Com temperaturas elevadas, baixa umidade e ausência prolongada de chuvas, os efeitos das mudanças climáticas se tornaram uma realidade cotidiana para os moradores do Rio de Janeiro. A estiagem prolongada, em particular, apresenta desafios crescentes para concessionárias de água e saneamento, que agora enfrentam níveis críticos em represas e mananciais. Segundo a Águas do Rio, que atende a 27 cidades no estado, a grande contribuição das distribuidoras de água para mitigar os impactos do que pode se tornar uma realidade cada vez mais comum é gerir bem a água tratada que já está dentro do sistema de abastecimento.
Desde julho, quando a estiagem se intensificou, a concessionária afirma que colocou em prática uma série de medidas emergenciais. Implantou sistemas de bombeamento e redirecionou água recebida do sistema Guandu, de responsabilidade da Cedae, para abastecer áreas da Baixada Fluminense atendidas pelas represas do Sistema de Acari.
Já em São Gonçalo, a vazão do Imunana-Laranjal está sendo monitorada. Em ambas as regiões, a frota de caminhões-pipa e balsas garantem o fornecimento de água, especialmente em unidades de saúde.
“Mas em um mundo onde as mudanças climáticas e a escassez hídrica já são uma realidade, ações emergenciais não bastam. Estamos trabalhando para evitar todo e qualquer desperdício”, afirma o presidente da Águas do Rio, Anselmo Leal. De acordo com ele, o foco do planejamento e ações da empresa está na recuperação de sistemas deteriorados, como tubulações, reservatórios de água e sistemas de bombeamento, além do investimento em tecnologia de ponta. É o caso de um satélite que identifica vazamentos subterrâneos e aponta onde é preciso fazer um reparo.
“Quando o assunto é garantir a segurança hídrica do estado em médio e longo prazos, estamos falando de combater a perda de água tratada nos sistemas de abastecimento. Para se ter uma noção, hoje, cerca de 19 bilhões de litros de água tratada é perdida por mês em vazamentos em toda a área de concessão. Esse volume poderia abastecer cerca de 4 milhões de pessoas. Ou seja: trazer esse recurso de volta para nossas tubulações e reservatórios significa não apenas conseguir chegar a regiões com problemas históricos de abastecimento, mas também exigir menos dos mananciais”, explica Leal.
Tecnologia: uma aliada do abastecimento
Desde o ano passado, a concessionária conta com o apoio de um satélite, que antes buscava água em Marte, para encontrar vazamentos ocultos, até três metros abaixo da superfície. A 600 km da Terra, o equipamento consegue identificar a presença de água tratada no subsolo, rastreando o cloro dissolvido. A tecnologia poupa o tempo das equipes que fazem os reparos das tubulações nas ruas.
Além da identificação de vazamentos, a Águas do Rio vem investindo na instalação de 266 válvulas inteligentes em pontos estratégicos de sua rede de fornecimento de água. Essas válvulas, que são capazes de ajustar automaticamente o fluxo de água conforme a demanda de cada região, representam uma tecnologia inédita na concessão. Com essa inovação, a companhia vai garantir uma distribuição mais homogênea para a população da Região Metropolitana, além de reduzir os vazamentos provocados por altas pressões nas tubulações.
Desde que assumiu a operação em 2021, a concessionária afirma que já investiu R$ 3,5 bilhões em melhorias no sistema e no combate ao desperdício. Esses esforços, de acordo com a empresa, evitaram a perda de 3 bilhões de litros de água por mês, o suficiente para abastecer mais de 620 mil pessoas.