Bandeira branca, amor. Ou não. Entre (muitos) tapas e (raríssimos) beijos, o prefeito Eduardo Paes (PSD) conseguiu aprovar quase tudo o que queria na Câmara do Rio — e o primeiro semestre ainda nem acabou. Já foi para a conta até a Guarda Municipal armada, com direito a contratações temporárias para a formação de uma tropa de elite.
De todos os projetos que o alcaide considerava prioritários, só falta votar, e em segunda discussão, a criação do Parque do Legado Olímpico, com suas operações consorciadas e o aumento do potencial construtivo na Barra da Tijuca.
Era para Paes estar feliz. E a base governista, aliviada.
Mas cadê calmaria no Rio? Tem não.
Pacote à vista
Estava na pauta desta terça-feira (10), mas foi adiada para quinta, a votação de um pacotaço de alterações na Lei Orgânica do Município. A previsão é de mudanças em mais de 40 artigos.
Até aí, tudo um espetáculo, porque a maioria das alterações propostas pela mesa diretora da Casa e comissões servirá para atualizar o regimento interno da Câmara, o mesmo há 30 anos. Vai instituir a marcação de presença pelo painel eletrônico, novos horários para as sessões deliberativas, o reconhecimento das duas sedes legislativas (além do velho Palácio Pedro Ernesto agora tem o reformadíssimo Edifício Serrador), entre outras modernidades.
Mas tem mais.
Tem a obrigatoriedade de aprovação da Câmara a cada vez que Paes pensar em criar uma nova secretaria, por exemplo. Isso já funciona em outras instâncias, como na relação entre o governo do estado e a Assembleia Legislativa. Mas não existia no reino da Cidade Maravilhosa.
E tem ainda um dispositivo que permitiria à Câmara eleger um futuro conselheiro do Tribunal de Contas do Município (TCM) antes mesmo de ocorrer a vacância do cargo. Isso quer dizer que os vereadores poderiam oficializar agora a escolha do atual presidente, Carlo Caiado (PSD), para a próxima vaga — ainda que o conselheiro Nestor Rocha só complete 75 anos, idade para aposentadoria compulsória, em outubro de 2027. Pela nova regra proposta no pacotaço, basta que a vaga surja na mesma legislatura.
E é aí que a porca torce o rabo.
Contam as péssimas línguas frequentadoras das altas rodas dos palácios que Paes não gostou nem um pouquinho da ideia de ter que prestar contas à Câmara sobre o desenho do seu primeiro escalão. Menos ainda de a turma da Cinelândia já querer escolher, dois anos antes, quem vai para o TCM.
Um grupo de bombeiros deve buscar uma conversa entre os parlamentares e o prefeito antes da votação — e antes que o caldo entorne de vez.
Livre distribuição de pancadas
Este ano, o prefeito não perdeu uma única oportunidade de distribuir bordoadas nos vereadores aliados. Em público — incluindo redes sociais, grupos de mensagens, entrevistas coletivas, discursos em eventos. Ou no privado, reduziu a influência da base na administração municipal, renegociando o “espaço” de cada um (leia-se cargos e prestação de serviços).
A relação Cinelândia-Cidade Nova já foi, num passado não muito remoto, de muito mais leveza.