Na última semana, foi realizada a pré-temporada e a apresentação das equipes e pilotos para a temporada 2025 da Fórmula 1 — com direito ao Brasil de volta ao grid, com Gabriel Bortoleto (Kick Sauber), além do Grande Prêmio de São Paulo, em novembro. No entanto, o Rio de Janeiro ficará mais um ano sem ouvir o ronco dos motores da principal e de qualquer outra categoria do automobilismo.
O Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, foi fechado — e consequentemente demolido — em 2012 para dar lugar ao Parque Olímpico. Além da Fórmula 1, o local recebeu outras importantes competições como a Fórmula Indy (em uma inédita versão oval do circuito), a MotoGP, a Stock Car Brasil, dentre tantas outras.
Desde então, várias promessas que não foram cumpridas e a morte lenta do esporte a motor na capital fluminense, ao longo de mais de uma década. O primeiro projeto pós-Jacarepaguá foi o do Autódromo de Deodoro, também na Zona Oeste, mas que jamais saiu do papel por incontáveis problemas ainda na fase de concepção.
Em 2019, os então prefeito da cidade e presidente da República, Marcello Crivella (REP) e Jair Bolsonaro (PL), anunciaram que a etapa brasileira da Fórmula 1 aconteceria no suposto autódromo de Deodoro, a partir do ano seguinte. No entanto, como é de conhecimento público, a corrida segue no circuito de Interlagos, em São Paulo, até os dias de hoje, enquanto Deodoro permanece sendo um terreno baldio.
A mais recente esperança da ressureição do automobilismo no Rio continua na Zona Oeste, mas em Guaratiba. A criação do espaço, proposta pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), foi aprovada, no ano passado, pela Câmara de Vereadores. Resta aguardar se irá se concretizar ou o projeto vai sequer irar sair dos boxes.
A opinião de quem sabe
Bruno Junqueira foi piloto de testes da equipe Williams, na Fórmula 1, além de três vezes vice-campeão da Fórmula Indy (2002-2004). Ele lembrou com carinho do antigo Autódromo de Jacarepaguá e lamentou que o Rio não tenha mais um autódromo para chamar de seu.
“Um dos autódromos mais legais que já teve no Brasil. Um circuito longo, muito técnico, que eu gostava muito. Tive a felicidade de correr e treinar várias vezes, ganhar corridas. É uma pena que a segunda maior cidade do brasil, celeiro de grandes pilotos, não tenha mais um autódromo há muitos anos. A gente espera que possa voltar a ter um dia”, disse.
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Junqueira mantém a esperança de um dia voltar a acelerar no Rio e deu uma sugestão interessante: um circuito em meio ao Parque Olímpico, onde ficava o antigo autódromo. A solução é semelhante à que existe em Sochi, na Rússia, por exemplo, e que chegou a receber corridas de Fórmula 1.
“A gente sempre vê os planos e as coisas nunca acontecem. Quem sabe um dia fazer uma pista no espaço [do antigo autódromo]. Acredito que ainda tenha espaço para fazer uma pista lá. Espero que, bem breve, a gente tenha um lugar para voltar a acelerar no Rio de Janeiro”, completou.
Autódromo de Guaratiba
De autoria do Poder Executivo, a proposta do Autódromo de Guaratiba estabelece um trecho situado próximo à estação de BRT Mato Alto, entre a Avenida Dom João VI e a Estrada da Matriz, como local de construção. O projeto ainda determina diversas intervenções na região, como a criação de novas estações de BRT e incentivo a atividades culturais e shows quando não estiverem acontecendo corridas.
A medida prevê ainda a realização de uma Operação Urbana Consorciada e estabelece mecanismos legais para obtenção de arrecadação de investimentos financeiros. Isso ocorrerá por meio da Transferência do Direito de Construir (TDC), de modo a permitir que a iniciativa privada direcione os recursos para a execução de seus objetivos e contrapartidas.
“O Rio não pode ficar de fora do universo do automobilismo, que movimenta mais de R$ 1 trilhão no mundo todo por ano. E a cidade do Rio precisa cumprir o compromisso assumido nas olimpíadas e ter o seu autódromo. É um equipamento que movimenta a economia, traz empregos e também proteção ambiental para Guaratiba”, disse o presidente da Câmara, Carlo Caiado.
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Entre as emendas aprovadas está a destinação de um lote para construção de uma unidade de educação infantil e outro espaço para criação de um equipamento de esporte e lazer com livre acesso à população, ambos com com acesso pela Estrada da Matriz.
Financiamento privado
Eduardo Paes anunciou que o Autódromo Parque de Guaratiba será construído em parceria com a iniciativa privada. “Sem recursos do IPTU, ISS, sem tirar dinheiro da Saúde e Educação”, garantiu.
Ao destacar a importância do projeto para a economia, turismo e preservação do meio ambiente, o prefeito destacou que o Autódromo Parque será usado ainda como área de lazer. “Vai ser mais do que uma pista, será um aliado na preservação, um equipamento guardião”, prosseguiu.
Automobilismo carioca
De acordo Sérgio Dias, engenheiro que havia apresentado a proposta na Câmara, o projeto do Autódromo de Guaratiba inclui um plano de replantio, e a manutenção de uma área de preservação permanente e um manguezal em cerca de 43 mil metros quadrados da área, que totaliza pouco mais de 2 milhões de metros quadrados.
O primeiro esboço da pista conta com um traçado de 5,020 km de extensão, 5 mil metros quadrados destinados para a área dos boxes, com 23 garagens, outros 3,981 mil metros quadrados para o paddock. A previsão é que as arquibancadas tenham capacidade de receber até 18,6 mil pessoas.
Tema de diversas audiências públicas e reuniões, o projeto supre uma demanda antiga na cidade. O Rio de Janeiro está sem uma pista para competições de automobilismo desde 2012.
“Dada a relevância do Rio de Janeiro no cenário esportivo mundial, e principalmente como ponto turístico nacional, existe a carência de um novo autódromo na cidade que possa receber grandes eventos internacionais novamente”, argumentou a prefeitura na justificativa da proposta.
A construção de autódromos, contudo, contraria a atual tendência mundial. As principais categorias do esporte a motor têm priorizado pistas de rua, através de estruturas móveis, como, por exemplo, o Grande Prêmio de Las Vegas, de Fórmula 1, nos Estados Unidos.
Por outro lado, pistas permanentes têm sido demolidas, como o autódromo de Fontana, nos Estados Unidos, onde Gil de Ferran sagrou-se campeão da Fórmula Indy, em 2000.