O mundo gira e a Terra — até para quem acha que ela é plana — capota. Pelo menos, na política. Pois não é que o deputado federal Otoni de Paula (MDB), cabo eleitoral para lá de assumido do prefeito Eduardo Paes (PSD), teve um encontro muito amigável com o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União), na última segunda-feira (22)?
Para quem não está ligando os nomes à sucessão no governo estadual, Paes e Bacellar são os dois pré-candidatos já postos na mesa da política regional para a disputa do ano que vem. E são adversários.
Otoni ainda elogiou Bacellar em discurso na Câmara
E Otoni não só conversou cordialmente com Bacellar, como ainda elogiou o presidente da Assembleia, no dia seguinte, ao microfone do plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.
“Eu gosto de pessoas que têm coragem, coragem de enfrentar aquilo que precisa ser enfrentado, que é a questão do crime organizado no Rio de Janeiro. Quero parabenizar o deputado Bacellar, presidente da nossa Assembleia Legislativa, e todos os deputados da nossa Alerj, que aprovaram um grande pacote de segurança pública para o nosso estado. A Alerj não está se colocando de fora da discussão do projeto de segurança pública. Aliás, todos os poderes precisam estar unidos para salvar o Rio de Janeiro dessa bandidagem. Parabéns, presidente Bacellar, pela sua coragem em enfrentar esse tema”, disse.
Política civilizada? Tem sim, senhor.
Nada como um bom camarote na política fluminense, onde os atores se revezam no palco com abraços falsos, elogios ensaiados e juras de “coragem” que não resistem ao primeiro sopro de conveniência. Rodrigo Bacellar e Eduardo Paes duelam de fachada, enquanto Otoni de Paula — o “rei do desembarque” — já mostrou que palavra não é sua moeda, mas sim a conveniência do momento.
A cena é tragicômica: quem até ontem chamava de inimigo, hoje chama de corajoso. Quem ajudou, é descartado sem cerimônia. Quem jura lealdade, troca de lado como quem troca de paletó. É a política da “última coca-cola do deserto”, onde velhacos se acham insubstituíveis, e bobos da corte aplaudem esperando migalhas de poder.
O PL acerta em esperar 2026. Até lá, a maquiagem da “civilidade política” vai derreter, revelando que por trás dos discursos de bravura só há o velho jogo de interesse, vaidade e desprezo pelo povo.
O que está em jogo não é salvar o Rio, mas salvar projetos pessoais de poder. E enquanto isso, a população continua no papel de plateia desse circo decadente