A passos lentos, quase parando. Assim pode ser definida a atual situação do futuro estádio do Flamengo, no Rio de Janeiro. Se no pomposo evento de lançamento, no ano passado, foram divulgadas previsões para início das obras e inauguração, que seriam neste ano e em 2029, respectivamente, agora o clube não tem sequer uma data para apresentar o projeto à Prefeitura do Rio que, além da arena, inclui a revitalização de seu entorno, no Gasômetro.
Na última semana, durante a disputa da Copa do Mundo de Clubes, nos Estados Unidos, o presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, disse que “não tem pressa” para a construção do estádio. Enquanto isso, a Prefeitura do Rio ainda aguarda um novo contato da diretoria rubro-negra para dar continuidade aos compromissos firmados entre as partes. No entanto, não há prazo para que essa conversa aconteça.
O terreno, localizado na região do Gasômetro, no Centro do Rio, foi adquirido pelo Flamengo por R$ 138,1 milhões, após disputas judiciais com a Caixa Econômica Federal, gestora do fundo de investimentos que era o antigo proprietário da área.
Conforme apurou o TEMPO REAL, o clube solicitou um tempo — não estipulado — para avaliar a viabilidade do projeto e, só depois, deve apresentar o plano de revitalização do entorno, exigido pela prefeitura e cuja execução dependerá da capacidade projetada para o estádio.
Para o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU-RJ), Sydnei Menezes, a principal preocupação é com a infraestrutura da região.
“O grande problema é o acesso. É preciso avaliar o fluxo de automóveis e de pedestres naquela área, com um estudo completo de impacto no entorno”, destacou.
Apesar de a prefeitura não se posicionar oficialmente sobre o assunto, fontes ligadas ao município afirmam que as negociações seguem de forma tranquila e que o projeto “não foi deixado de lado”.
Sem pressa e com cautela
Bap afirmou, na última semana, que o clube não tem pressa para construir seu estádio próprio. Durante entrevista coletiva, em Nova Jersey/EUA, o presidente também descartou usar a premiação da Copa do Mundo de Clubes da Fifa como fonte de financiamento para a obra.
A fala do dirigente contraria o cronograma anterior, divulgado pela gestão do ex-presidente Rodolfo Landim, que havia anunciado o início das obras ainda em 2025.
“Se a gente não tiver certeza de que isso não vai nos empurrar para uma SAF (sociedade anônima do futebol), ou comprometer a performance esportiva do Flamengo, eu não vou fazer o estádio. Temos o Maracanã por mais 19 anos, então temos tempo para isso” disse Bap.
O presidente ainda ironizou a ideia de usar os 2 milhões de dólares da premiação da Fifa no projeto, cujo orçamento total é estimado em cerca de 500 milhões de dólares.
“É como dizer que ‘vou construir uma casa em Angra’. Eu já tenho a bicicleta aqui, mas a casa é um pouco mais cara”, brincou.
Promessa do Flamengo para a prefeitura
Em novembro de 2024, o prefeito Eduardo Paes (PSD) assinou um termo de compromisso com o Flamengo para viabilizar a construção do estádio. O acordo prevê a elaboração de um projeto de lei que permita uma operação consorciada, autorizando o clube a captar recursos para a obra.
Na ocasião, Paes anunciou um apoio público de até R$ 1 bilhão, para cobrir parte dos gastos — que devem ultrapassar os R$ 2 bilhões.
A previsão inicial era iniciar as obras ainda neste ano e inaugurar o estádio em 15 de novembro de 2029, data que marca o aniversário do clube.
Negociação com a Caixa
O terreno no Gasômetro foi oficialmente comprado pelo Flamengo em agosto de 2024. A negociação, no entanto, enfrentou entraves. Cedido pela União ao município em 2013, o local foi posteriormente vendido a um fundo da Caixa Econômica Federal.
O banco entrou na Justiça contra o decreto de desapropriação da Prefeitura, alegando que o valor pago estava abaixo do mercado — estimado em R$ 250 milhões.
O impasse só foi resolvido em outubro, após mediação da Advocacia-Geral da União (AGU), que viabilizou um acordo entre Flamengo, prefeitura e Caixa.