No Dia Mundial dos Animais, celebrado neste sábado (4), uma preocupação tem chamado a atenção de tutores e defensores da causa no Rio. Somente em setembro, seis casos de animais baleados foram registrados na cidade, o que levou a Secretaria municipal de Proteção e Defesa dos Animais a estabelecer protocolos mais claros para contabilizar e acompanhar essas ocorrências.
Entre os episódios mais recentes, está uma cadela que foi atingida por um tiro na porta de casa no último dia 24, durante um confronto entre criminosos e policiais militares no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte. No dia seguinte (25), outro cachorro foi resgatado com ferimento de bala na favela Para-Pedro, em Irajá, depois de ter sido “jurado de morte” por traficantes da região.
‘Nem os animais escapam da violência’
Marcela Fernandes, de 32 anos, moradora da Tijuca, na Zona Norte do Rio, olha com preocupação esses números. Ela, que é tutora de uma cadela chamada “Bolota”, destaca como na cidade nem mesmo os animais têm escapado da violência.
“É assustador pensar que, no Rio, precisamos nos preocupar com a violência contra nossos animais, assim como nos preocupamos com a nossa segurança. Bolota é parte da minha vida, e saber que ela pode estar em risco por causa dos tiroteios mostra a gravidade do momento que estamos vivendo”, afirma Marcela.
‘Os animais também não têm culpa’
Fábio Costa, de 38 anos, tutor do “Flocos”, possui uma visão semelhante. Morador de Vila Isabel, bairro da Zona Norte que tem sido alvo de ações policiais e confrontos criminosos este ano, ele enfatiza a importância de ampliar as políticas públicas voltadas aos animais.
“Assim como nós, os animais também não têm culpa, mas sofrem as consequências da nossa falta de políticas para conter a violência no Rio. A gente não deveria precisar se preocupar em sair para levar nosso animal à rua e correr o risco de ele ser baleado”, diz Fábio.
Prefeitura anuncia protocolo para acompanhar os casos
Diante do aumento de casos, a Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais anunciou que, além de contabilizar os incidentes, criará um protocolo de atendimento para animais atingidos por armas de fogo. Segundo o secretário da pasta, Luiz Ramos Filho, a medida é uma resposta direta ao problema crescente na cidade.
“Observamos que a incidência de animais baleados vem aumentando de forma alarmante. A partir de agora, vamos adotar novos procedimentos: contabilizar e comunicar à polícia todos os casos. Nossos veterinários têm atuado como médicos de guerra, salvando vidas inocentes. Sem contar os casos que nem chegam a ser resgatados, porque os animais já foram mortos e seus corpos nem sempre são encontrados”, afirmou Luiz Ramos Filho.
Com a medida, hospitais veterinários deverão informar à prefeitura todos os casos de animais feridos por bala que atendam. Além disso, denúncias recebidas pelo telefone 1746 também serão incluídas nas estatísticas. Após o tratamento, os animais feridos serão encaminhados para adoção.
Rio lidera ranking de casos de animais baleados
O Instituto Fogo Cruzado acompanha casos de animais baleados em todo o Brasil. Dados atualizados indicam que, de 2016 até setembro deste ano, foram contabilizados 100 casos nas regiões metropolitanas dos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Pará.
A Região Metropolitana do Rio é a mais afetada, com 28 mortos e 33 feridos, representando mais de 50% do total. Ainda segundo o Fogo Cruzado, os cães são as principais vítimas, com 82 casos, seguidos por seis cavalos, quatro capivaras, três gatos, três papagaios, um jacaré, um macaco-prego e uma tartaruga.