Um dos fundadores da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), o traficante Celso Luís Rodrigues, conhecido como Celsinho da Vila Vintém, foi preso, na manhã desta quinta-feira (8), na própria favela da Vila Vintém, em Padre Miguel, Zona Oeste do Rio. Considerado um dos criminosos mais antigos em atividade no estado, Celsinho era alvo de uma ação conjunta da Polícia Civil.
A operação foi conduzida por agentes da 32ª DP (Taquara), da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte). Ele foi capturado após investigações apontarem sua reaproximação com o Comando Vermelho (CV), facção da qual já havia se afastado, em uma tentativa de retomar territórios dominados pela milícia em Santa Cruz.
A prisão faz parte da “Operação Contenção”, uma ofensiva da Polícia Civil para impedir o avanço do Comando Vermelho na Zona Oeste — região marcada por confrontos entre milicianos e traficantes. A estratégia mira diretamente a base financeira, logística e operacional da facção. Como parte das investigações, as autoridades já pediram o bloqueio de mais de R$ 6 bilhões em bens ligados ao grupo criminoso.
Sobre as investigações
As investigações começaram em 26 de fevereiro, após a prisão em flagrante de oito traficantes armados na favela da Vila Sapê, em Curicica, Zona Oeste. Segundo os detidos, eles haviam sido enviados por Celsinho com a missão de assumir o controle da área, até então dominada pela milícia de André Costa Bastos, o “Boto”, atualmente preso em um presídio federal.
O relato dos traficantes revelou uma transação criminosa: mesmo de dentro da prisão, Boto teria negociado a “venda” da Vila Sapê a Celsinho, que imediatamente enviou tropas da facção ADA para ocupar a favela e iniciar as atividades de tráfico. A ausência de resistência chamou a atenção da inteligência da Polícia Civil, que passou a monitorar a movimentação, suspeitando de uma aliança entre os grupos.
Pacto entre facções rivais
Com o avanço da investigação, os agentes descobriram que o acordo de Celsinho ia além de Boto. Ele também teria firmado um pacto com Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, chefe do Comando Vermelho (CV) — facção historicamente rival da ADA. O objetivo da aliança era garantir o controle pacificado da região de Curicica e arredores, unindo interesses para evitar conflitos e promover a divisão territorial de forma coordenada.
O pacto previa inclusive ações armadas conjuntas, como a execução do miliciano dissidente Fábio Taca Bala, morto por traficantes do CV por se opor à entrada da ADA na região. A ofensiva teria sido autorizada pelo alto comando da facção, em comum acordo com os demais líderes.
A partir de depoimentos, provas técnicas, movimentações no sistema penitenciário e interceptações telefônicas, a Polícia Civil concluiu que Celsinho, Doca e Boto integravam uma associação criminosa voltada à exploração do tráfico de drogas em áreas estratégicas da Zona Oeste. O grupo atuava com armamento pesado, intimidação de moradores, homicídios e ocupações pactuadas entre as facções e a milícia.
Quem é Celsinho da Vila Vintém
Celso Luís Rodrigues, um dos fundadores da facção criminosa ADA, tem uma longa trajetória no crime organizado do Rio. Condenado por tráfico de drogas, roubo e formação de quadrilha, ele foi preso pela primeira vez em 1990 e voltou ao sistema prisional em 1996, de onde conseguiu fugir em 1998 disfarçado de policial militar, durante uma internação no Hospital Penitenciário.
Recapturado em 2002, Celsinho chegou a admitir em entrevista que vivia do tráfico e lucrava cerca de R$ 50 mil por semana, comandando pontos de venda nas comunidades da Vila Vintém e do Curral das Éguas, ambas na Zona Oeste. Apesar da ostentação, dizia manter um perfil discreto e evitar confrontos com a polícia.
Passou boa parte dos últimos 20 anos preso, incluindo uma longa permanência no Presídio Federal de Porto Velho (RO), sendo transferido de volta ao Rio em 2017. No mesmo ano, foi acusado de articular a invasão à Rocinha, mas a Justiça considerou haver dúvidas sobre sua participação após questionamentos levantados pelo Ministério Público. Com isso, ele foi libertado em outubro de 2022 por decisão judicial.