Onde você vai assistir à cerimônia do Oscar 2024, caro leitor? Tudo bem que domingão, tarde da noite, não favorece muito nenhuma opção que não seja pipoca no sofá. Mas se por acaso você estiver procurando um lugar para assistir à premiação na rua, comendo e bebendo bem, nem pensa. Vai no Cine Botequim 2 (@cinebotequim2), no Maracanã, a nova filial do Cine Botequim que já guarda há 13 anos a tradição de homenagear a sétima arte com comida, bebida e bom humor no Centro. O bar vai não só exibir a transmissão no telão como vai sortear cortesias, promover um bolão e premiar quem acertar os vencedores das principais categorias do Oscar com nada menos que um mês de coxinha grátis… Ei, isso é coisa muito séria.
Mas calma!… Pra você, leitor que ainda não conhece esse script que reúne bar, cinema e coxinhas, eu explico fazendo um flashback:
O Cine Botequim é fruto da mente criativa do diretor – digo, empreendedor – Felipe Trotta, esse aí na foto tentando levar o ET pra casa em um engradado de cerveja. Em 2011, sem experiência nenhuma no ramo a não ser comer, beber e viver, Felipe resolveu largar o trabalho de designer e abrir um bar.
Inicialmente, ia ser um botequim simples, em homenagem ao avô Adolfo Trotta, que o enveredou pelo gosto da boemia. Mas o amor pelo cinema acabou falando mais alto na hora de desenhar o negócio arriscado, e surgiu o Cine Botequim 1, no Centro. Todo decorado com cartazes e stills de filmes e um cardápio que só de ler já é a maior diversão, batizando pratos, drinques e petiscos com títulos de clássicos da Sétima Arte e nomes de atores e personagens inesquecíveis. Na porta, um imenso Chewbacca cenográfico recebe o público com um copo na mão, e um cartaz interativo permite ao cliente mais animado fazer pose de Jack Nicholson iluminado pela loucura, tentando invadir o quarto da mulher e do filho a machadadas.
Nesse contexto, o bar criou uma tradição de servir uma lista de coxinhas cinematográficas – a Liga das Coxinhas – com recheios variados e nomes como Rambo, Spartacus, Don (Corleone), Indiana (Jones), Marylin (Monroe), Zé Galinha e Jão Grilo. Virou a marca da casa.
O Cine Botequim do Centro fez muito sucesso, mas agora sofre com o esvaziamento da região e vive à espera de um milagre que recupere as luzes da cidade de outrora. Por essas dificuldades, e ainda por entre umas e outras razões, Felipe e o sócio Vladimir Alexandre decidiram abrir o Cine Botequim 2, e escolheram logo uma das esquinas mais boêmias da Zona Norte.
A casa nova, aberta há sete meses, é maior, com cardápio mais variado e horário de funcionamento diferente da original, focado num público noturno que no Centro não existe. “Continuação de filme bom sempre tem que crescer virar superprodução, né?”, brinca o dono. O salão amplo com dois ambientes e pé direito imenso caiu como uma gata em teto de zinco quente para receber toda a decoração carregada de memorabilia cinematográfica, que dão ao sobrado a aparência de um museu do cinema. Um conceito semelhante ao que Felipe e Vladimir já fazem no Baródromo, bar dedicado à memória dos desfiles no sambódromo, que também pertence à dupla.
Na parede do Cine Botequim 2 tem memória pra todos os gostos e idades audiovisuais: de 8 e meio de Fellini a Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, passando por Terra em Transe de Glauber, Tempos Modernos de Chaplin e… um escudo Capitão América. O quarto inteiro do Andy, de Toy Story, parece estar numa das prateleiras. Na cozinha aberta estão os cartazes de filmes de temática gastronômica, como o clássico Festa de Babette, o brasileiro Estômago e a animação Ratatouille. Na porta, o E.T. na bicicleta, impagável cartão de visitas que chama atenção de crianças dos 8 aos 88.
Diante de tanto estímulo visual, é comum o cadápio ficar até para segundo plano. Um erro, especialmente se perder a chance de experimentar as pipocas, digo, os torresmos, petisco mais popular da casa. Erro maior ainda você cometerá se não reparar o tesouro gastronômico que, tal qual uma arca perdida, o Cine Botequim esconde: trata-se do Bar do Trotta, onde o Felipe finalmente conseguiu fazer a homenagem ao avô.
As duas casas dividem a mesma cozinha, mas é do cardápio do Bar do Trotta que saem as iguarias mais interessantes. O pernil encharcado no molho atrai só pelo cheiro, e as alichellas com cebola e pimenta dedo de moça, ou as abobrinhas em conserva, vão encher os olhos até de quem não gosta de cinema, digo, de boteco.
No manancial de drinques e coquetéis também inspirados nos filmes, chama atenção um em especial, que paradoxalmente homenageia um mestre das imagens estáticas. O coquetel “Berg Silva, o desbravador de bares” é uma emocionante homenagem ao fotógrafo especializado em gastronomia, falecido ano retrasado, na forma de cachaça, Brasilberg, Fogo Paulista sour mix de gengibre e angustura. Um pancada de sabores etílicos bem populares, ao feitio do Berg, servidos num copo que reproduz fielmente a lente que ele costumava usar para trabalhar.
Se fosse num cinema de verdade, essa era a hora de puxar o lencinho…
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Em tempo: agora que você, querido leitor, já entendeu a importância do prêmio em coxinhas e se empolgou para tentar a sorte no domingo no Cine Botequim 2, lembra que a transmissão começa às 20h, e o bar ficará extraordinariamente aberto até a cerimônia acabar.