Não há razão para questionarmos a validade e a importância do movimento que está varrendo todos os continentes em prol da ecologia. Sem nenhuma dúvida, medidas têm que ser tomadas para evitar abusos e excessos praticados, em todo o mundo, contra o meio ambiente.
É sabido que a poluição atmosférica, o derramamento de poluentes em terra, o descarte de efluentes nos mares e cursos d’água, os desmatamentos e as queimadas, o uso indiscriminado e abusivo de inseticidas e herbicidas, bem como de aerossóis inadequados, de detergentes e embalagens não degradáveis, tiveram inicio e tornaram-se práticas costumeiras quando ainda não se tinha plena consciência de seus efeitos danosos. As emissões veiculares, os efluentes industriais, os vazamentos de petróleo nos mares eram tratados como fatos normais e inevitáveis. As técnicas agrícolas eram rudimentares e apenas espelhavam experiências do passado. Hoje, entende-se que a natureza precisa ser preservada e a evolução tecnológica mostra que é possível realizar todas as atividades necessárias à sobrevivência humana sem agressões irreversíveis ao ambiente.
É reconhecido que, de um modo geral, os projetos que levam em consideração a preservação ambiental exigem investimentos diretos maiores do que aqueles que não o fazem. Nada impede, todavia, que esse diferencial de custos seja repassado aos preços dos bens produzidos, garantindo a rentabilidade dos negócios. Esse é um custo direto que tem que ser entendido e absorvido pelos consumidores, em troca da tão desejada melhoria da qualidade de vida. Indubitavelmente, ficará mais barato para a sociedade pagar esse adicional de custo, evitando uma poluição, do que despender tempo, energia e dinheiro no combate à poluição já instalada. Em outras palavras, o custo social da poluição é maior do que o custo direto da prevenção.
Entretanto, enquanto as autoridades, os consumidores, as empresas e os empresários não estiverem plenamente conscientizados, e aceitem, que todos têm que pagar um adicional de preço pela preservação da natureza, existirão aqueles que tirarão proveito da situação, em benefício próprio. Órgãos de fiscalização geradores de burocracia corporativista e, em alguns casos, de corrupção, governos demagógicos opinando e tentando ingerir na soberania de países mais pobres, alguns políticos aproveitando-se da situação para garantir votos e apontando mazelas sem aprovar soluções viáveis, são fatos do nosso cotidiano que somente serão abolidos quando a responsabilidade ecológica permear toda a humanidade. E isto somente será possível através da educação.
O processo educativo está em marcha e já se verifica uma perene e crescente preocupação com o tema. Legislações específicas têm sido aprovadas e implementadas, jornais e revistas estão criando seções especializadas e as escolas estão incluindo a preservação do ambiente como matéria curricular. Nenhum projetista, hoje, assina qualquer projeto que não apresente pelo menos um capítulo dedicado ao assunto. Tudo faz crer que este é o caminho certo e que a continuação dessas práticas permitirá a consecução dos objetivos desejados, em prazo compreensivelmente longo.
Outrossim, temos observado que algumas pessoas, na maioria das vezes despreparadas, não entendem ou preferem não entender, que a reeducação da humanidade é um processo lento. Essas pessoas, muitas em posições que podem influenciar grandes massas humanas, desejando resultados imediatos, assumem posições radicais e irracionais. É comum observarmos pessoas que, antes conhecidas pela ponderação e racionalidade, modificam completamente suas personalidades e, deixando-se apaixonar pela causa ecológica, tornam-se ativistas irascíveis e fanáticos.
A influência dessas pessoas tem sido tão grande que não é difícil imaginar que, futuramente, algumas das nossas crianças, atualmente bombardeadas diuturnamente por essas vozes radicais, venham a aceitar como válido a condenação à morte daquelas pessoas desavisados que jogam papel na rua ou pisam nos gramados das praças públicas. E façam isso certas de que estarão contribuindo para o bem da humanidade, sem se darem conta que os seres humanos também são importantes e integrantes da natureza.
Não podemos dar as costas ao problema ecológico, mas também não podemos esquecer que a fome e a miséria ainda são a nossa mais vergonhosa poluição. Temos que enfrentar o problema sem emocionalidades, com ponderação e racionalidade, de modo a que possamos, de forma madura e equilibrada, atingir uma situação de perfeita convivência entre a preservação do meio ambiente e o desejado e necessário crescimento econômico sustentável.
*Este artigo foi publicado originalmente em agosto de 1990 na revista PETRO & GAS. Resolvi reeditá-lo porque INFELIZMENTE continua atual.
Interessante ler “O processo educativo está em marcha e já se verifica uma perene e crescente preocupação com o tema” neste texto escrito há 34 anos, e constatarmos que apesar de AINDA estar em marcha, não conseguimos ter melhoras significativas. Nem para o problema ecológico nem tampouco para o da fome e miséria.
Considero o texto como um bom ponto para reflexão e chamada para a ação, dentro das possibilidades individuais, sem a extrapolação para o radicalismo, que muitas vezes prejudica a causa.
São 34 anos da edição original e até agora nada mudou que seja representativo para o nosso Brasil.? Ou seja ,tudo leva mais tempo do que o esperado.
Apesar de já terem se passado mais de 3 décadas e de tantos eventos climáticos extremos , muito pouco se fez realmente em benefício da natureza e isso faz com que o texto continue tão atual quanto quando foi escrito , só espero que as novas gerações não apenas leiam , mas reflitam sobre o tema e ponham em prática as medidas necessárias para corrigirmos o desequilíbrio causado pelos nossos atos .
São 34 anos da edição original e até agora nada mudou que seja representativo para o nosso Brasil.? Ou seja ,tudo leva mais tempo do que o esperado.
Enquanto o homem não mudar seu caráter, suas atitudes egoistas, demagógicas e imediatistas, os seres vivos do planeta caminham a passos largos para a extição. Esse planeta que nos ofereceu uma natureza rica, bela e exuberante, para convivermos e dela desfrutarmos, mas que vem sendo agredida constantemente, por um povo sem educação e responsabilidade ecológica, políticos e governos que buscam apenas a perpetuação no poder, empresários que só visam lucros, logo estará, podre e deserto. A fome é imoral, quando sabemos do desperdício de alimentos em todo o mundo, as desigualdades entre pessoas ou paises, já deveriam fazer parte de um vergonhoso passado. As futuras gerações pagarão o preço de nossa insensatez. O planeta não morre, morremos nós.
Excelente.
Ainda vai levar um tempo para essa conscientização .