Entre bares tradicionais, ruas movimentadas e um dos maiores polos culturais da cidade, a Grande Tijuca vive uma rotina marcada pelo contraste entre o charme histórico e o medo crescente. A sensação de insegurança se espalha entre moradores e comerciantes — e os números confirmam que não se trata apenas de impressão.
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), os roubos na região aumentaram 29% em 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado, saltando de 1.539 para 1.978 casos. Embora os furtos tenham apresentado leve queda, continuam altos: foram mais de 3 mil registros somente neste ano.
Essa criminalidade impacta diretamente a rotina local, principalmente à noite. A Tijuca, que sempre foi sinônimo de boemia, tem visto o movimento diminuir e a economia noturna se moldando conforme a segurança pública diminui e o domínio de criminosos cresce. Restaurantes e bares fecham mais cedo e muitos moradores evitam sair após o anoitecer. A mudança de hábitos vem acompanhada de prejuízos econômicos e de uma sensação de abandono do poder público.

Jaime Miranda, presidente da Nova Tijuca — associação que reúne moradores e empresários da região —, relata que a mudança de comportamento é visível.
“Eu procuro estar em casa à noite. Não gosto de sair, mesmo de carro. As pessoas também mudaram os hábitos: cresceu muito o uso de delivery por medo. Os bares sofrem com isso… às dez da noite já está todo mundo fechando”, contou.
Essa percepção não é exclusiva de Jaime. A empresária Vera de Sá também nota uma mudança nos costumes dos tijucanos provocada pelo aumento da sensibilidade insegurança.
“A queda no movimento se deu por dois motivos: violência e pandemia. Vários colegas meus tiveram um faturamento reduzido devido a baixa frequência de clientes, que evitam frequentar restaurantes a noite”, declarou Vera.
Para ela, o problema vai além. Lojas, bares e restaurantes também começaram a ser alvo desse tipo de crime. Por isso, a maioria desses estabelecimentos começaram a investir em dispositivos de segurança, como câmeras, e vigias noturnos. Mesmo assim, Vera explica que isso não afasta os criminosos e que os lojistas continuam com problemas de furto de equipamentos e mobiliários.
“Isso causa bastante desânimo, pois a margem de lucro está cada vez menor. Então, quando temos que substituir qualquer objeto roubado causa muito desgosto para o comércio”, concluiu.
Tijuca: ponto estratégico para o crime
A localização da Grande Tijuca também contribui para que o bairro seja visto como estratégico por facções criminosas. Situado entre a Zona Norte e o Centro, com acesso direto à Zona Sul, o bairro é um elo geográfico entre diferentes regiões — muitas delas dominadas por grupos rivais do tráfico. Comunidades como Salgueiro, Borel, Formiga e Morro dos Macacos tornam a região ainda mais vulnerável.

“O Rio, diferente de outras capitais, tem favelas controladas por facções dentro da própria cidade, o que torna as regiões ao redor mais vulneráveis. A Tijuca não é exceção”, explica o especialista em segurança pública Paulo Storani. “Para reduzir os índices, é necessário intensificar o policiamento, especialmente em pontos estratégicos”.
Porém, quem vive na região não vê essa intensificação. A empresária Vera de Sá relata que a sensação de insegurança é crescente e que a presença policial é quase inexistente, especialmente à noite.
“O policiamento é mínimo. À noite, você anda pelas ruas e não vê nenhum policial nas calçadas”, lamentou.
Enquanto isso, a vida noturna da Tijuca segue silenciosa — não por falta de tradição ou opção, mas por medo. O TEMPO REAL procurou a Polícia Militar, questionou à corporação sobre o aumento da sensação de insegurança na região, mas, até o fechamento deste texto, não havia sido encaminhada resposta.