Olhando para trás, constato um tempo muito curto para o volume de transformações que vivenciei e isso me faz irritado quando escuto, com mais frequência do que seria aceitável, pessoas pretensamente cultas e bem-informadas alardeando que o Brasil não tem jeito, nunca deixará o terceiro mundo porque não evolui em nada.
Há exatos 55 anos tive a magnifica oportunidade de passar um mês inteiro morando no meio da floresta amazônica, em precário acampamento de pesquisa mineral, no Amapá. À época, o nosso único contato com o mundo era através do noticiário de uma tal Voz da América, rádio norte-americana que fazia transmissões dirigidas à América Latina (catequização ideológica?) em língua espanhola mas que, entre 20 e 21h, noticiava em português. Pois bem, hoje se o mesmo trabalho for feito, no mesmo lugar, certamente teremos acesso a TV, telefone e internet.
Tempos depois, em São Paulo, precisei fazer uma ligação telefônica para Aracaju e mofei horas no salão da Telesp, esperando que a ligação fosse completada. E pagando adiantadamente uma caução elevada. Hoje usaria o celular e o whatsapp, gratuitamente.
E os famosos travel checks, incômodos e volumosos, usados para pagamentos em viagens ao exterior? Eu morria de inveja e, confesso, muita vergonha, dos estrangeiros que sacavam seus reluzentes, e inexistentes para nós, cartões de crédito internacionais.
Ah, e as passagens de avião, em talões com várias folhas preenchidas com papel carbono (alguém com menos de 40 anos sabe o que é papel carbono?), onde as últimas folhas eram totalmente inelegíveis? Hoje, basta um clique no celular ou um código com poucos números e letras, e o check-in é feito.
Coisa mais comum, e ridícula, do que aquelas buchas de palha de aço (Bombril era a marca mais conhecida) enfiadas nas antenas telescópicas dos aparelhos de TV? Sonhar com decodificadores, sistema 4K, wifi etc. nem o mais apaixonado leitor de Júlio Verne ousaria imaginar há poucas décadas.
Vimos o homem projetar, construir, operar e aposentar um avião de passageiros mais veloz do que o som. Lembrei disso há quatro anos ao avistar o único Concorde remanescente, inutilmente estacionado no aeroporto Charles de Gaulle, próximo de Paris. Belo exemplo de que o homem pode e deve ser humilde para recuar ao perceber que deu um passo maior do que as pernas. Com a passada correta, a nossa brasileiríssima Embraer, hoje, disputa mundialmente o mercado aeronáutico.
Nos colégios, todos os quadros negros eram negros e o giz era branco. Os quadros negros ficaram verdes e o giz colorido foi evolução que durou pouco, sendo superados pelas lousas brancas magnéticas e canetas marcadoras coloridas. Por sua vez, esses estão sendo ultrapassados por notebooks e tablets.
Discos de vinil, fitas cassetes, CD’s, pen drives, tudo ficou para trás com o tal “streaming”. Saudade nenhuma dos telegramas nas datas dos aniversários, ou comunicados de morte, que há muito tempo deixamos de usar. Existe coisa mais obsoleta do que cartões de Natal? E a boa qualidade e os belos designs dos eletrodomésticos, que nada devem aos estrangeiros. Os hotéis e resorts, os modernos automóveis, as nossas bebidas tupiniquins: espumantes, vinhos e até gim! Tudo de primeira. Não quero nem lembrar da evolução do agronegócio, capaz de alimentar toda a população mundial, nem da autossuficiência na produção de petróleo e uma das mais modernas indústrias petroquímicas. Já ouviram falar em Embraer? O mundo inteiro já, e compra aviões ali fabricados.
Os exemplos são muitos e estão em toda parte, basta olhar, ver e escutar. Ou ficar alimentando o pessimista complexo de vira-latas.
Ser a oitava economia do mundo é pouco?
Poderíamos estar mais evoluídos, com melhor distribuição de renda, sem desigualdades sociais? Sim, poderíamos. Claro que sim. Qualquer coisa sempre pode melhorar, é óbvio. Mas, daí a ouvir pessoas enchendo a boca “só no Brasil, mesmo”, dizendo que o país ainda é muito atrasado e que não evoluímos nada? Me poupem! É uma grande burrice, falta de atenção ou má vontade. Ou as três coisas juntas.

