No último fim de semana, políticos do Rio embarcaram na trend das redes sociais de criar ilustrações inspiradas no estilo das animações japonesas do Studio Ghibli, utilizando inteligência artificial (IA). Com a ajuda da ferramenta de geração de imagens GPT-4, da OpenAI, eles se transformaram em personagens de anime e logo ganharam destaque entre seus públicos.
Entre os que aderiram à moda estão o governador Cláudio Castro (PL), os prefeitos Eduardo Paes (PSD), do Rio, Dr. Serginho (PL), de Cabo Frio, Rodrigo Neves (PDT), de Niterói, e Washington Quaquá (PT), de Maricá. A ideia é se aproximar do público, mas também entrar na onda viral de algo que, por um lado, tem sido visto como divertido, e, por outro, tem gerado debates acirrados sobre ética e direitos autorais.
O Studio Ghibli é um famoso estúdio de animação japonês, conhecido por produções como “A Viagem de Chihiro”, “Meu Amigo Totoro” e “Princesa Mononoke”. Fundado em 1985 por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, o estúdio se destacou por criar filmes animados com forte apelo emocional e visual, misturando fantasia, aventura e temas profundos sobre a natureza, a vida e a sociedade.
A febre deste fim de semana
O governador Cláudio Castro, por exemplo, compartilhou imagens de si mesmo ao lado de agentes do programa Segurança Presente, e em outros momentos aparentemente mais sérios. Mas é claro, com aquele toque leve e irreverente que só a estética do anime consegue oferecer. “Trago nessas fotos o que realmente importa”, disse ele sobre as imagens escolhidas.

Eduardo Paes não ficou de fora e também recorreu à IA para recriar cenas em que aparece ao lado do novo BRT e no Terminal Intermodal Gentileza, na Região Central do Rio. Além disso, o prefeito, conhecido por seu jeito descontraído, aparece com seu famoso casaco do Vasco da Gama e, claro, com o icônico Cristo Redentor ao fundo, um dos maiores símbolos da cidade.

Do outro lado da ponte, Rodrigo Neves também entrou na brincadeira. O prefeito de Niterói se representou em imagens ao lado da vice-prefeita Isabel Swan (PV) e até com a Guarda Municipal da cidade. O prefeito usou a tendência para destacar suas ações, principalmente nas áreas de educação e segurança pública.

Já o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho, aproveitou o clima descontraído da tendência para recriar imagens de sua famosa participação nas redes sociais como “Serginho do Rap”, vídeo que viralizou, no qual ele enfatiza a proibição das caixas de som em Cabo Frio. Além disso, destacou suas ações envolvendo a preservação ambiental e o carnaval de sua cidade.

Em Maricá, Washington Quaquá fez questão de destacar suas apostas para 2025: o carnaval e o futebol. O prefeito também usou a IA para recriar sua imagem ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segurando o seu livro “Diálogos com a Utopia”. Até sua família entrou no anime.

Debate ético
Esse fenômeno viral gerou discussões além da diversão. Por trás da brincadeira, a questão dos direitos autorais e da ética na utilização da inteligência artificial para replicar estilos tão distintivos e reconhecíveis, como o do Studio Ghibli, começou a surgir na redes sociais.
A crítica gira em torno do uso de IA para imitar e reproduzir uma arte que é minuciosa, manual e carregada de significados. Isso sem mencionar as declarações de Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, que, em um documentário de 2016, se mostrou contra o uso de IA na criação artística, chamando-a de “insulto à própria vida”. O vídeo também voltou a viralizar no último fim de semana.
Vereadoras arquivam a trend
Esse debate chegou até mesmo ao Legislativo da cidade. Duas vereadoras do Rio, Thais Ferreira (PSOL) e Maíra do MST (PT), chegaram a participar da trend, mas, após ouvirem os argumentos das críticas, decidiram arquivar as postagens. Ambas publicaram a decisão de retirar as publicações nas redes sociais, o que gerou ainda mais discussões sobre os direitos autorais e a valorização de quem realiza esses trabalhos.
Em seu perfil no Instagram, Thais Ferreira enfatizou que, “em respeito à expressão artística genuína”, percebeu que essa trend contrariava os princípios do próprio Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, e prejudicava outras pessoas que vivem da sua arte. Por isso, decidiu arquivar o post.
“Agora, quero compartilhar uma arte do filme do Studio Ghibli que meus filhos mais gostam, além de destacar outros artistas que admiro. Convido você a fazer o mesmo: marque nos comentários um artista que você admira e aprecia o trabalho”, completou na legenda.
Já Maíra do MST informou no Instagram que decidiu arquivar seu post, que participava da tendência com um vídeo de @lilianfarrish, e ressaltou que o debate é extremamente pertinente. Segundo a parlamentar, a mobilização de cartunistas, designers e ilustradores digitais em relação à trend foi crucial para ampliar a sua percepção sobre o assunto.
“A partir disso, conversei com diversos artistas com quem tenho contato e tive certeza de que é urgente debater a regulamentação das IAs e a questão dos direitos autorais, para que o trabalho artístico seja valorizado da maneira que merece”, afirmou.
Como entrar na trend
Para recriar ou criar imagens com o ChatGPT, comece escolhendo uma imagem de boa qualidade, essencial para gerar resultados precisos. Em seguida, faça o upload da imagem na plataforma, estando logado em sua conta.
Depois, forneça uma descrição detalhada no prompt (comando), incluindo os elementos da imagem e quaisquer modificações desejadas, como mudanças no fundo ou no estilo. Por exemplo, peça para recriar a imagem no estilo de animação japonesa, como o do Studio Ghibli.
Por fim, revise a imagem gerada e, se necessário, solicite ajustes nas cores, detalhes ou composição até que o resultado esteja de acordo com suas preferências.