É super conhecida a frase “do poço ao posto” referindo-se à operação integrada, adotada por todas as grandes companhias petroleiras do mundo inteiro. E por que elas atuam em toda a cadeia do negócio, desde a exploração e produção do petróleo até o refino e distribuição dos derivados?
Ora, como as empresas produtoras não controlam as variáveis econômica e geopolíticas que determinam diariamente o preço do barril de petróleo, elas se previnem (fazem hedge, dizem os economistas) refinando o próprio petróleo que produzem. Assim, quando o preço do petróleo cai, e elas têm reduzidas as margens de lucro da produção, compensam com o aumento proporcional das margens obtidas no refino e na distribuição, e vice-versa. As grandes empresas, na verdade, vão um pouco além do posto e atuam também na petroquímica. Ou seja, vendem os produtos acabados agregando valor a sua matéria-prima, como é recomendado por qualquer estudante de economia.
No Brasil, cumprindo a lei 2004, de 03 de outubro de 1953, para atender ao mercado brasileiro e adotando essa estratégia empresarial, a Petrobras construiu suas refinarias e criou a sua empresa distribuidora (BR Distribuidora). Incentivou e desenvolveu a indústria petroquímica associando-se a empresas privadas nacionais e estrangeiras (detentoras de tecnologia), criando os Polos Petroquímicos. Sempre trabalhando dentro dessa filosofia “do poço ao posto”, partindo do zero, tornou-se numa das dez maiores companhias de petróleo mundo!
Entendido isso, fica justificada a minha incredulidade quando, há poucos anos, a então gestão da Petrobras, após vender a BR Distribuidora, também decidiu vender 50% das suas refinarias sob o pretexto de – pasmem! – criar uma concorrência para a “estimular” a sua própria eficiência operacional. E mais, resolveu concentrar seus investimentos apenas na produção de petróleo, afirmando equivocadamente ser aquela atividade o “core business” da companhia.
E por que o meu espanto com essa política que quebraria a cadeia lógica de atividades de uma grande empresa petroleira? Porque, coerentemente com o que já foi dito, qualquer empresa não produtora de petróleo que comprasse alguma refinaria ficaria totalmente dependente do preço de mercado do barril a ser refinado, nacional ou importado. Ou seja, não teria nenhum controle sobre o custo da sua matéria-prima. Concomitantemente, a Petrobras (já tendo quebrado a cadeia lógica “do poço ao posto”, ao renunciar aos seus negócios mais lucrativos com a venda quase integral das participações na petroquímica e totalmente da BR Distribuidora) vindo a focar seus investimentos apenas na produção de petróleo, teria reduzida a sua capacidade de auto refino. Assim, ela diminuiria sua produção de derivados (com valor agregado) e venderia o excedente do petróleo cru por ela produzido aos preços inconstantes do mercado. Ou seja, teria fatalmente sua autonomia empresarial e margens de lucro reduzidas.
Vejam que com a concretização dessa política, tanto as refinarias privatizadas quanto a Petrobras operariam com submissão aos interesses de outros agentes, o que nos fez, à época, duvidar da eficácia empresarial daquela política.
E isso independe da ideia esdrúxula de vender ativos para a concorrência visando se tornar mais eficiente.
Daí porque não foi nenhuma surpresa para mim ao saber, recentemente, através dos meios de comunicação, que o fundo soberano que comprou a refinaria de Mataripe, na Bahia, depois de queixar-se muito dos preços cobrados pelo petróleo nacional ou importado, iniciou tratativas para revendê-la, ou associar-se à Petrobras, tendo em vista os maus resultados financeiros que vem obtendo.
Surpresa zero.
Obrigado por mais essa lição , pois eu não fazia a menor idéia das variáveis envolvidas na privatização de partes de uma mega empresa como a Petrobrás .
Parabéns pelo maravilhoso texto, de maneira simples traz informação e conhecimento para todos.
Esse entende de Petróleo, Óleo e gás.