Os fãs de quadrinhos têm um motivo especial para comemorar nesta quarta-feira (30): é o Dia do Quadrinho Nacional, data que celebra a produção brasileira dessa arte que encanta gerações. No Rio de Janeiro, berço de grandes ilustradores e histórias marcantes, os quadrinhos continuam fortes, adaptando-se às novas tecnologias e conquistando um público cada vez mais diverso.
Se ainda houver dúvidas sobre a vitalidade dessa arte, basta conversar com Ricardo Leite, desenhista carioca com quase 50 anos de carreira. O artista conta que sua relação com os quadrinhos começou muito antes de ele aprender a escrever.
“Desde muito pequeno, eu desenhava sem parar. Minha mãe guardava meus desenhos como se fossem joias. Na época, eu não sabia, mas isso foi o começo de uma jornada que, mais tarde, me definiria como artista. Aos três anos, comecei a rabiscar meus primeiros traços, e ali nasceu meu amor pelos quadrinhos”, conta.
A paixão por essa arte cresceu e ele seguiu a carreira artística. No entanto, como acontece com muitos sonhos de infância, os desafios da vida o afastaram dos quadrinhos por mais de 30 anos. Foi só em 2013, durante uma viagem ao Museu Hergé, na Bélgica, que Ricardo reencontrou seu propósito.
O resultado desse reencontro foi o livro “Em busca do Tintin perdido” (2022), uma obra que mistura suas memórias pessoais e uma homenagem aos mestres dos quadrinhos que o inspiraram.
“Escrever o livro foi como resgatar um sonho antigo. Percebi que, após anos afastado dos quadrinhos, era o momento de realizar aquele sonho que eu havia deixado para trás. A história que conto no livro mistura memórias pessoais com um tributo aos grandes autores do passado. Foi esse livro que reacendeu meu amor por esse universo”, afirma.
Mudanças na forma de criar quadrinhos
Leite observa que a tecnologia tem mudado até mesmo a maneira de criar quadrinhos. Hoje em dia, qualquer pessoa pode utilizar programas de inteligência artificial para gerar ilustrações, mesmo sem habilidades tradicionais de desenho. No entanto, ele acredita que, independentemente das mudanças nas ferramentas e nas formas de criação, “nenhuma arte morre; ela apenas se transforma”.
Atualmente, Ricardo vê o mercado de quadrinhos mais diversificado e vibrante do que jamais foi. Se antes apenas gigantes como Mauricio de Sousa e Ziraldo conseguiam viver da arte, hoje há mais espaço para autores independentes.
“O mercado de quadrinhos no Brasil está em um momento muito interessante. Nunca se publicou tanto, e o cenário está mais diversificado do que nunca. Porém, a luta para muitos artistas ainda é grande. Antigamente, apenas nomes consagrados conseguiam viver dos quadrinhos. Hoje, vemos mais artistas conseguindo se sustentar com isso, mas o caminho ainda não é fácil”, conclui.
O que é Dia do Quadrinho Nacional
O Dia do Quadrinho Nacional, em 30 de janeiro, faz alusão à publicação da primeira HQ no país. Esse gênero literário com origem no final do século XIX, tornou-se mais do que uma leitura esporádica tornando-se para muitos casos um item colecionável.
No Brasil as primeiras HQ’s que se tem notícia são datadas de 1869 e foram escritas e desenhadas por Ângelo Agostini, um imigrante italiano. Em 30 de janeiro do ano em questão foi publicado no periódico “Vida Fluminense” a primeira edição de “As Aventuras de Nhô Quim”, a publicação é tida como a primeira história em quadrinhos genuinamente brasileira.