Ultimamente, o caso do banco Master não sai dos noticiários. Já há algum tempo, o mercado comentava que aquele banco vinha captando recursos através da venda de papeis de renda fixa. No caso CDBs. Até aí, nada demais. Acontece que ele vem oferecendo retornos muito maiores do que a média do mercado pelo mesmo tipo de aplicação. Atraídos pelas altas remunerações, os clientes aumentaram e, aos mais desconfiados, era informado estarem as aplicações inferiores a R$ 250 mil garantidas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Para quem não lembra, eu recordarei.
Esse fundo foi criado, em 1995, após a falência de dois grandes bancos: o Nacional e o Econômico. Aquelas insolvências geraram uma enorme crise de confiança no sistema financeiro brasileiro, provocando uma onda de saques bancários com consequente perda de depósitos. Para debelar a crise, em novembro daquele ano, o Conselho Monetário Nacional criou o tal FGC, tendo como função primordial proteger os correntistas, poupadores e investidores em caso de falência de instituições financeiras associadas ao fundo. Beleza. Proteção aos clientes dos bancos? Lindo. Ficamos felizes. Enfim, alguém se preocupou conosco, o povão. Meus pés saíram do chão e levitei de alegria. Mas — e lá vem a danada da conjunção adversativa para criar dúvidas — seria isso mesmo?
A crise do Master, como se desconfiava, apareceu. O Banco Central já cuida do assunto e analisa saídas para o problema, inclusive a aquisição do mesmo por outros bancos, ou seja, a solução já está encaminhada. Então, qual a razão de eu estar escrevendo sobre esse assunto já praticamente resolvido? A minha curiosidade? Sim, e vou explicar.
Esse caso despertou a minha curiosidade acerca do funcionamento do tal FGC. Bancos reduzirem suas margens, fazerem aportes financeiros e administrarem um fundo apenas para dar garantias aos seus clientes mais pobres, com menos de R$ 250 mil investidos? Será que todos os malefícios que parte da população debita às casas bancárias não passariam de calúnias preconceituosas? As adesões ao FGC mostrariam cabalmente que os bancos não eram tão egoístas pensávamos? Muito bom para ser verdade. Fiquei não com uma pulga atrás da orelha, mas com centenas delas infernizando atrás, no meio e na frente das duas orelhas. É o tal caso de a esmola grande fazer o cego desconfiar.
Torcendo para minhas suspeitas serem infundadas, fui pesquisar e, com zero surpresa, fiquei sabendo que esse tal Fundo Garantidor de Créditos é mantido pelos próprios segurados, pelos aplicadores. Risco zero para os bancos! Não entra um único centavo do patrimônio dos bancos, nem afetam os seus lucros anuais. Os seus recursos provêm de taxas cobradas aos clientes e criadas com essa finalidade. É um autosseguro! Ou seja, em linguagem simples e clara, os clientes bancam os seus próprios ressarcimentos no caso de falência da instituição financeira.
Resumindo, o cliente paga para comprar a quota do CDB, paga o seguro que garantirá a sua remuneração no caso de falência do banco e pagará o imposto devido quando receber o rendimento da aplicação. Atribuída ao economista e prêmio Nobel, Milton Friedman, a frase “não existe almoço grátis”, mais uma vez, se mostrou verdadeira.
Agora, sim, com a minha curiosidade saciada, a utopia acabou e tudo voltou a fazer sentido. As coisas retornaram aos seus lugares de sempre. A minha levitação acabou e eu voltei a apoiar os pés no chão da pátria mãe querida: Brasil.
Rio, 2025
Hahahahaha, excelente! Tirou uma dúvida que nem sabia que eu tinha.