Quem me conhece sabe que eu sempre gostei de ler. Daí a gostar de escrever foi consequência natural. Como nunca pensei em publicar meus escritos, não me preocupei em participar de cursos ou oficinas literárias. Com o avançar da idade e como aos velhos tudo é permitido, eu, já sexagenário, tirei proveito disso e comecei a divulgar meus contos e crônicas.
Até hoje, publiquei seis livros com contos e crônicas. Nenhum romance. Eu bem que gostaria de escrever um romance, mas reconheço minha limitação para tal. Não consigo criar e escrever textos ficcionais muito longos, o que me impede de ser romancista. Ultimamente tenho pensado qual a razão dessa limitação e vou culpar vários escritores brilhantes. Como todos eles estão mortos, fico livre de alguma contestação.
Na adolescência interiorana, a revista que circulava nas casas dos parentes era “O Cruzeiro”. Como eu era dos últimos da fila a ter acesso à revista, as reportagens ficavam desatualizadas e, talvez por isso, eu passava direto para a última página onde encontrava crônicas maravilhosas assinadas por uma tal Rachel de Queiroz. E eu gostava do que lia. Posteriormente, com a decadência daquela revista, a “Manchete” tornou-se a revista da família e, é claro, passando por vários leitores até chegar as minhas mãos.
Foi ali que encontrei e usufruí quatro cronistas da melhor qualidade: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Henrique Pongetti. E o gosto por aquele estilo literário se fortaleceu e me influenciou. Não bastasse isso, já universitário, em Recife, encontrei Nelson Rodrigues na edição local do jornal “Última Hora”. E me viciei na leitura das histórias curtas de “A vida como ela é”. Ah, nesse tempo eu já sabia quem era Rachel de Queiroz.
Acho, e culpo, a influência literária daquela turma brilhante pelo meu bloqueio em desenvolver histórias longas.
Há algum tempo, de tanto assistir a peças medíocres serem aplaudidas de pé, achei que poderia fazer melhor e escrevi uma peça teatral. Ousado, tomei a iniciativa de enviá-la para três amigos intelectuais, pedido opiniões. Nunca me responderam e nem tocaram no assunto. Entendi. E entendi como opiniões isentas e não constrangedoras.
Eu escrevo pelo prazer de escrever. É claro que gostaria de ser lido e elogiado, mas reconheço as minhas limitações. Lendo meus textos com os olhos críticos, encontro inúmeros defeitos e total ausência de técnica, o que é normal para quem nunca recebeu os ensinamentos básicos desenvolvidos nas oficinas literárias. Isto pode até explicar, mas não justifica, nem elimina, as imperfeições dos meus escritos. Até reconheço alguns traços de criatividade nas minhas ficções, mas fico muito longe de me achar verdadeiramente um escritor. Se continuo a escrever é porque isto me é prazeroso e me basta.
Há quase dois anos, a conceituadíssima jornalista Berenice (Berê) Seara me convidou para assumir uma coluna no seu Portal Tempo Real. Na dúvida se o convite era mais motivado pela amizade do que por algum valor intelectual, aceitei, sem nenhuma segurança de que atenderia a alguma expectativa dela, e se acharia assuntos que pudessem gerar textos semanais. Pois não é que este texto já é o número 100?
Nunca, jamais em tempo algum, imaginei que, vivenciando as mazelas naturais aos octogenários, eu conseguiria escrever artigos semanais por tanto tempo. 100 semanas!!! Quanto à qualidade das matérias, não posso julgá-las como boas ou ruins mas, certamente, poderiam ser melhores. De qualquer modo, essa obrigação me encheu de satisfação pessoal, e por isso agradeço à “patroa” Berê pela confiança, estímulo e grande ajuda na postergação da senilidade que se avizinha.

