Quem visita hoje o Centro do Rio, antes um ponto movimentado, com filas nas agências bancárias e pessoas saindo com envelopes nas mãos, já percebe uma grande mudança. Nos últimos quatro anos, mais da metade das agências físicas da região fechou as portas, segundo levantamento divulgado pelo Sindicato dos Bancários do Rio.
Entre 2021 e abril de 2025, 163 das 294 agências e Postos de Atendimento Bancário (PABs) localizados no Centro foram fechados. O setor bancário vê nesse movimento uma ameaça não só aos empregos, mas também à revitalização da região, que vem sendo estimulada pela Prefeitura do Rio por meio do programa Reviver Centro.
Impactos no Centro
“O esvaziamento das agências no Centro começou nos anos 1990, principalmente após a privatização do Banerj, em 1997. Mas atualmente, o fechamento das agências físicas pelos bancos privados tem se intensificado, resultando em demissões em massa e prejudicando principalmente os mais vulneráveis, como os idosos, que têm dificuldade para usar as plataformas digitais”, alerta Kátia Branco, vice-presidente do sindicato.
A prefeitura aposta na reocupação do Centro com a construção de condomínios residenciais e incentivos fiscais para novos negócios, esperando que o aumento da população estimule o comércio local, como padarias, farmácias e mercados. Entretanto, enquanto o setor imobiliário cresce, as instituições financeiras seguem fechando suas unidades, enfraquecendo um dos pilares da economia local.
“Quando uma agência fecha, não se perde apenas o atendimento bancário. São empregos, circulação de pessoas e o comércio do entorno que são afetados”, explica Kátia.
A escalada do fechamento
No setor público, o Banco do Brasil fechou 12 agências no Centro entre 2020 e 2025, enquanto a Caixa Econômica Federal transformou nove unidades físicas em digitais, reduzindo o atendimento presencial. Entre os bancos privados, a retração é ainda maior.
O Bradesco anunciou em março de 2025 o fechamento da agência na Rua Rodrigo Silva, no Castelo, como parte de um plano nacional que resultou no encerramento de 399 agências e 734 postos em 12 meses, além de 2.084 demissões.
O Itaú também segue nessa linha: apenas entre janeiro e maio de 2024, fechou 127 agências em todo o país, sendo 90 já encerradas e 37 em processo de fechamento. No ano passado, protestos contra esses fechamentos foram realizados na Tijuca, na Zona Norte do Rio.
No Centro do Rio, o sindicato estima que entre mil e 1,2 mil vagas de trabalho bancário foram perdidas desde o início desse processo. O impacto vai além do setor financeiro, afetando a movimentação e o comércio local, como bares e restaurantes.
Crescimento do uso de plataformas digitais
Embora os bancos justifiquem os fechamentos pelo crescimento do uso de plataformas digitais, o sindicato e entidades de defesa do consumidor alertam que essa transição não tem sido acompanhada de segurança e inclusão digital adequadas, especialmente para idosos e pessoas de baixa renda.
“O sistema financeiro, mais do que qualquer outro, poderia manter mais agências abertas. Porém, os bancos preferem priorizar seus lucros, sem compromisso social com a população, as cidades e a categoria bancária”, critica Kátia Branco.
Dados da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP) revelam que, em 2025, os crimes digitais cresceram 45% em relação ao ano anterior, com cerca de 5 milhões de fraudes no país. Um em cada quatro brasileiros foi alvo de tentativas de golpe, e metade desses casos foi bem-sucedida.