Com a interdição da plataforma Martim Leste (P-53), na sexta-feira (18), e o incêndio na Cherne 1 (PCH-1), nesta segunda-feira (21), ambas operadas pela Petrobras na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, os municípios que dependem dos royalties da região já se preocupam com o impacto financeiro dos incidentes.
A Bacia de Campos, a mais antiga do estado, abrange os municípios de Macaé, Campos dos Goytacazes, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Rio das Ostras, Carapêbus e São João da Barra, além de estender-se para o sul do estado do Espírito Santo.
Incêndio na Cherne 1
A Petrobras ainda não esclareceu as causas do incêndio ocorrido na plataforma Cherne 1 (PCH-1) na manhã desta segunda-feira, a cerca de 130 km da costa de Macaé. O incêndio resultou na interrupção do escoamento de gás, afetou as comunicações da plataforma e deixou ao menos 14 trabalhadores feridos. As informações são do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF).
Um trabalhador foi resgatado do mar com queimaduras leves e levado para atendimento médico na plataforma PNA-1. Em nota, a Petrobras informou que o trabalhador estava consciente e em processo de desembarque aeromédico.
Cabe destacar que, em 2024, a Petrobras assinou contratos com a Perenco para a cessão total de sua participação nos campos de Cherne e Bagre, por US$ 10 milhões. No entanto, a entrega completa está prevista para agosto. A Petrobras já recebeu US$ 1 milhão, e o restante será pago no fechamento da operação.
Interdição da Martim Leste
Já a plataforma P-53 (Martim Leste), que foi interditada na última sexta-feira pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), também gerou preocupações, uma vez que a produção da plataforma é um dos principais responsáveis pelos royalties pagos aos municípios da região. A ANP identificou graves falhas de segurança na plataforma durante uma auditoria realizada entre 8 e 17 de abril, o que levou à suspensão das operações.
O relatório técnico da ANP apontou diversos desvios críticos de segurança, muitos dos quais já haviam sido identificados em uma interdição anterior, em fevereiro de 2024. Ao todo, cerca de 240 trabalhadores estão parados enquanto a plataforma continua interditada.
Entre os principais problemas encontrados estão a degradação severa de estruturas críticas, como vigas que sustentam tubulações de fluidos perigosos, além da ausência de medições técnicas confiáveis e falhas na avaliação de danos.
O que diz o presidente da Ompetro
Pouco tempo depois do incêndio desta segunda-feira, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho (PSD), e presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), alertou sobre os possíveis efeitos econômicos negativos para a região.
“Falei a pouco com o presidente do Sindipetro que ainda está avaliando quais medidas serão tomadas. A principal plataforma de produção da nossa bacia já havia sido interditada na semana passada e esses incidentes somados ao tarifaço de Trump [presidente do EUA], que fez o barril despencar abaixo dos 60 dólares, trará problemas de fluxo de caixa nos próximos meses aos municípios da região. Muita serenidade e sabedoria a todos!”, afirmou o prefeito.
Pode afetar em cerca de 15% os royalties
Marcelo Neves, secretário executivo da Ompetro, também se manifestou sobre o impacto financeiro. Ele explicou que, dos dois incidentes, o que mais preocupa é a interdição da plataforma Martim Leste, que, se ficar paralisada por um mês, pode afetar em cerca de 15% os royalties dos municípios.
“Cherne tem uma produção muito pequena, inferior a 1% se ficar paralisada o mês inteiro. Lembrando que a produção é apenas um dos itens no cálculo dos royalties que ainda possuem a cotação do Brent e a cotação do dólar como as outras variáveis de cálculo. Lembrando que o Brent já vem caindo nas últimas semanas em decorrência do tarifaço de Trump. O impacto financeiro dessas ocorrências se dará a partir de junho, pois os repasses ocorrem 2 meses após a produção.”, afirmou Neves.
A Bacia de Campos foi descoberta na década de 70 e, desde então, se tornou um dos maiores polos produtores de petróleo do Brasil. Em seu auge, a região foi responsável por cerca de 80% da produção nacional. Atualmente, a bacia ainda abriga campos gigantes, como Roncador e Marlim, e continua a ser um dos maiores responsáveis pela produção de petróleo do país, com operações em águas profundas e ultraprofundas.
Descaso na Bacia de Campos
Em vídeo publicado nas redes sociais, o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense informou que está no Hospital Público Municipal de Macaé (HPM) prestando apoio às vítimas da explosão. A diretoria do Sindipetro-NF também destacou que acompanha com preocupação mais este episódio e reforça que tem denunciado sistematicamente, ao longo dos últimos anos, a falta de investimentos em manutenção e na integridade das plataformas da Bacia de Campos.
Para o sindicato, os acidentes, que vêm se tornando recorrentes, são o resultado direto de anos de negligência dos governos anteriores, que abandonaram as políticas de segurança e integridade das unidades offshore, provocando o sucateamento das instalações.
“Infelizmente, o que vemos hoje são as consequências práticas do desmonte da indústria nacional do petróleo. O sucateamento da Bacia de Campos, além dos prejuízos econômicos, coloca em risco a vida dos trabalhadores. Não é por acaso que acidentes como esse têm se tornado mais frequentes”, afirma a direção do Sindipetro-NF.
Denúncia
O sindicato também informou que continuará acompanhando o caso de perto e indicará um diretor para compor a comissão de apuração do acidente.
Além disso, irá denunciar a ocorrência a todos os órgãos competentes, como a Marinha do Brasil, Agência Nacional do Petróleo (ANP), Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e demais entidades responsáveis pela fiscalização das condições de saúde e segurança na indústria do petróleo.