A prisão de uma quadrilha especializada em produzir e divulgar notícias falsas contra candidatos em, pelo menos, dez cidades do Estado do Rio aconteceu na última quinta-feira (12) — mas está longe de ser notícia nova. Os tempos atuais são das fraudes cometidas com a ajuda da inteligência artificial. Menos na política, onde pouca coisa mudou. As falcatruas continuam as mesmas — e sempre na base do boca a boca.
Em 1996, o então prefeito Cesar Maia — orgulhoso criador de factóides na administração municipal — lançou o seu secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde, à sua sucessão. O principal candidato de oposição era Sérgio Cabral Filho.
Cesar contava, orgulhoso, que recrutou um grupo de taxistas para espalhar, entre os passageiros, em botecos e padarias, que Cabral havia desistido de disputar a prefeitura. O boato correu a cidade. Até que, três dias depois, um servidor entrou no gabinete do prefeito dizendo que o Cabral havia jogado a toalha.
Vinte anos depois, Marcelo Freixo, então no PSOL, disputava a eleição para a Prefeitura do Rio. Na noite de 2 de outubro de 2016, apurados todos os votos, foi sacramentado que ele iria para o segundo turno contra Marcelo Crivella, do PRB. Na manhã de segunda-feira, dia 3, Freixo foi tomar café no botequim de sempre, no bairro da Glória, na Zona Sul do Rio.
Mas eis que os frequentadores do estabelecimento o receberam de cara feia. Em sua maioria, motoristas de táxi, começaram a sair quando Freixo chegou. Estranhando a reação, o então candidato perguntou o que estava acontecendo. O balconista, que já o conhecia, respondeu que “ele havia vacilado”. E, para explicar, pediu a um dos motoristas de amarelinho que mostrasse ao psolista o que todo mundo já sabia.
Notícias falsas correm como rastilho de pólvora
O rapaz pôs para tocar um áudio que havia recebido. Uma imitação da voz de Freixo dizia em alto e bom som que “já estava no segundo turno, ia ganhar a eleição e se vingar dos taxistas, que apoiaram Crivella. Ia liberar o Uber”. O tal áudio circulou como rastilho de pólvora pela categoria que, como provara Cesar Maia tantos anos antes, é um exército e tanto nas eleições. A voz não era de Freixo, e ele nunca havia dito aquilo.
Mas vai convencer quem ouviu…