A Secretaria de Segurança Pública do Rio enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (22), o documento que detalha o plano de reocupação territorial de favelas determinado pela Corte. O texto apresenta Muzema, Rio das Pedras e Gardênia Azul como os primeiros pontos da ação, que terá início no começo de 2026.
Os três pontos ficam em um eixo sensível de Jacarepaguá, na Zona Oeste, marcado por disputas entre facções do tráfico e milícias. A instabilidade na região afeta diretamente a mobilidade urbana e a segurança de bairros vizinhos, como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.
A iniciativa cumpre a decisão do STF no julgamento da chamada ADPF das Favelas, que determina a retomada da presença do estado em áreas dominadas por grupos armados, com ações de segurança, fiscalização e políticas sociais. As informações são do “Diário do Rio”.
Jacarepaguá concentra favelas com disputas entre facções e milícias
Jacarepaguá foi escolhida como área piloto por concentrar, ao mesmo tempo, os três principais grupos criminosos em atuação no estado: Comando Vermelho (CV), milícias e Terceiro Comando Puro (TCP).
Relatórios da Secretaria de Segurança apontam que, nos últimos dois anos, o Comando Vermelho avançou sobre ao menos dez favelas da região, antes exploradas por milicianos, numa estratégia para ampliar seu domínio territorial entre o Recreio, o Itanhangá e áreas próximas ao Maciço da Tijuca.
Apesar do avanço do tráfico, as milícias seguem fortes, sobretudo no controle de serviços como gás, internet, transporte alternativo e exploração imobiliária, mantendo uma ampla economia ilegal.
Região terá presença diária da polícia até a estabilização da área
Segundo o secretário de Segurança Pública, Victor Cesar dos Santos, o plano não se resume a uma operação policial nem a uma ocupação permanente, como ocorreu em experiências anteriores.
“É o cumprimento de uma decisão judicial, com metas, fiscalização e acompanhamento do Judiciário. Haverá presença diária da polícia até a estabilização da área”, afirma.
A atuação inicial deve durar cerca de 60 dias, com avaliações periódicas. Além das forças de segurança, participam do processo o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Defensoria Pública.
A Polícia Civil também vai priorizar investigações sobre empresas e serviços controlados por organizações criminosas, com foco na movimentação financeira ligada à economia ilegal.
O plano está estruturado em cinco fases. A primeira, de diagnóstico territorial, já foi concluída. A segunda começa em 2026, com a entrada integrada das forças de segurança. As etapas seguintes preveem diálogo com os moradores, ampliação do acesso a serviços públicos, ações sociais e, por fim, a consolidação da autonomia das favelas com presença regular do estado.
Por se tratar de um projeto de médio e longo prazo, não há datas fechadas para o encerramento das fases finais.
Levantamento do governo mostra impacto do domínio do crime no cotidiano dos moradores
Pesquisas feitas com cerca de 400 moradores da região apontam como principais problemas a falta de infraestrutura, questões ambientais, desordem urbana e insegurança.
Os relatos indicam dificuldades com saneamento básico, limpeza urbana, déficit de escolas e vagas, poucas opções de lazer e uma rede de saúde insuficiente. Também são frequentes as queixas sobre preços elevados de serviços controlados pelo crime.
De acordo com o levantamento, famílias chegam a pagar, em média, R$ 40 a mais no botijão de gás, além de valores inflacionados por serviços como internet.
“O impacto no dia a dia do morador também será um indicador de sucesso do plano”, afirma o secretário.
O diagnóstico mostra que 74% dos moradores vivem em imóveis alugados, mais da metade recebe algum tipo de auxílio social e cerca de 42% dependem de trabalho informal.
Com base nesses dados, o governo pretende integrar políticas sociais ao processo de reocupação, como programas de qualificação profissional para moradores que já atuam em setores como bares, restaurantes e hotéis da Barra da Tijuca.

