Outro dia eu estava conversando com uma jovem médica e seu namorado, economista, adultos com menos de 30 anos, quando, nem sei por quê, falei em ascensorista. Ambos, perguntaram, simultaneamente: — Ascensorista? O que é isso? — Ainda sem entender a razão da pergunta, tentei um sinônimo, “cabineiro, cabineiro de elevadores”. Diante da expressão de alheamento dos dois, entendi que a pergunta era pertinente, pois tratava-se de uma profissão inexistente para a geração deles.
Sabemos que, com o advento da eletricidade, deixaram de existir os acendedores de lampiões nas ruas das cidades. Poucas pessoas lembram daquela profissão importante à época.
E os borracheiros? Presentes em todos os postos de gasolina, tornaram-se prescindíveis de vez que, com a moderna tecnologia, os pneus melhoraram de qualidade e raramente furam.
Engraxates de sapatos, alguém recorda daquelas cadeiras elevadas atravancando as calçadas nos centros das cidades? Não vou nem falar de bondes e motorneiros.
Esses foram pequenos exemplos de profissões que deixaram de existir, e nem por isso faltou emprego. A mesma modernidade onde a TV mataria o cinema, a internet mataria a TV e os tablets extinguiriam os livros, criou outras atividades e reempregou as pessoas.
Mas, a modernidade não elimina apenas profissões. Também os hábitos e procedimentos são atingidos. Algum leitor deste texto lembra do último telegrama que enviou, seja de parabéns por aniversário, batizado, casamento ou para prestar condolências ou anunciar alguma morte? Certamente não. Mas, há alguns anos, antes dos e-mails e redes sociais, eles eram de uso mais do que frequente, quase obrigatórios, e representavam a boa educação social.
Juro que não vou perguntar pelo sumiço de locadoras de vídeos, nem pelas listas telefônicas Páginas Amarelas. Galochas em dias de chuva!!!??? Máquinas de datilografia? Aliás, para a geração da digitação, o que diabos é datilografia?
E os cartões de Natal, que além de enviarmos ainda nos obrigavam a retribuir? “Agradecemos e retribuímos os votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, recordam? Aquela médica e o namorado, certamente, nunca usaram nenhum desses obsoletos instrumentos de comunicação.
Todavia, essas e outras mudanças ocorridas em função do avanço tecnológico, se em algum momento causaram preocupações diante das mudanças nunca pensadas, em nenhum caso impediram o aumento da qualidade de vida e desenvolvimento da humanidade.
Por conta disso tudo muitos amigos ainda acham que a inteligência artificial irá provocar ondas de desempregos, mas esses logo serão substituídos por novas atividades. Eu estou pessimista e acredito que, ao contrário, a IA irá eliminar muitos empregos e criará muitos poucos outros. E esses poucos serão superespecializados.
Imagino que, por exemplo, dentro de pouco tempo a IA criará fones de ouvido que permitirão traduções simultâneas entre quaisquer idiomas. Beleza, não é? Pensem em uma pessoa falando em búlgaro ser entendida e entender um interlocutor monoglota japonês? Ou alemão, nepalês ou português? Uma maravilha, hein? Não esqueçamos, todavia, que cursos de idiomas serão fechados e milhares de professores de línguas ficarão desempregados. Ser bilíngue ou trilíngue não será diferencial nenhum para obter emprego ou aumento salarial. Sem nenhuma dúvida, a IA irá (na verdade já está provocando) desemprego. E por isso faz sentido imaginar que as novas funções criadas serão em número muitas vezes menores do que as que serão extintas. E, repito, exigirão conhecimento profundo de novas tecnologias que levarão muito tempo para serem difundidas, disponibilizadas, dominadas e aplicadas corriqueiramente no “novo normal” do mercado de trabalho. Os nossos currículos escolares estão longe de se tornarem aptos para a nova realidade!
A evolução tecnológica, desde a revolução industrial, sempre contribuiu para melhorar a qualidade de vida da população, e os desempregos causados por cada passo adiante sempre foram compensados com novas atividades e profissões, dizem os meus amigos discordando da minha opinião. Todavia, isso não é o que está acontecendo com a inteligência artificial. Esta semana tive uma informação preocupante que aumentou o meu pessimismo: soube que no Vale do Silício, berço da moderna tecnologia, além do desemprego crescente, os trabalhadores remanescentes estão sendo obrigados a trocar o tradicional regime de trabalho de 8 horas diárias de segunda a sexta-feira, pelo novíssimo regime chamado 996. Os meus quatro ou cinco leitores já sacaram o significado desses números? Trabalho de 9 horas da manhã às 9 horas da noite, diariamente, 6 dias por semana.
Torço para estar errado!
Embora eu seja na grande maioria das vezes um otimista , quando se trata de IA sou muito pessimista , sou sempre levado a pensar que em algum momento a IA pode simplesmente perceber que já não temos mais nenhuma utilidade para ela e aí então , simplesmente dar baixa em nossos CPFs , tomara eu esteja enganado .
Como sempre, vc está na vanguarda sobre muitos assuntos. Gostei e recordei algumas ocupações, extintas e em coma. Velho.
Chegará o dia em que as mãos humanas servirão apenas para serem levadas à cabeça, num claro sinal de tristeza e resignação. Com as máquinas e algoritmos fazendo tudo o que era feito pelos humanos, acredito que teremos uma onda nefasta de desemprego, com grande impacto nas relações sociais e no equilíbrio psicológico das pessoas.
Sejamos otimistas! Eu não estarei aqui para verificar mas creio num enorme passo para a civilização com ganhos de produtividade e maior tempo para lazer.
Se, no limite, a IA e a automação eliminarem todos os empregos, quem vai consumir os bens e serviços gerados por elas? Os humanos vão ser pagos para serem consumidores?
Caro Alfeu, infelizmente acredito que sua torcida é em vão. E o problema não está somente na IA. Imagine quando disseminarmos a computação quântica? Acredito que este seu artigo está muito bem posto e colocado. Por isso mesmo, gostaria de ler mais sobre isso, pois trata-se de assunto complexo. Pense comigo: além do desemprego que irá inflexionar substancialmente a economia mundial, há várias outras camadas que precisam ser debatidas. Estamos nos tornando cada vez mais dependentes da IA: ninguém dirige sem waze, ninguém escreve mais sem o chatgpt, ninguém sabe fazer coisas sem pedir a alexa. Não sabemos nomes de ruas, como fazermos para chegar aos lugares, não sabemos nem, ao menos, fazer um roteiro de uma fala ou de um passeio turístico sem recorrer à IA. Isso tudo atinge o cognitivo, o emocional…o caminho é uma sociedade cada vez mais idiotizada, instável e infantilizada. Não há saída…se formos para Ailton Krenak – saberemos que o futuro é (e deverá ser) ancestral. Se formos para Caetano…Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante ..De uma estrela que virá numa velocidade estonteante…Ah! Percorri todo texto e rememorei todas as coisas que faziam parte de nosso cotidiano…só para registrar: tenho diploma de datilografia.
Caro Alfeu, infelizmente acredito que sua torcida é em vão. E o problema não está somente na IA. Imagine quando disseminarmos a computação quântica? Acredito que este seu artigo está muito bem posto e colocado. Por isso mesmo, gostaria de ler mais sobre isso, pois trata-se de assunto complexo. Pense comigo: além do desemprego que irá inflexionar substancialmente a economia mundial, há várias outras camadas que precisam ser debatidas. Estamos nos tornando cada vez mais dependentes da IA: ninguém dirige sem waze, ninguém escreve mais sem o chatgpt, ninguém sabe fazer coisas sem pedir a alexa. Não sabemos nomes de ruas, como fazermos para chegar aos lugares, não sabemos nem, ao menos, fazer um roteiro de uma fala ou de um passeio turístico sem recorrer à IA. Isso tudo atinge o cognitivo, o emocional…o caminho é uma sociedade cada vez mais idiotizada, instável e infantilizada. Não há saída…se formos para Ailton Krenak – saberemos que o futuro é (e deverá ser) ancestral. Se formos para Caetano…Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante ..De uma estrela que virá numa velocidade estonteante…Ah! Percorri todo texto e rememorei todas as coisas que faziam parte de nosso cotidiano…só para registrar: tenho diploma de datilografia.
Caro Alfeu, infelizmente sua torcida é em vão. Acredito que o problema não está somente na IA. Imagine quando disseminarmos a computação quântica? Gostaria que em algum outro momento você voltasse a tocar no assunto novamente. Entendo que se trata de tema muito complexo que requer diversos debates. Além do desemprego que irá inflexionar substancialmente a economia mundial, há várias outras camadas que precisam ser debatidas. Estamos nos tornando cada vez mais dependentes da IA: ninguém dirige sem waze, ninguém escreve mais sem o chatgpt, ninguém sabe fazer coisas sem pedir a alexa….não sabemos nomes de ruas, como fazermos para chegar aos lugares, não sabemos nem ao menos fazer um roteiro de uma fala ou de um passeio turístico sem recorrer à IA. Isso tudo atinge o cognitivo, o emocional…o caminho é uma sociedade cada vez mais idiotizada, instável e infantilizada. Não há saída…se formos para Ailton Krenak – saberemos que o futuro é (e deverá ser) ancestral. Se formos para Caetano…Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante ..De uma estrela que virá numa velocidade estonteante..Ah! somente para registro: tenho diploma de datilografia.