Um dos santos mais pops do sincretismo religioso, São Jorge está nos altares, nas camisas, nas letras de música e nos botecos. Com direito a feriado neste 23 de abril desde 2008, o santo é celebrado desde o nascer do sol, com as alvoradas, até a noite, com missas, feijoadas e rodas de samba.
Nesta terça-feira, as missas na Igreja Matriz do Santo Guerreiro, em Quintino, Zona Norte do Rio, começam antes do amanhecer, às 3h30, e seguem com a tradicional queima de fogos da Alvorada de São Jorge às 5h. O momento de fé e devoção será mantido durante todo o dia até as 20h30, com missas a cada hora. A procissão será às 16h. A programação completa pode ser conferida por meio das redes sociais da paróquia.
Venerado também pelos donos de bares e botequins, as homenagens ao Santo Guerreiro seguem marcando presença com as tradicionais feijoadas. Na Cadeg, em Benfica, 13 estabelecimentos oferecem o típico prato brasileiro, com preços que varia de R$ 30 (individual) a R$ 120 (para mais pessoas). O Mercado Municipal do Rio terá também um altar com flores e a imagem de São Jorge para os clientes que quiserem fazer suas orações e acender velas.
E entre os milagres cariocas na cota de São Jorge está a feijoada branca do Bar da Frente, na famosa Rua Barão de Iguatemi, na Praça da Bandeira. Iguaria fina — e rara — tem as melhores carnes da receita tradicional, mas cozidas no feijão branco. É tão bom, que a dona do pedaço, Mariana Rezende, só faz o prato em dias especiais, como a Quarta-Feira de Cinzas e, claro, o Dia de São Jorge, mundialmente conhecido como o dia da Feijoada Carioca.
Rodas de samba
Como no Dia de São Jorge não pode faltar batucada, as escolas de samba do Rio também prepararam programação especial para festejar a data. No Salgueiro, os devotos vão ter direito a um farto café da manhã e, a partir do meio-dia, terão almoço com churrasco, ao som do grupo Caldeirão do Salgueiro.
Já Viradouro celebra o dia com feijoada, a partir das 14h, com várias atrações musicais, inclusive com a presença da Portela. Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente na secretaria da quadra, localizada na Avenida do Contorno, 16, em Niterói, pelo valor de R$ 30. O prato de feijoada, servido até as 17h, custa R$ 25.
Na Unidos de Padre Miguel, a celebração terá inicio com missa às 8h30. A entrada simples é R$ 10, se a opção for com a feijoada inclusa, servida às 13h, é R$ 25. Componentes com carteirinha da escola não pagam até as 15h. O endereço é Rua Mesquita, 08, Padre Miguel.
A Tuiuti prepara a feijoada de Jorge e a distribuição de kits no valor de R$ 120, que incluem a entrada no evento; cerveja e copo personalizados com as cores da escola; feijoada e cerveja liberada. A escola vai celebrar também com rodas de samba e convidados especiais, como Marquinhos Sathan e Luiz Camilo. A quadra da escola está localizada no Campo de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. As vendas ocorrem através do telefone (21) 97398-1021.
O Quilombo do Grotão, em Niterói, resgata o sincretismo religioso da data e terá apresentação da Roda de Samba de Ogum. O local está situado na Rua Maria Luiza Gomes da Costa, no Engenho do Mato, e abre às 12h30 e a música começa às 14h30. A entrada é R$ 35 e a feijoada, R$ 40.
Outro quilombo, o Sacopã, localizado na Rua de mesmo nome, na Lagoa, Zona Sul do Rio, oferece uma tarde de samba, cerveja e claro, a feijoada. O prato está disponível por R$ 50 por pessoa, com buffet livre até as 17h. A entrada custa R$ 20.
Também ligado ao carnaval, mas não necessariamente uma agremiação, o Baródromo, localizado no Maracanã, saudará São Jorge com uma especial roda de samba-enredo. A casa abrirá suas portas a partir das 12h, com entrada franca. O endereço do Baródromo é Rua Dona Zulmira, 41, Maracanã.
História do santo
Santo para a Igreja Católica e o orixá Ogum para as religiões de matriz africana, São Jorge traz mitos que se mesclam a figura do guerreiro que venceu o dragão com apenas uma lança, evocando atributos de força e proteção para seus devotos, bem como que a história da batalha com o dragão se estendeu pelo firmamento até a Lua.
Não é possível confirmar se ele existiu, de fato, ou não. Isso se aplica a muitos santos da antiguidade cristã. A tradição diz que Jorge teria nascido por volta do ano 280 d.C. na Capadócia, atual Turquia, e se mudou mais tarde para a região da Palestina. Ao longo da vida, ele se alistou no exército do Império Romano.
Jorge, que era cristão, foi morto em 303 d.C. porque teria se negado a matar e perseguir cristãos — uma ordem direta de Diocleciano, então imperador romano. Por esta razão, conta a história que Jorge foi decapitado no dia 23 de abril — data marcada para homenagens e maior devoção ao santo.
A memória dos cristãos que deram sua vida fez com que a figura de São Jorge se tornasse referência para mártires ainda nos séculos VI e VII. O santo foi adotado por ferreiros, cuteleiros e barbeiros portugueses da Irmandade de São Jorge de Lisboa, do século XIV. Na tradição nagô e iorubá, Ogum também é cultuado pelos ferreiros.
A inspiração em batalhas europeias elevou Jorge a padroeiro de Portugal e da Inglaterra. Os lusos o têm como santo de devoção desde 1385. Dom João I diz que Jorge intercedeu contra o Reino de Castela. Não por acaso, Lisboa tem no alto de uma de suas colinas as ruínas do Castelo de São Jorge.
Após a vinda da Família Real para o Rio de Janeiro, o culto a São Jorge, de quem Dom João VI era devoto, cresceu no estado. Assim, surgiram semelhanças entre o orixá dos escravizados e o santo dos colonos, com fortalecimento do sincretismo.
Em 1969, o Vaticano retirou São Jorge do santoral oficial da Igreja Católica, que justificou como mudança da celebração de festa litúrgica para ser de memória facultativa. Mas ele foi um dos tantos santos enaltecidos pelo Papa João Paulo II nas celebrações do Jubileu em 2000.
Fato é que Roma segue considerando Jorge o “padroeiro dos cavaleiros, soldados, escoteiros, esgrimistas e arqueiros”. E, por aqui, ele bate ponto na Marquês de Sapucaí, nos altares de bares, nos terreiros e onde quer que haja, fé, cultura e devoção.