Prevenir é o melhor remédio. As chuvas de verão, que ocorrem durante os meses de janeiro, fevereiro e março, são velhas conhecidas da população. Sai ano, entra ano, as tempestades costumam assustar os moradores do Rio de Janeiro. Nessa segunda-feira (7), as fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro deixaram diversos pontos de alagamento e de registro de granizo.
Mas se os temporais não podem ser evitados, ainda mais em tempos de eventos climáticos extremos, os efeitos poderiam ser minimizados. É a falta de investimento em urbanização e infraestrutura que resulta em alagamentos e até em tragédias. Fica o questionamento: se as chuvas de verão já são conhecidas, por que as cidades não se preparam para recebê-las?
“Infelizmente, no Brasil, no Rio de Janeiro, quando acontecem fortes chuvas, há uma tragédia anunciada. Isso acontece porque é necessário realizar algumas ações que, lamentavelmente, não são feitas. Existem ações preventivas de manutenção e conservação das redes pluviais, como a limpeza de bueiros, algo que deve ser feito de forma contínua. É importante que esse trabalho seja realizado, inclusive, em tempo seco, com a limpeza dessas galerias”, explicou Sydnei Menezes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro.
Para o presidente do CAU/RJ, a inércia do poder público não ocorre por falta de soluções e alternativas. Ele cita os “piscinões” da Praça da Bandeira e da Tijuca como medidas bem-sucedidas no combate às enchentes recorrentes que assolavam a região da Grande Tijuca. Esses reservatórios armazenam as águas pluviais para evitar que as redes de esgoto sejam sobrecarregadas, prevenindo alagamentos.
“A ausência de políticas públicas permanentes é responsável pelo aumento absurdo de casos no estado do Rio de Janeiro, além da fragilidade ou negligência na fiscalização. Ações mais duras, conjuntas, de políticas públicas precisam ser implementadas. É um trabalho de formiguinha, demorado, às vezes não aparece, mas é muito importante para evitar as tragédias anunciadas. Uma das soluções urbanísticas mais eficazes para conter as águas de chuva é preparar a cidade com uma infraestrutura que possa recolher esse excesso de água antes de seu despejo nas redes pluviais e nos rios e córregos”, afirmou.
Somente em fevereiro do ano passado mais de 230 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas fortes no estado do Rio de Janeiro, de acordo com dados levantados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). A população mais vulnerável é a que reside em áreas de risco, mais suscetíveis a deslizamentos e enchentes. O presidente do CAU/RJ defende uma união entre o governo estadual e as prefeituras para o mapeamento dessas áreas de risco e a criação de um sistema de alerta eficaz para os moradores desses locais.
“Outra solução é tratar as encostas com levantamento das áreas de risco. Isso já é feito em muitas cidades brasileiras. É importante alertar previamente para que as pessoas deixem as áreas de risco. A cidade do Rio já faz esse trabalho de forma eficiente. Existem ações preventivas imediatas e de médio e curto prazo.”
A arborização urbana também é um dos principais aliados da população, ajudando na absorção das águas das chuvas e aliviando as cada vez mais altas temperaturas. Em tempos de eventos climáticos extremos, Menezes defende a criação de praças e áreas verdes:
“É preciso traçar, nas ruas da cidade do Rio, em especial nas zonas norte e oeste, que têm uma carência enorme desse tipo de política pública, uma ação permanente de plantio de árvores”.