No mês da Consciência Negra, chega às livrarias um estudo que revisita a operação policial que deixou 13 mortos no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, e seus efeitos sobre a vida das mulheres da região. A obra mostra como ações policiais moldam rotinas, interrompem trajetórias escolares e criam cenários permanentes de risco para famílias negras e periféricas.
O livro “Vozes Invisíveis – A violência que ecoa na pele das mulheres”, da defensora pública e pesquisadora Raphaela Jahara Cavalcanti, será lançado nesta terça (25), das 17h30 às 19h30, na Livraria da Travessa do Centro do Rio (Av. Graça Aranha, 296), em sessão de autógrafos aberta ao público.
O estudo tem um foco especial na operação de março de 2023, conduzida pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), da PM e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil. Ambas unidades de elite das duas corporações.
“Eles chegaram com helicópteros, atirando. As crianças estavam na escola e a gente só ouvia o barulho de tiro”, conta uma das sete entrevistadas.
Relatos de moradoras do Complexo do Salgueiro são alinhados com dados oficiais
Além dos depoimentos, o livro cruza experiências pessoais com dados do GENI/UFF, Instituto Fogo Cruzado e da Ouvidoria Externa da Defensoria Pública, reforçando evidências sobre a letalidade policial em áreas periféricas.
Raphaela também mobiliza referências das ciências sociais, como a “necropolítica”, de Achille Mbembe, e analisa a ADPF das Favelas, do STF, além de decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
“Essas mulheres vivem sob o som dos tiros e, ainda assim, seguem criando, cuidando, resistindo”, comenta a autora.
A obra reúne elementos jurídicos, dados empíricos e relatos que ajudam a compreender como a ausência ou a atuação do estado afeta a vida de mulheres em territórios sob operações recorrentes.

