Nunca na história da Câmara do Rio a turma governista pareceu tão descontente com o dono da caneta — e das gerências executivas, das subprefeituras, das equipes de conservação, ou seja, da linha de frente do “atendimento ao eleitor”.
Empoderado pela reeleição em primeiro turno, o prefeito Eduardo Paes (PSD) reduziu a participação dos vereadores no governo e ganhou o desamor de boa parte de sua própria base.
Até aí, diriam os conhecedores do assunto, é só uma questão de estilo.
Mas, eis que dois diferentes grupos de vereadores “governistas” do velho Palácio Pedro Ernesto, cansados do novo roteiro de lamúrias e vexames, decidiram buscar ajuda na outra ponta da política fluminense. Sem combinar previamente, um grupo foi à Assembleia Legislativa; outro, ao governo do estado — ambos em busca de quem liderasse o processo de “revolução” nos mares bravios da Guanabara.
Somando os sete do PL, os quatro do PSOL e um do Novo, bastaria à nova oposição contar com mais uns seis desgarrados e desalentados para barrar projetos e criar barreiras reais a Paes no legislativo carioca. Parlamentares habilidosos e experientes foram além — e reuniram bem mais gente do que seria necessário para dar muita dor de cabeça ao prefeito.
Na casa do Largo da Carioca, os rebeldes da Câmara do Rio foram recebidos por deputados da direita, que, animadíssimos, prometeram mundos e fundos — e apoio do governo do estado.
Nas Laranjeiras, a conversa foi diretamente no salão oval, ou melhor, na sala do poder central. A proposta, ali, era que o governo criasse uma pasta para prestar serviços na capital (de preferência, aqueles que rendem votos, como asfalto e reforma de praças).
As estratégias estavam traçadas.
Mas cadê o governo do estado?
Depois das duas reuniões, nada caminhou. Nenhuma das providências combinadas virou realidade. E, de uma hora para outra, os poderosos pararam até atender as ligações dos queixosos da Cinelândia.
O que era para ser uma rebelião sem precedentes na Câmara do Rio virou uma insurreição que já nasceu morta. Paes convocou um a um os insatisfeitos e acenou com um cargo aqui, uma obra ali.
Sem nem mesmo um bote salva-vidas no horizonte, restaram as batatas aos marinheiros insurrectos.
Câmara do Rio aposta na união de Paes e Castro nos bastidores
Depois da aventura, nos corredores do velho Palácio Pedro Ernesto, vereadores da base e da oposição têm uma teoria em comum: a de que o governador Cláudio Castro (PL) e Paes fecharam algum tipo de acordo de não agressão — até porque, as farpas entre os dois desapareceram no ar.
E não há quem reduza o barulho provocado pela teoria da conspiração.