O animadíssimo bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, está em clima de comoção. O motivo? Pão. Sim, pão. Daqueles que se come com manteiga, ricota ou mesmo com um doce creme de avelã. Na iminência de perder um dos pães mais queridos da região para a Barra da Tijuca, moradores de Botafogo estão terrivelmente contrariados.
O João Padeiro abriu suas portas pela primeira vez, na Rua Arnaldo Quintela, em junho de 2019 — e ganhou a vizinhança pelo estômago com seus pães artesanais de fermentação prolongada, natural e de alta hidratação. Mas uma informação que circulou nos últimos dias já trouxe desgosto antecipado à clientela.
“João” soube de um lugar que seria o “Eldorado carioca”, também conhecido como Barra da Tijuca, onde haveria mais pessoas ávidas por seu produto. Fez as suas malas e anunciou a partida, causando um reboliço geral no bairro de origem.
Diante da comoção, os donos do espaço tentam despistar, dizendo que “não é bem assim”. Ronaldo Passos, até confirmou que a nova loja, na Barra, deverá abrir em outubro e que que a saída de Botafogo não está descartada. Mas jura que a intenção, inicialmente, é seguir com as duas.
“Não está definido que iremos sair daqui. Estamos pensando nos dois lugares. A receptividade em Botafogo é muito boa, o Adriano [outro sócio] e eu estamos sempre na beira do balcão. O feedback sempre é o melhor. As pessoas vêm nos visitar e indicam para a família e amigos”, comentou.
Lamentação total
Um morador da Rua Álvaro Ramos, conhecido na redondeza como seu Soares, está inconsolável. Ele afirmou que, logo que as notícias da mudança do João Padeiro começaram a circular, ficou tão ressentido que trocou seus pães preferidos pelos dos concorrentes.
“Desde que eu soube da notícia de que o João iria para a Barra e fechar em Botafogo eu nunca mais comprei. Ia de três a quatro vezes na semana, mas agora só compro nos concorrentes”, lamuriou.
Já o jornalista Cláudio Uchoa mora em Botafogo há 20 anos e destacou que a Rua Arnaldo Quintela, onde fica o João Padeiro, foi considerada uma das 10 mais charmosas do mundo pela revista Time Out. Assim, não entende o motivo de cogitarem sair dali.
“Desde o início, os produtos são de muita qualidade. Sou muito fã da baguete com grãos e de outros produtos. Eles têm esse carimbo de um lugar bacana. A Barra, sei lá, não é muito Rio. É um lugar que tem uma cultura de shopping center, é outra parada”, afirmou.
Raízes no bairro
O morador de Botafogo, nos últimos anos, apurou seu padalar ao apreciar pães diferenciados. Além do João, outra padaria artesanal “queridinha” da vizinhança é a The Slow Bakery, que fica na Rua General Polidoro. O espaço tem quase uma década e produz mais de 15 tipos de pães, totalizando aproximadamente 800 unidades por dia e oito toneladas ao mês.
Embora também tenha explorado novos terrenos, abrindo filiais em outros povoados, seus clientes sublinham que a Slow jamais cogitou em deixar a localidade, onde também funciona sua fábrica. Apesar da extensa oferta de padarias artesanais, o padeiro e fundador do estabelecimento, Rafael Brito Pereira, elogiou seus concorrentes e destacou que há espaço para todo mundo.
“A Slow foi a primeira padaria do Brasil especifcamente de fermentação natural. Existe há 10 anos e a fábrica em Botafogo tem nove. Todo dia, às 5h45, estou em Botafogo fazendo pão. É o lugar que eu gosto, é onde meus funcionários moram e há essas trocas. Além disso, no fim de semana, recebo clientes de outros bairros e até mesmo outros países”, orgulhou-se.
Com toda essa comoção, fica evidente que Botafogo não só mantém a tradição de tomar um café acompanhado de pão quentinho ao fim da tarde, mas também tem olhos muito atentos a cada detalhe na produção da iguaria. Assim, independentemente de quem fabricar, um delicioso pãozinho, preparado com todo o esmero, amor e carinho, é capaz de encantar em qualquer bairro.
Uma pena mesmo! Não vou até a Barra nem para comprar o meu croissant de pistache!
João Padeiro na Barra ??? Quase traição .