A comoção do pão em Botafogo ganhou um novo capítulo — já esperado, mas que continua provocando a indignação dos moradores.
Queridinho da vizinhança, João Padeiro confirmou aquilo que se temia: o produtor de um dos pães mais cobiçados da região aprontou as malas e comprou passagem só de ida para a Barra da Tijuca, o “eldorado carioca”. O morador do movimentado bairro da Zona Sul coça a cabeça, e tenta compreender. O que a Barra, que fica “lá onde o vento faz a curva”, tem? Já levou lojas, médicos, advogados… agora até o pãozinho.
Sentindo o gosto amargo da traição, os fiéis consumidores não perdoaram:
“João virou Mané”, rebelou-se Cláudio Uchoa, jornalista morador de bairro há 20 anos, um dos primeiros a “denunciar” a mudança.
“Há mais de quatro meses anunciaram que vão trocar Botafogo pela Barra. E desde então falavam que continuariam por aqui, abririam uma nova loja. E até agora não conseguiram um lugarzinho pelas redondezas, que está cheia de locais vazios? Então está claro que a intenção é não continuar. É um direito deles nos trocarem pelos emergentes, mas não é legal esse discurso, que não se reflete em fatos concretos”, prosseguiu, indignado.
Panos quentes
Em agosto, os donos do João Padeiro disseram que a saída de Botafogo “não estava certa”. Mas acabou se confirmando. Agora, buscam tranquilizar seus clientes, que se tornaram amigos em cinco anos de relação. Afirmam que tentarão retornar o quanto antes, em um novo ponto, “numa loja ainda melhor”.
Será que dá para acreditar?
“Reafirmamos nosso compromisso de em breve retornar para Botafogo com uma loja ainda melhor. Vamos nos estruturar e em breve estaremos de volta”, prometeram.
Outro amigo deste site e atento à comoção, seu Soares, morador da Rua Álvaro Ramos, demonstrou ceticismo com a promessa. Chateado, ele garantiu: “Nem se eles voltarem com pães banhados a ouro eu frequentarei de novo. É um absurdo trocar Botafogo por um lugar sem alma daqueles”, esbravejou.
Nem mesmo bilhetes deixados na simpática futura ex-casa do João, na Rua Arnaldo Quintela, foram suficientes para demovê-los de partir rumo ao “eldorado” da Barra, o que deve acontecer no final do mês que vem. Entretanto, os donos juram que ficaram emocionados comm as homenagens.
“Foi uma decisão difícil, mas não encontramos um local melhor do que esse na Zona Sul. Temos uma dívida com o bairro de Botafogo, que nos acolheu de forma maravilhosa, com tanto carinho por parte de todos os moradores, comerciantes e visitantes”, lamentaram.
Rei morto, rei posto
O morador de Botafogo, nos últimos anos, apurou seu padalar ao apreciar pães diferenciados. Se João está indo embora, outra padaria artesanal vai ampliando se firmando como novo xodó da vizinhança: a The Slow Bakery, que fica na Rua General Polidoro. O espaço tem quase uma década e produz mais de 15 tipos de pães, totalizando aproximadamente 800 unidades por dia e oito toneladas ao mês.
Embora também tenha explorado novos terrenos, abrindo filiais em outros povoados, seus clientes sublinham que a Slow jamais cogitou em deixar a localidade, onde também funciona sua fábrica. Esta, cabe ressaltar, está em processo de expansão. Sinal que Botafogo, embora não tenha o hype barrense, também pode ser um “eldorado” dos pães.