O Rio não quer só o título de capital honorária do Brasil — quer aparecer no mapa como uma capital global. Da Cúpula do G20 em 2024 à reunião dos países do Brics neste fim de semana, passando pelo lançamento da Rio AI City, está claro que a Cidade Maravilhosa mira o mundo.
Até esta segunda-feira (7), a capital fluminense sedia a 17ª Cúpula do Brics, sob o lema “Sul Global Inclusivo e Sustentável”, reunindo chefes de Estado e de governo dos países membros e parceiros do bloco. O evento ocorre no Museu de Arte Moderna (MAM), com a participação de representantes das 20 nações que integram o Brics — tanto membros plenos quanto associados.
Cúpula do G20 e capital da IA
Mas esse não é o primeiro evento internacional que o Rio recebe nos últimos anos. Em 2024, a cidade sediou, pela primeira vez, a Cúpula do G20, reunindo líderes das principais economias do mundo. Participaram presencialmente nomes de peso como os presidentes e primeiros-ministros da Índia, França, Alemanha, Japão, África do Sul, Indonésia e Argentina.
Se antes Eduardo Paes (PSD), também presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), defendia que o Rio fosse considerado a capital honorária ou cidade federal do Brasil, agora ele tem um novo objetivo: transformar o Rio na capital brasileira da inteligência artificial (IA).
A nova empreitada foi apresentada na última terça-feira (1º), com o lançamento da campanha Rio AI City. A proposta é atrair empresas da área de tecnologia e IA do mundo inteiro. Segundo Paes, a meta é que o projeto tenha capacidade energética de até 1,8 gigawatt (GW) até 2028, e de 3 GW até 2032.
“Não é uma tarefa simples”, reconheceu o próprio prefeito.
As viagens internacionais
Mas, para quem já levou Madonna e Lady Gaga à Praia de Copacabana em dois anos consecutivos, com shows gratuitos, o impossível parece mais uma questão de opinião. E Paes tem feito movimentos claros para que o Rio chegue ao mundo, tanto quanto o mundo tem chegado ao Rio.
Em junho, o prefeito participou de um encontro internacional com outros 14 prefeitos, conectando diretamente a pauta carioca — especialmente em preparação para a COP30, em Belém — às metas globais de clima e energia limpa. Já em maio, passou por Los Angeles, São Francisco, Seattle e Washington, numa espécie de roadshow da cidade como polo inovador e sustentável.
O que dizem os especialistas
Esse movimento já é percebido por especialistas. Segundo o professor Marcial A. G. Suarez, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), o Rio tem potencialidades claras para se posicionar como uma capital global, e o turismo é uma delas. Só no primeiro semestre de 2025, a cidade recebeu mais de 1,5 milhão de visitantes.
“Os desafios que se colocam em temos diretos são similares ao de todas as capitais e metrópoles, especialmente na América Latina. A infraestrutura deficiente e a segurança, além do fato da cidade do Rio estar parcialmente qualificada naquilo que poderia ser definido como uma cidade inteligente”, pontua o pesquisador.
Problemas de infraestrutura e segurança
Para ele, no entanto, os problemas enfrentados durante os últimos grandes eventos realizados no Rio persistem e indicam uma necessidade “urgente” de investimento em políticas públicas. Ele destaca uma cidade que almeja alcançar status global não pode continuar convivendo com tantos problemas estruturais e falhas na segurança pública.
“O Rio precisa de um investimento significativo em infraestrutura, por exemplo, para lidar com períodos de chuva. Não dá para imaginar uma cidade com projeção global enfrentando alagamentos. Em termos de segurança pública [responsabilidade estadual], a taxa de quase 30 homicídios por 100 mil habitantes inviabiliza qualquer pretensão de ser uma cidade global nos moldes internacionais”, completa.