Como esperado, a sabatina do vice-governador Thiago Pampolha (MDB), na Assembleia Legislativa, foi marcada pela troca de amabilidades — um beija-mão, de parte a parte. Depois da aprovação-relâmpado do parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), foi a vez de uma quase sessão de homenagens na Comissão de Normas Internas e Proposições Externas, responsável pela sabatina.
A indicação foi feita pelo governador Cláudio Castro (PL) — afinal, pela lei, a vaga é do governo do estado.
Mas a escolha foi estratégica — para a Assembleia. Com Pampolha no TCE, o presidente Rodrigo Bacellar (União) passa a ser o primeiro na linha sucessória de Castro e poderá ser candidato a governador já sentado na principal cadeira do Palácio Guanabara.
E a turma da comissão das perguntinhas, claro, tem juízo.
Casa cheia
Poucas vezes na história da desenxabida Comissão de Normas Internas e Proposições Externas houve uma reunião tão concorrida. Aberta a deputados não integrantes do colegiado (tinha uns 20 por lá), a integrantes do governo e a jornalistas, a sala das comissões lotou.

Os requisitos necessários
O presidente da comissão, Rodrigo Amorim (União), já abriu a reunião resumindo o que seriam, na sua visão, as condições necessárias à indicação para uma vaga no Tribunal de Contas.
“Um deputado com três mandatos cumpre qualquer requisito para o controle externo da administração pública”, disse Amorim, tecendo elogios a Pampolha.
Lembrando que a indicação do vice-governador é alvo de uma ação popular na Justiça questionando o fato de ele não ter curso superior.
O dia em que até o bélico foi ‘fofinho’
Até o normalmente fio desencapado Filippe Poubel (PL) deixou de lado o jeitão bélico e abriu sua fala já rasgando seda, se referindo a Pampolha como “ex-vice-governador e futuro conselheiro”.
Não quis fazer uma única perguntinha na sabatina.
Aliás, nem ele nem qualquer outro integrante da comissão. Nada de perguntas na sabatina, além das protocolares, feitas por Amorim na abertura da reunião.
Só discursos em homenagem a Pampolha.
Retirada estratégica
Diante de tanto rapapé, os únicos oposicionistas presentes, Flávio Serafini (PSOL) e Elika Takimoto (PT) deixaram a sabatina antes do fim. Sem nada falar.
‘Estou com fome’
Quando Alexandre Knoploch (PL), que nem é integrante da comissão, resolveu quebrar o que parecia ser a regra e fazer uma pergunta (uma única, sobre como Pampolha faria, no tribunal, para apertar os grandes devedores do estado), ouviu protestos dos colegas. Rosenverg Reis (MDB) disse que “estava com fome”.
A sessão começou ao meio-dia. Uma boa estratégia para aumentar a velocidade dos discursos.
Ao lado direito do candidato
Na sala das comissões, Pampolha sentou-se ao lado do coleguinha Jair Bittencourt (PL).

Bittencourt pediu exoneração do cargo de secretário estadual de Desenvolvimento Regional do Interior só para se reapresentar à Assembleia como deputado e se sentar ao lado de Pampolha na sabatina.
Sabe-se lá.. O amigo poderia precisar segurar a mão de alguém de sua confiança.

Secretário-deputado, presente!
Outro amigo, Bruno Dauaire não deixou a Secretaria de Habitação não. Mas estava lá, na sala das comissões. Quietinho e mais discreto.
Enquanto Pampolha discursava, trocava figurinhas com Serafini.
Levanta praia
Quando Pedro Brazão (União) chegou, já tinham se passado mais de 40 minutos de reunião. Dauaire e Rosenverg Reis (MDB), solícitos, disputaram quem cederia o lugar ao colega de cabelos brancos.
Rapidamente, o cerimonial providenciou uma cadeira extra para ao retardatário.

Presença sentida
Pampolha era o sabatinado, recebeu uma infinidade de elogios — mas quem roubou a cena foi Márcio Pacheco, ex-deputado e presidente do TCE.
O moço foi muito exaltado pelos ex-colegas, como o irmão Fred Pacheco (PMN) e Chico Machado (SDD).
Premonição ou recado?
Aliás, por falar em Chico Machado, no finzinho da reunião, o presidente da comissão deu uma pista. Disse Amorim que o colega, “já estava treinando para quando chegar a sua sabatina”.
Gente! Lançou o nome do homem para a próxima vaga no TCE-RJ.
Ainda mais que, como observou Poubel, as próximas três vagas serão preenchidas por indicação da Assembleia — e não pelo governo do estado.
Perguntinha que não quer calar: e faz diferença?
BERENICE SEARA E VíTOR D’AVILA