No feriado da Consciência Negra, o prefeito Eduardo Paes divulgou o projeto que vai revitalizar a região da Praça Onze que prevê a derrubada do elevado 31 de Março. Ainda sem data para o início das obras, os comerciantes e moradores da região vivem um momento de expectativa e apreensão, enquanto aguardam os próximos passos do “Praça Onze Maravilha.”
O elevado, que faz parte do antigo projeto das Linhas Policromáticas, idealizadas nos anos 1960 e do qual fazem parte as linhas Amarela e Vermelha, foi inaugurado em 1979, após cinco anos de obras, ligando o bairro do Santo Cristo à Zona Sul pelo túnel Santa Bárbara. A intervenção era a Linha Lilás e foi finalizada na gestão do prefeito Marcos Tamoyo, que reconheceu os transtornos causados aos moradores na época na cerimônia de entrega. A obra rasgou o tradicional bairro ao meio.
Cento e quarenta e cinco imóveis foram desapropriados e nem todos eram residenciais. Uma das construções que sofreram os impactos da obra foi sede do Astória Futebol Clube, que ficava localizado na Rua Catumbi, nº65 e reunia modalidades como basquete, vôlei e tênis de Mesa.
Morador lembra dos tempos de desfiles do bloco ‘Bafo da Onça’ e ‘Vai Quem Quer no bairro
O taxista José Lanzilotta, 67 anos, era atleta federado no futsal do Astória e guarda até hoje a lembrança do antigo bairro.
“Eu frequentava um clube que tinha ali, jogava futsal nele. Ali tinha uma rua grande, enorme. Tinha muitas vilas, o Bafo da Onça formava ali pra desfilar, tinha a quadra do bloco Vai Quem Quer, tinha o Largo do Catumbi, na saída do santa bárbara”, relembra.

José mora na Rua do Paraíso, em Santa Teresa, desde 1972 e tem uma vista clara para o elevado em seu terraço. Afetado pelas obras na década de 70, o taxista trafega pela região diariamente, teme os impactos que as intervenções vão causar na mobilidade do local, mas enxerga a mudança com bons olhos.
“Eu acho que durante a obra vai ser a maior tristeza, porque os motoristas vão ter que desviar muito, mas acho que vai melhorar muito o Catumbi, vai tirar um pouco daquele negócio velho, feio que tem ali. O Catumbi é um bairro de passagem, a coisa mais interessante que tem além do Sambódromo é o cemitério”, brinca.
Para comerciantes bairro vai melhorar, mas temem período de obras com queda no movimento
Quem passa pelo bairro entre o final da manhã e o início da tarde visualiza um cenário que se repete durante toda a semana. Dezenas de veículos, entre táxis, caminhões, veículos particulares e de serviço se dividem em espaços apertados no horário do almoço. Os motoristas estacionam nas margens e embaixo do viaduto para almoçar nos restaurantes do local, que costumam ficar lotados.
Os principais pontos de comércio que existem nas proximidades do Elevado 31 de Março são restaurantes. Na Rua José de Alencar, o restaurante Flecha de Ouro funciona diariamente na produção e venda de alimentos no horário do almoço há 25 anos. O principal público do estabelecimento é formado por taxistas, motoristas de aplicativo e alguns funcionários que trabalham na região e moradores. Para Thiago do Vale, 40 anos, proprietário do restaurante as obras podem prejudicar o funcionamento do local.
“O projeto vai impactar muito no restaurante, podendo ocasionar muito prejuízo porque ali vai ser a única passagem para os veículos enquanto estão fazendo a obra. Não terei o público do táxi e aplicativo, que corresponde a mais de 75% dos meus fregueses”, explica.
Do outro lado do viaduto, na Rua Doutor Lagden, o cenário se repete. O Bar do Gaúcho e o restaurante Calçada da Boemia recebem o mesmo público que se concentra no restaurante Flecha de Ouro. João, 34 anos, um dos donos do Bar do Gaúcho ainda não vislumbra alternativas para manter as atividades durante as obras.

“A obra eu acho que vai ser bem complexa e as pessoas eu acho que vão evitar passar por aqui durante um bom tempo. A gente vende de 200 a 300 refeições por dia e supõe que a maior parte seja de motoristas de aplicativo e taxistas, mas todo dia tem uma pessoa nova, que nunca veio aqui”, conta.
Segurança à noite será maior benefício do projeto, apontam os moradores do Catumbi
O garçom Breno, 30 anos, que trabalha no Calçada da Boemia há 10 anos, aprova o projeto da Prefeitura, mas acredita que o viaduto não precisaria ser derrubado.
“Sabe como é obra, né? Poeira, vai ter que fechar por um tempo, mas pode ser que tenha uma melhoria também”. A única informação que a gente tem é que a obra vai acontecer. “No meu ponto de vista, dá pra revitalizar o Catumbi, mas sem derrubar o viaduto. O viaduto é um dos principais pontos de ligação entre o Centro e a Zona Sul. No dia a dia já tem trânsito, imagina sem o viaduto”, disse.

Luciano Novo, 43 anos, trabalha na loja Brownie da Rô, vizinha do Bar do Gaúcho e do Calçadão da Boemia, e também acredita que a segurança pode e deve melhorar com as intervenções da Prefeitura na região.
“Essa parte aqui é morta demais. Poderiam incentivar, colocar uma praça maneira aqui, alguns quiosques, algumas coisas. Vai movimentar o bairro, querendo ou não, vai ter que dar uma melhorada aqui”, avaliou.
Apesar das diferentes opiniões e argumentos apresentados pelos comerciantes do Catumbi entrevistados na reportagem, todos acreditam que as intervenções da Prefeitura podem levar mais segurança ao local, que é movimentado durante o dia, mas deserto no período noturno.

