A morte do pastor Luiz Kamp na rodovia Niterói-Manilha (BR-101), nesta segunda-feira (10), evidenciou ainda mais a preocupação com a violência entre motoristas e moradores da região. O trecho da rodovia, que atravessa os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, na Região Metropolitana, é conhecido por ser constantemente alvo de ações criminosas. Quem conhece, evita trafegar por ali à noite.
Além do pastor, o diácono Saulo Farias morreu no ataque a tiros. Eles eram membros da Igreja Nova Vida, em Nova Cidade. Outro diácono que viajava com eles foi baleado. Socorrido, foi operado no Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói. O crime ocorreu por volta das 21h43, no km 310, quando o Fiat Toro em que as vítimas estavam foi abordado por criminosos armados.
O desmonte das instituições de segurança e o aumento da violência
A BR-101 está sob jurisdição da Polícia Rodoviária Federal (PRF), mas o policiamento do entorno é de responsabilidade da Polícia Militar. O único batalhão responsável pela segurança de toda a cidade de São Gonçalo é o 7º BPM, que cobre os 228 km² do município e os 28 km da rodovia Niterói-Manilha. A unidade conta, no total, com 600 homens.
Desde a fusão dos estados do Rio de Janeiro com a Guanabara, em 1974, o número de policiais lotados na região foi reduzido drasticamente. Quarenta anos depois da fusão, quando só a população de Niterói havia crescido 50%, o efetivo da PM na cidade caíra de 3.200 homens para 800. Depois de muita grita, com o tempo e aos poucos, a tropa foi ganhando reforços — mas nunca chegou ao patamar anterior.
No início dos anos 90, um golpe mortal: o então governado Leonel Brizola transferiu o 11º BPM, que ficava em Neves, em São Gonçalo, para Nova Friburgo. A lacuna deixada no policiamento da região nunca foi preenchida, apesar das promessas e das mínimas providências adotadas depois de algum crime rumoroso.
Em 2007, o 3° Batalhão de Infantaria, prédio histórico construído nos anos 20 em Venda da Cruz, foi desativado e transferido para a cidade de Barcelos, no Amazonas — e lá se tornou o 3º Batalhão de Infantaria de Selva (3° BIS).
A União doou o imóvel e o terreno ao estado. No mesmo ano, a Assembleia Legislativa aprovou uma indicação para transformar o batalhão num quartel da PM, para “proporcionar maior segurança à população, bem como aproveitar o espaço em que já funcionava um órgão militar, com características necessárias à formação de profissionais de segurança pública”.
Mas nada foi feito e tudo mudou em 2010, quando fortes chuvas levaram a um deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói, provocando a morte de 267 pessoas. O quartel do antigo Batalhão de Infantaria foi um dos locais escolhidos para receber os desabrigados. O governo estadual pressionou a Prefeitura de São Gonçalo e a Câmara Municipal aprovou o destombamento do 3°BI, para que o terreno fosse usado na construção de habitações, como parte do projeto “Minha casa, minha vida”.
Atualmente, o terreno está ocupado por moradias populares e os prédios do antigo batalhão abrigam alguns órgãos municipais, como a Secretaria de Assistência Social, creche, escola e biblioteca.
O complexo está ilhado numa região dominada pelo tráfico de drogas.
Obras inacabadas
A concessionária responsável pela rodovia desistiu da concessão, deixou obras inacabadas e não iluminou o trecho urbano, o que aumenta a sensação de insegurança.
O que diz a Polícia Militar
Em resposta, a Polícia Militar informou que a corporação atua em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal no eixo rodoviário da BR-101, abrangendo a área conhecida como Niterói-Manilha, que corta os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.
“A via conta com esquema de policiamento ostensivo realizado por militares do 12° BPM (Niterói), 7° BPM (São Gonçalo), 35° BPM (Itaboraí), além do patrulhamento realizado por agentes do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom)”, afirmou a PM.
Além disso, a Polícia Militar enfatizou que vem adotando estratégias para monitorar o deslocamento da criminalidade na região.