A minha fé no Brasil está definhando a cada dia. O ex-presidente Bolsonaro (PL), sem ter enganado ninguém durante a campanha eleitoral, na sua gestão comprovou o que sempre soubemos: mostrou-se totalmente despreparado para o cargo e fez, para surpresa de ninguém, uma péssima presidência, desestruturando totalmente as administrações dos ministérios e agências reguladoras. Aliando tudo isso a sua falta de empatia, o prazer dos aplausos no curralzinho, o amor às armas, a sedução dos fardados, o desprezo pelo meio ambiente, as calúnias sobre fraudes em urnas eletrônicas, os elogios aos torturadores e a permanente obsessão por uma ditadura local, me fazem concluir que dele não se pode esperar nada de bom. Todavia, apesar de tudo, ele continua liderando milhares de fiéis eleitores, imbuídos de um, para mim, inexplicável fanatismo que alimenta o apoio que recebe dos direitistas extremados.
No rastro daquela desastrada presidência, foi aberto espaço para o retorno da esquerda, mais pelo desejo da sociedade em preservar a ameaçada democracia do que pela esperança de uma governança próxima da excelência dos dois primeiros mandatos de Lula (PT). Todavia, a quase certeza de ter minoria no Congresso, uma oposição bem estruturada nas redes sociais e um monte de ministérios destroçados no governo Bolsonaro, fazia com que os mais atentos observadores não criassem expectativas otimistas do novo governo eleito democraticamente.
Após a eleição, na busca de apoio parlamentar, Lula fez um ministério fraco, com ministros que, com poucas exceções, concretamente não podem ser chamados de excelentes, de experientes ou com notório saber. Isso, mais a concretização da esperada minoria nas duas casas legislativas, está impedindo a entrega de tudo aquilo que foi prometido na campanha.
Assim, fica o país a patinar entre uma oposição super digital, barulhenta, muitas vezes caluniosa, mas eficiente nos seus propósitos, e um governo super analógico, parado no tempo, tentando repetir o passado sem entender (ou aceitar) que as demandas da sociedade mudaram. Há mais de 2.500 anos, Heráclito de Ephesus ensinava que “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece as águas já serão outras”. Simples assim.
Os analistas políticos tentam amenizar a difícil situação político-administrativa nacional repetindo o mantra: “pelo menos as instituições estão funcionando”. E eu não me conformo. Funcionando como? Com o presidente da Câmara Federal escolhendo individualmente as pautas a serem votadas? Ou arquivando pedidos de impedimento presidencial, usando seus critérios pessoais de julgamento? Como dizer que as instituições funcionam normalmente quando o Procurador-Geral da República é escolhido fora da lista tríplice? Escolhas de ministros do STF feitas por afinidade religiosa, ou gratidão pessoal do presidente, fazem as instituições funcionarem? Aprovação de ministro do TCU quase três meses antes da aposentadoria do titular? Fila interminável de processos nas Comissões de Ética da Câmara e do Senado, que não deslancham por puro corporativismo? Parlamentarismo disfarçado, com o Congresso administrando o orçamento nacional e criando várias emendas em causa própria sem a responsabilidade de um primeiro ministro? E a blindagem dos familiares e amigos de políticos em processos que não saem do lugar? A aceitação de processos de impeachment sendo conduzidos por critérios políticos e não por técnicos? Milhares de cargos na Justiça criando penduricalhos e ganhando remunerações imensamente superiores aos tetos legais, é aceitável?
Não, pessoal, definitivamente as instituições não estão funcionando. Estão acomodadas e cuidando mais dos seus interesses próprios do que da sociedade que representam. E isso me deprime. Não era esse o país que eu sonhava em deixar para os meus netos. No ocaso da vida, sou um perdedor. Só me resta parafrasear Darcy Ribeiro e me consolar pensando que é melhor perder do que ganhar estando do lado errado. Ou, jocosamente, lembrar Stanislaw Ponte Preta: “Ou todos nos locupletemos ou restaure-se a moralidade no país”.
Rio, 2025
Concordo com vc. Não é esse o país que queria. Abs
Concordo na essência, mas não em todos os elementos. A introdução faz afirmativas controversas. Não vi essa excelência toda no Lula2. A despeito da tragédia democrática, na gestão Bolsonaro algumas coisas foram ajustadas.
Na balança eu jogo os 2 pratos no lixo.
Falar de nossas “Agências Reguladoras”, é difícil perante uma ENEL, VIVO entre tantas outras que se arrastam (a governos).
Ver que o “orçamento secreto” ganhou outro nome, que o “gabinete do ódio” ainda está atuante (do outro lado da mesa) e que pessoas sem o menos lastro moral (ou curricular ou intelectual) viraram “Autoridades” pelas fantasias que vestem, é decepcionante.
Esse não é, definitivamente, o Brasil que escolhi e aplaudo o ilustre autor dessa matéria.
Ainda vamos demorar muito para chegar onde queremos. O estrago foi grande com a passagem de Bolsonaro pela presidência. Crateras enormes, muitos anos de atraso, direitos já conquistandos voltando a estaca zero. Foi um desastre que o Brasil não merecia ter passado.
Considerando meu limite de conhecimentos, acho que realmente as instituições não estão funcionando a contento. A maior culpa recai, na sua maioria, ao fraco Ministério formado pelo Presidente Lula. As duas casas legislativas também têm a sua parcela de culpabilidade. Concordo em boa parte, com as críticas atribuídas ao ex-presidente Bolsonaro, ressalvando apenas, que ele não demonstrou ser desonesto durante sua administração. Também estou de pleno acordo, que ao invés de Democracia, estamos navegando num Parlamentarismo disfarçado. O fato é que a atual administração brasileira, a continuar dessa maneira, estará caminhando a longos passos, para uma verdadeira “bagunça generalizada”. Creio que ainda há tempo para uma surpreendente recuperação e implantação de uma político-administrativa de respeito. Alfeu, nota máxima para os seus excelentes comentários.
Excelente comentário