A advogada Gabriela Macedo evita sair do escritório, no Centro do Rio, muito tarde — e não por medo de assalto. Mas, dos ratos. Gabriela tem que desviar de famílias inteiras de roedores, no três quarteirões que atravessa até o Edifício Garagem Menezes Côrtes, na Avenida São José, onde costuma deixar o seu carro.
“É assustador. À noite, eles saem em grupo, principalmente proximidades do edifício garagem. Nem correm mais quando veem a gente”, conta.
A Comlurb, órgão responsável pelo combate aos dentuços nojentos que vivem em áreas públicas informa que, de janeiro a novembro deste ano, o serviço de Controle de Vetores e Pragas atendeu a 20.711 solicitações (19.867 para controle de roedores, 822 para coleta de caramujos africanos e 22 para outras pragas).
Mas é pouco. Que o diga a administração do Menezes Côrtes.
“Somos todos afetados, prédios, condomínios, comerciantes, transeuntes etc. O poder público precisa dar mais atenção a esta questão. Nosso circuito interno de segurança, com mais de 190 câmeras, não tem registro de imagens de roedores dentro do prédio. Mas fora… Acreditamos que a proliferação está diretamente ligada a quantidade de comida jogada nas ruas”, explicou, em nota.
Mas os bichos que andam fora, às vezes entram. Principalmente nos edifícios com grande concentração e rotatividade de pessoas, como nos prédios públicos.
Ratos já deram muito trabalho à Câmara de Vereadores, na Cinelândia. Foi preciso um intenso trabalho de prevenção para controlar a infestação, que, lá pelos idos de 2015, era notícia dia sim, outro também. Hoje já não se vê os cinzentos percorrendo os corredores do Palácio Pedro Ernesto.
Mas ficou a lição. O novíssimo Edifício Serrador, que ainda está em obras para receber servidores e parlamentares cariocas, já tem regras rígidas. Alimentos só podem ser manuseados nas copas — existe uma por andar, equipadas com geladeira, forno de microondas e demais eletrodomésticos. O belo prédio tem cinco andares ocupados (do 5º ao 9º) e quase 600 pessoas já dão expediente por lá.
A mesma estratégia está sendo adotada pela Assembleia Legislativa no velho e retrofitado Banerjão, construído na década de 60 e totalmente reformado em 2022. O edifício de 31 andares e 3 pavimentos no subsolo, no cruzamento da Avenida Nilo Peçanha com a Rua México, passou, recentemente, por uma desratização. Dedetização é coisa rotineira.
A Diretoria Geral expediu comunicado aos servidores determinando que não se faça mais nenhum tipo de alimentação nos setores. As copas coletivas nos andares foram temporariamente fechadas — toda a alimentação dos funcionários passou a ser feita no refeitório do 20º andar.
É guerra mesmo.
A Secretaria municipal de Saúde conta que a direção do Hospital Municipal Souza Aguiar faz dedetização e desratização periodicamente. Mas também põe iscas em pontos estratégicos do hospital, como subsolo, docas, dispensa, estacionamento, entre outros.
Outra medida que deu muito certo foi a retirada e o descarte regular de materiais permanentes considerados inservíveis. O cuidado com o descarte também é a estratégia mais usada no Fórum Central do Tribunal de Justiça.
“No caso de espaços permissionários ou sob cessão de uso, os responsáveis assumem as obrigações das respectivas áreas, caso, por exemplo, do restaurante do Senac”, explica, em nota.
Embora o Centro esteja assolado a olhos vistos, a Comlurb informa que Campo Grande é o bairro com o maior número de pedidos de desratização, com 7,20% das solicitações recebidas (1.492).
Imaginem como está a infestação no maior bairro do Rio…