estratégias diferentes
Essa é a segunda tentativa de Assunção em sediar os Jogos Pan-Americanos. Em 2024, a cidade perdeu para Lima, no Peru, a disputa pelo Pan de 2027 — foram 28 votos a 24. O principal motivo da derrota, segundo os membros votantes, foi a precariedade da infraestrutura e do transporte público paraguaio.
Enquanto a candidatura brasileira conta com infraestrutura esportiva, rede hoteleira e transportes integrados, Assunção tem deficiências com transporte precário — há ônibus da década de 1960 circulando. Agora, para virar o jogo, o governo aposta na renovação da frota de ônibus, incluindo implantação de bilhetagem eletrônica — o que já existe há décadas por aqui — e melhorias de conforto e segurança.
Assunção busca ainda reutilizar e modernizar infraestruturas como o Estádio Defensores del Chaco, principal arena de futebol do país e expandir a rede hoteleira da cidade visando a atender à alta demanda dos jogos. Além disso, a capital do Paraguai aproveita os Jogos Pan-americanos Júnior, que acontecem ainda neste ano, como um “cartão de visita” para a candidatura de 2031.
O presidente do Comitê Olímpico Paraguaio, Camilo Pérez, destacou que “90% da estrutura prometida já existe”.
“É uma candidatura sólida. Assunção 2031 é a candidatura de um país inteiro concentrado em uma única região”, afirmou.
Legado olímpico como trunfo
No lado brasileiro, o Rio aposta na experiência de quem já sediou uma Olimpíada. A candidatura Rio-Niterói prevê investimentos em mobilidade urbana, meio ambiente e infraestrutura esportiva. A principal promessa é a construção da Linha 3 do metrô, ligando as duas cidades. Também estão no pacote: despoluição da Baía de Guanabara, revitalização da Zona Portuária com a construção da Vila dos Atletas, reformas nas arenas existentes e novas instalações em Niterói.
Segundo a prefeitura do Rio, a candidatura se baseia no legado dos Jogos Olímpicos de 2016, aproveitando estruturas já construídas e reforçando a imagem do Brasil como sede de grandes eventos esportivos. A estimativa de investimento é de R$ 3,8 bilhões, sendo a maior parte via iniciativa privada.
“O Movimento Olímpico Brasileiro referendou essa candidatura. O esporte precisa estar enraizado na nossa sociedade, e grandes eventos ajudam nisso”, disse o presidente do COB, Marco La Porta.
E se os Jogos não vierem?
Apesar do favoritismo da candidatura brasileira, especialistas alertam: “e se a sede não vier?”. O temor é que parte das obras seja abandonada ou arrastada por anos, como já aconteceu com outras promessas.
A arquiteta e professora da UFF Luciana Diniz acredita que as obras deverão sofrer com atrasos.
“As obras serão finalizadas. Infelizmente, em grande parte delas, vai ocorrer com reprogramação do cronograma. O risco dessas obras serem deixadas de lado estará sempre presente, não há garantia de 100% de sucesso num empreendimento. O que amplia a chance de ocorrer é justamente a falta de planejamento”, explicou.
Ela lembra do caso da Estação Gávea do metrô, que ficou paralisada por vários anos, sendo retomadas apenas em 2025. Por outro lado, cita o Parque Olímpico, que hoje funciona como centro esportivo e de lazer.
Já a cientista política Mayra Goulart destaca o uso político dessas grandes intervenções.
“Obras têm retorno eleitoral. Principalmente as grandes, que podem ser usadas como vitrine política para campanhas. Tem retorno eleitoral e também é uma possibilidade de fazer política”, concluiu.
Independentemente do resultado em outubro, a corrida pelo Pan já deixou marcas concretas nas duas candidaturas. No Brasil, a promessa de investimentos bilionários reacende o debate sobre legado, planejamento e uso político de obras públicas.
No Paraguai, a disputa acelerou melhorias em infraestrutura que estavam há décadas no papel. Resta saber se, ao fim da votação, o vencedor entregará mais do que promessas — e se o perdedor saberá transformar a derrota em impulso para o desenvolvimento.