Morreu, nesta quarta-feira (23), o poeta Antonio Cicero, aos 79 anos, em Zurique, na Suiça. O escritor carioca sofria de Alzheimer e estava no país europeu para praticar eutanásia assistida, através da associação Dignitas. O procedimento é legalizado em território suíço.
Antonio Cicero Correia Lima nasceu no Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1945. Além de poeta, também era compositor, crítico literário, filósofo e escritor. Filho dos piauienses Amélia Correia Lima e Ewaldo Correia Lima, era irmão da cantora Marina Lima.
Cicero cursou filosofia na PUC-Rio e, depois, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Em 1969, devido a problemas políticos, foi para a Inglaterra, onde concluiu o curso de filosofia na Universidade de Londres. Em 1976, Cicero fez pós-graduação na Georgetown University, nos Estados Unidos, onde estudou grego e latim, o que lhe permitiu ler no original clássicos como Homero, Píndaro, Horácio e Ovídio. Posteriormente lecionou Filosofia e Lógica, em universidades do Rio.
Escrevia poesia desde jovem, mas seus poemas só apareceram para o grande público quando Marina Lima musicou um deles. A partir desse momento, passou a escrever, além de poemas para serem lidos, letras para as melodias que sua irmã – e, depois, outros parceiros – lhe enviavam. De 1991 a 1992, Antonio Cicero coordenou, em colaboração com o poeta e professor de Filosofia da Universidade Federal Fluminense Alex Varella os cursos de Estética e Teoria da Arte do Galpão do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM).
Ao longo de sua trajetória, lançou diversos livros e organizou eventos literários. Foi eleito, em 10 de agosto de 2017, para a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Eduardo Portella, morto no dia 3 de maio daquele ano. Por conta do avanço do Alzheimer, optou pela eutanásia assistida. Antes de morrer, o escritor deixou uma carta explicando suas razões (leia na íntegra ao final desta matéria).
“O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. […] Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação”, diz parte do texto.
De acordo com o marido, Marcelo, Cicero foi cremado em cerimônia reservada e havia optado por não divulgar que passaria pelo procedimento junto à associação Dignitas, com quem já havia tratando os trâmites há algum tempo.