Outro dia, num final de tarde, entre uma rodada e outra de chope, um amigo comentou que no futuro os carros vão usar hidrogênio verde no lugar da gasolina. Verde? Isso é fake, na escola aprendi que hidrogênio é incolor, logo retrucou um outro. É, não é, por sorte o garçom trouxe a conta, encerrando a incipiente discussão que não prosperaria por falta de conhecimento dos outros beberrões. Paga a conta, fraternalmente dividida, deixei o bar e, ainda no caminho de casa, decidi dar vazão a minha eterna curiosidade e saber mais do novo combustível
Aqui está um resumo das minhas pesquisas super superficiais. Superficiais sim, mas úteis para sua finalidade etílica e certamente inútil.
Há algum tempo, as diversas mídias vêm falando sobre o hidrogênio, um gás a ser futuramente utilizado como fonte de energia nos transportes e nos processos industriais que necessitam de altas temperaturas, tais como fertilizantes e siderurgia. Sem dúvida, o hidrogênio é a grande aposta do mundo para a descarbonização das atividades econômicas na busca das metas do Acordo de Paris, impedindo o aumento da temperatura global.
E daí, o que isso tem a ver com as cores do hidrogênio? Afinal, nós aprendemos na escola que ele é um gás incolor e inodoro. Não é mais? Vamos, simploriamente, tentar explicar sem a complexidade que uma abordagem séria exigiria, mas prenhe de coerência com nossa incompetência didática. Estamos entendidos? Podemos ir em frente? Então, continuemos.
Primeiro de tudo, avisamos que o hidrogênio continua incolor e as adjetivações com cores não é uma característica física do gás em si. É apenas uma forma didática de classificar o método da obtenção do mesmo e depende da fonte de energia elétrica utilizada no processo. Como existem diversas fontes de energia, existem diversas cores que classificam o energético. Para simplificar e facilitar o entendimento de leigos como eu, vou me limitar às mais comuns.
Tudo bem, mas como se faz para produzir hidrogênio?
O hidrogênio é obtido através da eletrólise da água, simplificadamente fazendo passar uma corrente elétrica pela água (H2O) o que provoca a separação molecular do hidrogênio (H2) do oxigênio (os químicos diriam que a eletrólise é a decomposição química da água em oxigênio e hidrogênio por efeito da passagem de uma corrente elétrica). Obtido o hidrogênio, ele será classificado pela fonte da tal corrente elétrica (acho que já disse isso anteriormente; alô revisor!).
O hidrogênio será verde (H2V) quando a eletrólise utiliza energia renováveis, como hidrelétricas, solar ou eólica. Esse processo é livre da emissão de carbono, pois não utiliza combustíveis fósseis, contribuindo para a redução das emissões dos gases do efeito estufa e promovendo a desejável transição para uma economia sustentável.
E o tal hidrogênio azul? Ah, vamos chegar nele, mas, antes vamos falar do cinza. Quando a eletrólise da água é feita utilizando eletricidade gerada com gás natural (com liberação de gás carbônico) o hidrogênio produzido é classificado como cinza (H2C). Porém, quando esse processo é mais sofisticado e inclui a captura do carbono liberado no processo, o hidrogênio torna-se azul (H2A). Quando a fonte de energia elétrica é o carvão, o hidrogênio é denominado de marrom (H2M) e é o que menos contribui para a melhoria do meio ambiente.
É importante lembrar que a escolha da fonte de eletricidade para a eletrólise e geração do hidrogênio depende de vários fatores, tais como as distâncias entre as fontes de energia, entre os locais das eletrólises e os centros de consumo, dos custos das instalações, da existência de infraestrutura, etc.
Obviamente, a disponibilidade e o tipo da geração elétrica é o fator mais importante e, no cenário mundial, o Brasil é muito privilegiado, pois quase 70% da nossa eletricidade provém de hidrelétricas, 15% de eólica e aproximadamente 4% é solar.
Mesmo com esse privilégio, é bom ficarmos atentos para combater os lobbies que já se formam e, sutilmente, fazem crer que o sucesso do Brasil no mercado futuro de hidrogênio passará necessariamente por subsídios e incentivos governamentais.
Ah, esta é a única maneira de se obter hidrogênio? Não. Os geólogos sabem da existência de depósitos no subsolo, a grandes profundidades, em vários locais do planeta. Desculpem, ia esquecendo de dizer. Esse hidrogênio natural é conhecido como hidrogênio branco e sua obtenção ainda é muito dispendiosa.
Pronto, espero que quem teve a paciência de ler até aqui esteja apto a não deixar o papo morrer, “tirar onda” de profundo conhecedor do assunto e justificar algumas rodadas adicionais de chope geladinho.
Nunca li algo tão esclarecedor sobre hidrogênio de uma forma tão ampla .
Que vc continue aqui sempre nos ensinando com suas pesquizas e opiniões.
Bravooo.
É incrível que de um comentário feito numa mesa de bar tenha surgido a ideia de uma pesquisa e a partir daí a elaboração de uma aula de tamanho esclarecimento. Não domino o assunto mas desejo aos conhecedores uma boa e proveitosa leitura.
Fera braba.
Taí…. rápido e claro! Quero o chope!
Bem explicadinho! Muito bom!
Vai ser didático assim lá em Macaé. Sensacional. Vai ajudar muita gente a se preparar para um futuro bem próximo.
Professor Alfeu, seus ensinamentos são de grande valia para o nosso país. Parabéns
só quero chegar aos 80 se for assim, fazendo cócegas na massa cinzenta e ajudando aos outros! em vez do chope, rola um vinho? excelente e esclarecedor!
Muito bom! Você é um expert
A cada semana um novo texto e de brinde uma nova aula , obrigado .
excelente resumo das possibilidades de produção de hidrogénio que pode ajudar a reduzir a nossa poluição por dióxido de carbono! mas vou ter que me resignar a poluir ainda mais para pegar um avião e tomar um drink com você, Alfeu! a menos que seu combustível seja H2V!
Né adorei o texto,bem esclarecedor,agora para melhorar só está faltando o chopp
Quanta clareza e didática eficientes!!
Só faltou um detalhe: hidrogênio verde e chopp gelado é só no Piauí.
Veeeenha !!
Bom, divertido e objetivo!
Muito obrigado pela aula…👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼