Carnaval sem treta é o mesmo que folia sem glitter e camarote da Sapucaí sem saia de paetês.
E o quiproquó da política, claro, sempre tem a ver com a polarização esquerda-direita — ou melhor, PL e amigos versus a turma de Eduardo Paes (PSD) e do PT.
A treta da vez foi motivada pela singela foto de uma confraternização entre vereadores, no camarote da Câmara do Rio. É que Diego Faro, do PL, e Leonel de Esquerda, do PT, estão fazendo festinha na mesma pose. Assim como Leniel Borel, do PP; Salvino Oliveira, do PSD; e o presidente da Câmara, Carlo Caiado, do PSD e aliadíssimo de Paes.
Nem adianta dizer que é carnaval, é folia, neste dia ninguém briga.
A imagem caiu nos grupos de direita como uma bomba caseira recheada de pregos.
Imagem é tudo
E por falar em pose, não passou despercebido o fato de o governador Cláudio Castro (PL) dar a tradicional entrevista coletiva do início dos desfiles do Grupo Especial tendo de um lado o coronel Marcelo de Menezes Nogueira, secretário da Polícia Militar; e de outro, o delegado Felipe Curi, da Polícia Civil.
O samba já tomava a avenida, mas Castro falava sobre segurança.
Com números na ponta da língua para garantir que o carnaval está seguro.
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Enquanto isso, na pista da Sapucaí…
Paes atravessou o samba e invadiu a pista (muito mais vazia do que nos anos anteriores) para beijar a bandeira da Imperatriz Leopoldinense bem na hora em que o mestre-sala e a porta-bandeira se apresentavam para os jurados.
Nada que umas toalhadas não resolvessem.
É numa hora dessas que Candonga, o lendário funcionário da Riotur que organizava a avenida, faz muita, mas muita falta. O homem dispersava bicões e fotógrafos mais empolgados, que pensavam em atrapalhar o andamento das escolas (nem precisavam passar à ação, bastava ficar na intenção).
Distribuía golpes de toalha (tinha sempre uma pendurada no ombro).
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Território inimigo
Castro não visitou o camarote da Prefeitura do Rio. Paes não pôs os pés no do governo do estado.
O protocolo diplomático dos rapapés carnavalesco foi quebrado sem maiores delongas.
Duas canoas alegóricas
Esperto é o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT). Acompanhado por uma ala inteira (a mulher, Fernanda Sixel; a vice, Isabel Swan; vereadores, assessores) o moço seguiu para a visita ao camarote de Paes — e ao de Castro também.
Para não criar fofoca, foi vestidinho com as cores da Unidos do Viradouro.
Desmotivados
Tradicional passarela de exibição de políticos engalanados, o corredor de acesso aos setores ímpares estava, na noite de domingo (02), quase em ritmo de marcha rancho.
A turma que fica pulando de camarote em camarote (porque o importante nem é ver o desfile, mas ser visto), no carnaval 2025 parece estar bem mais devagar.
Só um ou outro representante de segundo escalão.
Até porque nem estamos em ano eleitoral, uai.
Nota de pesar
A pracinha de alimentação que todos os anos funcionava atrás do setor 9, onde havia pontos de venda de sanduíches e bebidas, mesas e cadeiras, morreu em 2025.
Neste carnaval, restaram dois estandes de venda de comida — e nenhum lugar para sentar.
O triste é que o local era o único ponto para um rápido descanso de centenas de trabalhadores que passam a noite inteira na labuta, de pé, para que o maior espetáculo da Terra aconteça do outro lado das arquibancadas e camarotes.
Quando a burocracia tecnicista quer ser cruel. não tem para ninguém.
Um monte de gente do governo rendendo homenagem pro espetáculo do crime, e 9 descaso da obra de modificação que despreza o trabalhador braçal. Que lugarzinho horrível esse RJ.