“O Beto e o Bernard, se vocês não sabem, eles dois, com toda a sua equipe de coordenação, é que fizeram o Valdecy da Saúde um dos mais votados do Estado do Rio de Janeiro”, disse o próprio deputado Valdecy, no palanque de um evento, em 2022, em agradecimento por sua reeleição à Assembleia Legislativa do Rio.
Os citados eram Bernard Rodrigues Soares e Roberto Pinto dos Santos, presos pela Polícia Federal nesta quinta-feira (12) pela operação Teatro Invisível, que mirou numa quadrilha especializada em divulgar notícias falsas contra candidatos. O vídeo estava nas redes sociais e sua reprodução abriu a reportagem do “Fantástico” deste domingo (15) sobre o funcionamento do esquema que, desde 2016, já atuou em 13 municípios do Rio. Contratada por políticos, a quadrilha recrutava atores para influenciar na escolha dos votos. Uma tática antiga — mas, agora, com estrutura de empresa.
A reportagem reproduz documentos que fazem parte da investigação da Polícia Federal. Como orçamentos apresentados a políticos, descrevendo os “serviços” oferecidos. No texto, explicavam que o Teatro Invisível consistia num “grupo de atores e atrizes que realizam ações de rua direcionadas, com o objetivo de construção ou desconstrução de imagens”.
Também há referência aos valores pagos às equipes (coordenadores recebiam R$ 5 mil e os atores, chamados de “agentes de ação”, R$ 2.500). Havia a produção de relatórios, nos quais notificavam o número de pessoas abordadas e até o de “pessoas convertidas”. Tudo preenchido segundo orientações que Bernard dava por mensagens de voz. A PF teve acesso a um arquivo denominado “Valdecy Campanha Teatro”, que registra um gasto total de R$ 55.600 por grupo.
“Para ver o grau de sofisticação do esquema, além do contrato, com metas a serem alcançadas, havia a elaboração de relatórios diários”, contou delegado Bruno Belo, da Polícia Federal.
“Era uma ação capaz de mudar a eleição?”, perguntou o repórter. “Exatamente”, respondeu o delegado.
A quadrilha também inventava notícias, como a falsificação de uma postagem do G1 que ligava o deputado estadual Léo Vieira, do Republicanos, ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Ou um vídeo falso, que mostra o apresentador William Bonner, do “Jornal Nacional”, lendo uma notícia que nunca existiu. A voz de Bonner, neste caso, foi criada com o uso de um programa de computador.
Leo Vieira é o principal adversário de Valdecy na disputa pela Prefeitura de São João de Meriti.
Além de espalhar falsas notícias, o grupo é acusado de desviar recursos públicos. Os integrantes eram nomeados em cargos de confiança em vários municípios.
Os advogados de Bernard e Roberto responderam ao “Fantástico” negando a participação dos dois em atos de propagação de notícias falsas. Valdecy informou, em nota, que “não é investigado no inquérito e não possui relação com os fatos”. Léo Vieira disse que “a atuação da Polícia Federal e do Poder Judiciário é um sinal de esperança para que futuras eleições sejam pautadas pela transparência e pela integridade”.
A Polícia Federal agora corre contra o tempo para saber quem contratou os serviços do Teatro Invisível. Porque, como bem lembrou a reportagem do “Fantástico”, a Justiça Eleitoral pode até cassar candidaturas antes mesmo da realização do primeiro turno.
Queria ver terem coragem de investigar a campanha de 2022 do Freixo, suspeita de contratar atores fantasiados de caça-fantasmas e provavelmente sem prestar contas a justiça eleitoral.