Que ninguém estranhe se o prefeito Eduardo Paes (PSD) chamar a base para uma freada de arrumação.
Ele não engoliu o fato de um dos principais projetos de seu novo mandato, a criação de uma força de segurança apta a usar armas de fogo, ter saído da pauta da Câmara do Rio nesta quinta-feira (22). Em postagens nas redes sociais, pôs a culpa na oposição (PL, União e Novo) que, segundo ele, teriam votado contra uma bandeira cara à direita, o armamento da Guarda Municipal.
Mas, segundo a matemática (especialidade de Paulo Messina, aliás, o arquiteto da manobra regimental que levou o governo à lona nesta quinta), não é bem assim.
Tradicionalmente, o legislativo carioca aprova os projetos em primeira discussão, deixando para só apresentar as emendas depois — e, assim, acelerar a votação. Mas não foi o que aconteceu com o PLC 13/2025. Ele recebeu uma emenda logo que deu o ar de sua graça na ordem do dia. E, com isso, só poderá voltar ao plenário do Palácio Pedro Ernesto depois de o texto receber parecer das comissões.
E olha que a quantidade de assinaturas da emenda foi exata, nem uma a mais, nem uma a menos: só as 17 necessárias. Na velha conta do chá.
Os números não deixam dúvidas: a oposição, sozinha, não teria conseguido atrapalhar a tramitação da proposta — que, afinal, só precisa de 26 votos para ser aprovado.
Além das assinaturas de dois dos quatro vereadores petistas — lembrando que o partido tem três secretarias municipais — também estavam lá as rubricas de Leniel Borel (PP), do partido do secretário de Envelhecimento Saudável, Felipe Michel; e de Rodrigo Vizeu (MDB), também bem próximo do Palácio da Cidade.
Então, mesmo que PL/União e Novo quisessem barrar a proposta só por pirraça política, não iriam a lugar algum se não tivessem uma ajudinha dos governistas.
Um novo cenário na Câmara
Na verdade, Paes agora tem uma oposição na Cinelândia como o Palácio da Cidade poucas vezes viu. Messina é o maestro, o PL faz barulho, e o PSOL vai atrás.
Se juntar mais uns desgarrados, o estrago nos planos do governo está feito.
Citação estratégica
Paes fala na bancada Castro/Bacellar, ou PL/União.
Mas o partido do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, o União Brasil, só tem um solitário vereador no velho Palácio Pedro Ernesto, Jorge Canella.
A citação conjunta dos dois partidos parece muito mais uma estratégia para colar Bacellar à atual administração estadual — que anda para lá de mal cotada com os habitantes do estado.
De bobo, o prefeito não tem nada.
Paes, o visionário
Aliás, como disse o próprio Paes aos mais próximos — quando o vice-governador Thiago Pampolha renunciou ao cargo e abriu caminho para Bacellar disputar a eleição do ano que vem já instalado no Palácio Guanabara: a campanha, de fato, já começou.