A política do Rio está em suspense sobre os rumos da pré-campanha do deputado federal Alexandre Ramagem à Prefeitura do Rio, depois que veio à tona, nesta quinta-feira (11), a informação de que a Polícia Federal encontrou com o ex-diretor da Abin o áudio de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro.
Até entre filiados ao PL de Ramagem, há muita expectativa sobre a reação da família Bolsonaro ao saber que o presidente estava sendo gravado. No encontro, só havia pessoas de confiança e entre os assuntos discutidos estava o processo contra o senador Flávio Bolsonaro pelo esquema de “rachadinha”. A ação acabou arquivada.
Flávio divulgou um vídeo nas redes sociais, afirmando ter sido vítima de um grupo criminoso de auditores fiscais da Receita Federal, que acessaram dados sigilosos sobre ele durante o processo iniciado ainda na época em que era deputado estadual. No vídeo, Flávio só fala dele mesmo, e não cita Ramagem ou qualquer outro envolvido nas denúncias.
Ninguém mais, do clã ou do PL, tocou no assunto. Mas, políticos próximos à família garantem que não houve quebra de confiança e que os Bolsonaro continuam, convictamente, aliados a Ramagem.
Áudio tem uma hora e oito minutos
O áudio foi localizado pela Polícia Federal, que deflagrou nesta quinta-feira a quarta fase da Operação Última Milha sobre a “Abin Paralela”, um esquema de monitoramento ilegal de autoridades e produção de notícias falsas. Ramagem foi alvo de buscas da operação em janeiro.
A gravação tem uma hora e oito minutos e está descrita no relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que baseou a deflagração da operação. Na reunião gravada, além de Jair e Ramagem, estavam ainda o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e uma advogada do senador Flávio.
Segundo a PF, o delegado gravou a reunião para tentar retaliar servidores federais que participaram das investigações sobre o esquema de “rachadinha”. A polícia afirma que foi possível identificar atuação de Ramagem, enquanto chefe da Abin na gestão de Bolsonaro. Ele abriu um procedimento administrativo para retirar os auditores da Receita Federal dos cargos e anular a investigação contra Flávio.
Ninguém, no entanto, teve acesso à íntegra da gravação. O que também está gerando muitas especulações no meio político do Rio.
Alvos da operação
Nesta quinta, foram alvos de mandados de prisão e de busca e apreensão o subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues; o ex-assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) Mateus Sposito; o policial federal Marcelo de Araújo Bormevet; Richards Dyer Pozzer; e Rogério Beraldo de Almeida.
De acordo com a Polícia Federal, desses cinco, quatro já foram presos pelos agentes da corporação. Apenas Rogério segue foragido.
Além deles, José Mateus Sales Gomes e Daniel Ribeiro Lemos, ex-assessores do vereador Carlos Bolsonaro foram alvos de busca e apreensão.
Com FABIANA PAIVA.