Os anos de 2017, 2018 e 2019 foram muito difíceis para a jovem advogada Mariana Costa.
A perda de Valéria Rezende, sua mãe, poucos meses após o nascimento do seu filho Cícero, foi só a notícia mais difícil num período que lhe impôs também a partida do melhor amigo Lulu e a separação do marido Pedro.
“Foram os anos mais difíceis da minha vida”, ela relembra.
Mas que bom que a Mariana Costa não estava sozinha. Além do pequeno e valente Cícero, ela tinha também a sua segunda e mais importante identidade: a de Mariana Rezende, sócia do famoso e premiado Bar da Frente, na tijucana Rua Barão de Iguatemi, para muitos o botequim de cardápio mais criativo e bem humorado do Rio.
Foi ao lado do Cícero que a Mariana — agora simplesmente “Mari Bar da Frente”, de nome e sobrenome — venceu os lutos e abraçou de uma vez por todas o seu amado negócio. Enfrentando de peito aberto a ausência da Valéria: mãe, sócia e cozinheira de talento imenso que por nove anos respondeu por toda a criação gastronômica da casa.
Sem a Valéria — mas com o Cícero e a fiel equipe formada pelo Jean, a Keila, a Carol e o Juan, que a acompanham desde desde a época da inauguração — Mari estufou o peito, matou a bola e invadiu a área. Pegou um empréstimo de R$ 80 mil no banco para sacudir a poeira, reformular a administração do bar e encarar os novos tempos.
Aí, dias depois, veio a pandemia…
Mas vá tirando da cabeça, caro leitor, os pensamentos trágicos que ora lhe afligem: a tragédia que acometeu o mundo entre 2020 e 2021 também criou, aqui e ali, condições para que o espírito empreendedor humano encontrasse saídas para lidar com ela. Sobretudo, para superar o isolamento forçado. E foi aí que a Mari, cada vez mais Rezende do que nunca, investiu no delivery de botequim — coisa que até então era pouco priorizada pelos bares da cidade.
“Nunca vendemos tanto quanto no período de isolamento da pandemia”, lembra ela.
E eis que o Bar da Frente, que após a partida da Valéria correu sério risco de fechar as portas, emergiu da pandemia mais forte do que antes. E com a Mari — agora “dona da porra toda”, como ela mesmo gosta de referir — mais feliz que nunca na administração desse negócio familiar que virou uma referência de comida gostosa e ambiente agradável para muito além da Zona Norte.
“Não estudei gastronomia nenhuma. Mas sou formada em Bar da Frente”, diz Mari, como o maior orgulho e toda a razão do mundo, e que agora mata no peito novos desafios. Que envolvem lidar com a concorrência crescente no segmento de botecos, recuperar — ao lado dos vizinhos Sofia, Costelas, Aconhego Carioca, Dida Bar e Noo Cachaçaaria — poder de atração do pólo gastronômico da Rua Barão de Iguatemi, e quem sabe até, um dia, abrir uma filial em outras freguesias…
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E para quem ficou curioso: a Mari Costa segue viva e forte também, tá? Especializada em sucessões e imobiliário. Se o leitor estiver precisando, manda DM aqui para o colunista que eu repasso o contato.
Mas se o seu interesse é só comer bem, recomendo fortemente o beijo grego e o bolinho de frutos do bar, duas criações da nova fase do boteco. O primeiro é um pornográfico acepipe de língua com rabada. O segundo, uma mistura divina de panceta com camarão. A Valéria, certamente, aprovaria.