Ao diplomata ultraliberal Roberto Campos é atribuída a frase “Infelizmente, o Brasil nunca perde uma oportunidade de perder oportunidades”, expressando frustração com as chances de melhorias que, na sua avaliação, foram perdidas pelo nosso país, principalmente na área econômica. Coerente com o meu passado, quando passei grande parte dele discordando das suas posições políticas-econômicas, principalmente sobre o monopólio do petróleo e existência da Petrobras, não posso deixar que ele tenha razão neste momento de grandes transformações. Agora, temos uma grande oportunidade de entrar para o bloco dos países desenvolvidos, e não podemos perdê-la.
O grande sonho de todos os brasileiros sempre foi se libertar da pecha de terceiro mundista, ascendendo para o bloco do primeiro mundo. Essa coisa de G20 ou Brics sempre foi um prêmio de consolação para disfarçar a nossa frustração de ser um país subdesenvolvido.
Em alguns momentos esportivos até que conseguimos algum respeito mundial. Maria Ester Bueno, Fittipaldi, Piquet, Senna, Pelé, Eder Jofre e Guga foram fenômenos passageiros e não deixaram herdeiros. Na ciência tivemos César Lattes e um ou outro gênio isolado. Na economia, conseguimos até um Investment Grade, mas por pouco tempo. Talvez, para fazer Roberto Campos se mexer no túmulo, a Petrobras seja a única organização brasileira, conduzida por brasileiros, que deu certo e há dezenas de anos goza de enorme reconhecimento prestígio Internacional.
Mas, por que estou escrevendo isto?
Apenas para contextualizar a enorme, talvez única e última chance que temos de deixar, de maneira rápida e barata, o nosso quase atávico subdesenvolvimento.
Diferentemente do Barão de Itararé que dizia “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”, eu acredito naquela história de fazer do limão uma limonada. Então, já há alguns dias, observando a mídia mundial criticar, e até ridicularizar, com veemência as ideias verbalizadas pelo recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no sentido de tomar, usando até a força se necessário, a Groelândia e o Canal do Panamá, renomear o Golfo do Mexico e anexar o Canadá ao seu país, fazendo-o o 51° estado americano, vislumbrei, naquela aparente sandice, a grande chance de atender ao desejo de grande parte da nossa população. Talvez involuntariamente, fruto de influência cultural e tecnológica, existe hoje, por aqui, enorme massa humana desejosa de ser americana.
A língua inglesa, mesmo mal falada ou escrita, já é corriqueira. Não preciso falar dos nomes de lojas, produtos ou comidas brasileiras que perderam o nome local. Basta entrar num centro de compras, sorry, num Shopping Center, e ver os nomes das lojas; raramente encontramos alguma com nome em português. Liquidação transformou-se em OFF ou SALE, vitrines agora são DISPLAYS, os bolinhos da minha vó são chamados de CUPCAKES, os trabalhos são JOBS, as bicicletas há muito são BIKES, e as de montanha são MOUNTAIN BIKES, as antecipações de fatos são ridiculamente tratadas como SPOILERS, boato é FAKE NEWS, assumir o anonimato é dizer em OFF, nas churrascarias as carnes parecem aulas da Cultura Inglesa: DENVER, SHOULDER, PRIME RIB, FRENCH RACK, substituem as envergonhadas maminhas, picanhas, costelinhas etc. E os nomes das nossas brasileiríssimas crianças, agora cheios de Y, W e TH? As redes sociais, então, já adotaram o idioma de Shakespeare definitivamente: INFLUENCERS, LIKES, STATUS, STORIES “and so on”. Seria até covardia usar a influência das músicas americanas como argumento nessa minha demonstração da americanização do nosso “BLESSED PEOPLE”. E a nossa fadinha olímpica que pratica SKATE, nas competições de SKATE STREET, mas não nas de SKATE PARK? Nessa área esportiva eu termino com o nosso tão tupiniquim futebol de praia que agora sofisticou-se como BEACH SOCCER.
Pois bem, dito isso, acho que temos pela frente um trabalho razoavelmente fácil para chegar ao primeiro mundo, fazendo a felicidade dos nossos conterrâneos americanizados. Caberia ao Itamaraty desenvolver um trabalho de convencimento, mostrando ao Trump que a anexação do Brasil seria bem mais vantajosa do que a do Canadá. Os EEUU se tornariam o maior e mais importante território da América Latina, assumindo uma posição geopolítica importantíssima. Poderia até, quem sabe, fazer parte do Mercosul? Ele trocaria a alternativa de anexar um país gelado, com um povo branquelo metido a besta, mas tão indeciso que até hoje não sabe se são ingleses ou franceses, por um povo alegre, bronzeado, cheio de malemolência, trabalhador, extrovertido, afetuoso, criativo, hospitaleiro, bonito por natureza e acostumado a se conformar com pouco. Além disso, os americanos, quando conterrâneos, teriam mais petróleo, soja, água e alimentos aqui produzidos por preço de custo. Em compensação, os brasileiros não precisariam mais viajar para Miami para se sentir americanos. Na premiação anual do Oscar, disputaríamos, em igualdade de condições, com filmes de língua inglesa. Os nossos soldados, ao invés de pintar meios-fios nas vésperas dos desfiles, ficariam honrados defendendo a humanidade lutando em guerras – quanta honra! – na Indochina, Iraque ou Afeganistão. Para desespero dos coiotes mexicanos, nossos irmãos não precisariam mais adentrar clandestinamente nos USA e poderiam assumir disputadíssimos cargos de garis, faxineiros, porteiros, babás, sem a atual humilhação de mendigar por um “GREEN CARD”. Outra vantagem para nós é que ficaríamos livres do famigerado SUS, já que os irmãos do norte não dispõem de nenhum sistema público de saúde universal, coisa de país pobre! Além disso, com um pouco de sorte, depois de alguns anos, os que ainda permanecessem no nosso território, poderiam até alcançar o invejável padrão de vida atual de Porto Rico.
Em último caso, se a diplomacia não for exitosa, poderíamos declarar guerra aos Estados Unidos. Sem nenhum esforço, eles nos derrotariam e teriam que assumir o nosso país. E nós seríamos estadunidenses, gloriosamente.
Os caminhos foram mostrados. Mas o tempo urge e a Sapucaí é grande, esqueçamos o carnaval tão próximo e vamos à luta. Uma chance dessa não aparece duas vezes. É agora ou nunca!
É aproveitar a ocasião ou dar razão ao Roberto Campos.
Muito engraçado!
Ironia cortante, peixeira espetada entre as costelas. Visão de longo alcance. Parabéns, Alfeu.
Vou sugerir ao governo frances (si, si, temos um… cada 3 meses!) colocar uma opção para anexar Brasil a França pela la Guyana. É mas chique que um Trump, não é?
Alfeu, adoro sua prose!
ah dessa vez você é demais mesmo, Alfeu….você tem que voltar conosco para o Pont Neuf…para te mostrar que seria ainda melhor se Marine LePen te mostrasse o interesse do Brasil em se tornar Francês da extrema direita😂