Riobaldo, personagem e narrador do Grande Sertão: Veredas, antológico romance do imortal Guimarães Rosa, mais de uma dezena de vezes afirmou que “viver é perigoso”. Concordo.
Quando adolescente era comum ouvir, e ainda ouço de vez em quando, a frase super arrogante: “Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”. Discordo.
Após quase 60 anos de atividade profissional como engenheiro de petróleo aprendi que inexiste atividade humana isenta de risco, e quando se busca um inalcançável “risco zero” encontra-se do outro lado um inevitável e inviável “custo infinito”. Dito isto, fica clara a imperiosa necessidade de criteriosas análises de riscos antes de ser decidida a viabilidade técnica, ambiental e financeira de qualquer empreendimento empresarial, seja particular ou governamental.
Obviamente que alguns desses estudos são bem simples e outros de enorme complexidade, mas em qualquer um é mandatório a quantificação do prêmio e sua valoração. Sem esse parâmetro bem definido fica impossível aos gestores tomarem a melhor decisão sobre a execução do projeto.
Mas, por que estou escrevendo essas obviedades? Porque ainda não entendi a retumbante campanha de alguns ambientalistas contra a construção de poços exploratórios de petróleo na chamada Margem Equatorial Brasileira.
Poços exploratórios, como o nome diz, são aqueles construídos com o objetivo de comprovar, ou não, a existência de petróleo na região explorada. Assim, um poço exploratório pode oferecer vários resultados: comprovação de jazida comercial, descoberta de jazida pequena não comercialmente viável ou poço totalmente seco. Note-se que em regiões pioneiras o percentual de poços secos ou antieconômicos ultrapassa 70% do total, o que mostra cabalmente o enorme risco financeiro envolvido.
E o risco ambiental? Ora, obviamente que ele existe, mas nunca, ou em mínima proporção, na fase exploratória, onde apenas um ou dois poços isolados são construídos, e cercados de inúmeros cuidados que minimizam o tal risco.
O risco torna-se mais relevante no caso de descoberta de uma jazida com volumes (reservas) de petróleo que compensem os investimentos no desenvolvimento da produção, com a construção de muitos poços e plataformas no já então denominado campo de petróleo. Por conta disso, a centenária indústria petrolífera já desenvolveu ao longo dos anos inúmeras ferramentas e métodos de trabalho que, mesmo reduzindo as rentabilidades dos projetos, são sempre implementados. E isso vem de muito tempo, bem antes do atual patrulhamento ambiental desenvolvido mundo afora. Ou seja, as empresas produtoras de petróleo, além de saberem reduzir os riscos ambientais, responsavelmente os consideram nos estudos de viabilidade econômica.
As estatísticas mundiais mostram como são poucos os acidentes em uma atividade que funciona 24 horas por dia, no mundo inteiro.
Ninguém, responsavelmente, nega a possibilidade de ocorrer algum acidente, mesmo com todas as precauções tomadas. Mas daí a proibir a atividade baseando-se apenas em uma suposta possibilidade, seria, comparando exageradamente, como proibir aviões de voar porque podem cair, proibir trens porque podem descarrilar, suspender o uso de elevadores porque podem despencar. Enfim, Riobaldo tinha razão: Viver é perigoso.
Por tudo isso, acho que é inconcebível a campanha visando impedir a exploração da Margem Equatorial.
Somente após comprovar o que existe no subsolo daquela região será possível fazer um estudo de análise de risco confiável e definitivo, permitindo, ou não, o licenciamento da produção de petróleo ou gás natural.
É isso, ou reeditaremos o “sou contra por não saber e tenho raiva de quem sabe”.
Excelente analogia. Ai vão dizer “exatamente, pra que saber se não queremos que o potencial óleo seja explorado”. Enquanto isso a Guiana acelera a exploração e a cobiça do bigode ditador
É muito lógico e inteligente o que Dr. Alfeu escreve e é de agradável leitura a forma como escreve.
Enfim, será que essa resistência é boicote para que o trabalho seja concretizado em outra gestão e os créditos direcionados a outros?
Discordo parcialmente do ilustre colunista e sugiro novel alteração na frase de Riobaldo: “sou contra por não saber e tenho raiva de quem sabe, por inveja”
Gostei bastante do texto , é bem esclarecedor para os leigos que como eu ouvem apenas o galo cantar sem saber onde nem porque e por conta disso não conseguem ter uma opinião sobre a questão . 👏👏👏👏👏👏👏👏👏
Não tenho elementos para formular uma ideia sobre o tema, me faltam ferramentas! Mas uma questão é certa, a centenária indústria petrolífera avançou bastante em conhecimento técnico e medidas de segurança, além de ser grande geradora de postos de trabalho, renda e desenvolvimento. Assim entendo sua importância para uma nação em desenvolvimento, que precisa ter trabalho para um sem número de desempregados! Desde que a produção seja por brasileiros e para brasileiros, que toda essa “riqueza” permaneça aqui e seja bem distribuída, vale a pesquisa da viabilidade. Se for para apenas enriquecer os mais ricos e mandar tudo para fora, melhor aguardar uma geração menos predadora. Viver é sim, um risco! E como bem descreveu Mário Quintana :”Custa o rico a entrar no céu, afirma o povo e não erra! Porém, muito mais difícil, é um pobre ficar na terra! ” Riqueza não distribuída não transforma realidades.
Mais um artigo ilustrativo que serve de conhecimento aos responsáveis pelas negativas . Bem como a população em geral.
Mais um artigo extremante valioso, esclarecedor e bem didático!
Mestre Alfeu é um poço (com trocadilho, por favor!) de sabedoria!
Saudações !!
Embora Riobaldo feche a questão.
Nesse caso específico, só o conhecimento salva o debate.
Aí chega alguém que domina o assunto e apresenta
análises como estas, que ajudam a tirar a venda, .até daqueles que optam pela cegueira.
Parabéns pela análise e obrigada pelos esclarecimentos!
Riobaldo fecha a questão.
Concordo plenamente, sábias palavras.
Aproveito para fazer uma sugestão de tema. Sua análise a respeito do ocorrido na extração de sal-gema em Maceió.
Um abraço e obrigado
Boia, o momento não é apropriado para opinar sobre o problema com a exploração de sal-gema em Maceió porque o assunto já está judicializado, ademais seria apenas a opinião de um engenheiro sem nenhuma estão/responsabilidade pelo problema, o que caracterizaria o famoso “engenheiro de obra pronta”. Pessoalmente, qualquer dia, posso explicar o que ocorreu e as falhas que podem ter ocorrido. As responsabilidades serão definidas pela justiça, assim espero. Abs
Texto extremamente elucidativo. Obrigada pela aula.
Alfeu, como sempre, cirúrgico. Sempre Riobaldo!
A única coisa que não gostei aqui foi o fato de me sentir uma herege excomungada, toda vez que algo me lembra que ainda não li Grande Sertão: Veredas.