No início do ano, é comum os leitores traçarem metas de leituras para os doze meses seguintes. A mais seguida é a de um livro por mês, para quem tem a rotina mais corrida ou deseja construir um hábito de leitura até então pouco explorado. Já os mais ousados estabelecem metas semanais ou diárias, buscando sempre se superar a cada ano.
No entanto, as metas e listas de início de ano são capazes de sufocar e até tirar a leveza do hábito que a presença dos livros deveriam ter nas nossas vidas. É o que pensa Mayara Mariano, de 25 anos. A jornalista de Duque de Caxias tinha a expectativa de ler um livro por mês em 2024, mas só conseguiu ler seis. Para não lidar com esse sentimento de frustração, a solução foi justamente, não fazer listas para 2025.
“Eu acho que estabelecer metas pode ser mais frustrante do que estimulante” conta. “A maioria das pessoas que estabelecem metas, fazem. Mas é muito difícil que eu consiga fazer isso, porque sempre surge algum livro que vai me interessar e eu vou querer fugir de uma leitura que eu já estou fazendo” diz Mayara.
Lazer ou obrigação?
Mayara Mariano também acredita que as leituras por obrigação, para a faculdade e trabalho, também acabam exigindo demais e tirando a possibilidade da leitura por diversão. Outra pressão, além da própria, em atingir as metas pessoais, vem da performance das redes sociais. No entanto, Mayara adiciona uma perspectiva otimista para esse local de troca que a internet pode proporcionar.
“Eu gosto de compartilhar para abrir esse diálogo com pessoas que eu conheço mesmo e que são habituadas a ler. A gente pode ter uma troca legal sobre as nossas perspectivas sobre aquele livro” diz.
A mestre em Estudos Literários pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professora de Leitura da Rede Municipal do Rio, Ana Machado, alerta que o essencial para construir ou retomar este hábito tão importante e enriquecedor, não é necessariamente contabilizar quantas leituras foram feitas.
“É importante entender que a leitura requer tempo e dedicação, principalmente se a obra escolhida for um clássico — livros que necessitam de uma leitura mais atenta por causa de referências intertextuais e vocabulário mais complexo” diz a professora.
Mais eficaz do que fazer listas, muitas vezes de forma até superficial, é aproveitar cada leitura com dedicação e tirar proveito desse momento.