A Polícia Civil investiga uma abordagem feita por dois militares a quatro jovens, sendo três deles negros e estrangeiros, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. Os pais dos adolescentes fizeram uma denúncia de racismo na Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat).
Os jovens são filhos de diplomatas do Gabão, Canadá e Burkina-Faso e passam férias no Rio de Janeiro. A embaixatriz do Gabão Julie-Pascale Moudouté, mãe de um dos adolescentes, relatou estar “chocada” pela situação. Câmeras de segurança flagraram o momento em que a viatura para e os agentes saem, apontando armas para os rapazes.
No momento da abordagem, os rapazes entravam no prédio onde um deles mora. os policiais revistaram os adolescentes e deixaram o local em seguida. A mãe do rapaz branco que integrava o grupo, Raiana Rondhon, publicou um relato em suas redes sociais e criticou a abordagem.
“Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Após a abordagem desproporcional, testemunhada pelo porteiro do prédio, é que foram questionados de onde eram. Os três negros não entenderam a pergunta, porque são estrangeiros. Após ‘perceberem’ o erro, liberaram os meninos, mas antes alertaram às crianças que não andassem na rua, pois seriam abordados novamente”, disse Raiana.
PM analisará câmeras
A Polícia Militar informou que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes. Disse ainda que, em todos os cursos de formação, insere nas grades curriculares disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais para as praças e oficiais que integram o efetivo da Corporação.
Comissão de Direitos Humanos atende jovens
A Comissão de Defesa dos Direiros Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa (Alerj) atendeu os jovens. Membros da Comissão irão, neste primeiro momento, acolher as vítimas e familiares. E, para a proteção dos envolvidos, a CDDHC irá oficiar a Polícia Militar.
Será questionando quais medidas serão tomadas, se os agentes envolvidos no episódio responderão a processo administrativo disciplinar e quais os protocolos estão sendo adotados a fim de garantir a segurança das vítimas e familiares, além dos protocolos utilizados pela corporação nesse tipo de abordagem cotidianamente nas ruas do Rio.
“É inaceitável que abordagens racistas ainda ocorram no Rio de Janeiro a partir das forças de segurança. Este é mais um exemplo das experiências diárias enfrentadas por jovens negros no estado. A ação da Polícia Militar é caracterizada pela violência direcionada à população negra, utilizando força excessiva de imediato, mesmo quando se trata de filhos de diplomatas em um bairro nobre”, disse a deputada Dani Monteiro (PSOL), presidente da comissão.