A ONG Nossa Lagoa Viva denunciou o que chamou de uma situação de colapso ambiental da Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos. Segundo especialistas, a má gestão do esgoto na região tem causado a mortandade de peixes e aumentado significativamente a poluição da água.
Segundo Marcos Valério, gestor ambiental e presidente da ONG, o principal problema é o lançamento de esgoto in natura na água, ou seja, esgoto lançado sem o devido tratamento.
“O problema da laguna é o lançamento de esgoto in natura. Durante a alta temporada, a quantidade de nutrientes como fósforo, nitrogênio e potássio aumenta, o que favorece a proliferação de algas. Isso reduz o oxigênio da água e gera esse caos”, explicou Valério.
Inea aponta 67% das praias de Araruama impróprias
Dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) de janeiro de 2025 mostram que várias praias da região, incluindo Areal, Centro e Iguabinha, estão impróprias para banho. Em Araruama, 67% das praias monitoradas foram classificadas como impróprias.
A situação é ainda mais crítica em São Pedro da Aldeia, onde 89% das praias estão impróprias para banho, como as praias de Linda, Centro, Pitória, Sol, Sudoeste, Balneário e Ponta da Areia. Iguaba Grande também apresenta um cenário preocupante, com 80% de suas praias inadequadas para banho.
Projeto de modernização
Para minimizar o impacto, está em andamento uma modernização na estação de tratamento da Praia do Siqueira, em Cabo Frio. A primeira fase, segundo Valério, deve ser concluída em abril de 2025, e a segunda, em meados de 2026. No entanto, o ambientalista alerta que isso não resolverá a situação por completo.
“O problema é que o sistema de esgoto é projetado para o tempo seco. Na chuva, todas as portas ficam abertas, e todo o rejeito acaba indo para as redes de drenagem, que, por sua vez, levam esse material para a laguna. O grande desafio é que o sistema não faz a separação adequada entre a rede de esgoto e a rede de drenagem, o que agrava ainda mais a situação”, destacou.
Sobre a Laguna de Araruama
A Laguna de Araruama, nome técnico do local, é um dos maiores corpos de água hipersalina do mundo e se conecta ao mar por meio do Canal do Itajurú, em Cabo Frio. Ela abrange seis municípios: Araruama, Iguaba Grande, Saquarema, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo e Cabo Frio.
Com 220 km² de extensão e cerca de 630 milhões de m³ de água, a laguna desempenha um papel fundamental para a economia e o ecossistema local.
Prolagos se manifesta
A gestão de saneamento básico na região é feita pela concessionária Prolagos. A concessionária informou que investiu mais de R$ 1,4 bilhão em saneamento ao longo da sua história nas cidades de São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Iguaba Grande, Armação dos Búzios e Arraial do Cabo, o que refletiu em avanços na recuperação da Lagoa de Araruama e permitiu que a cobertura de esgotamento sanitário saltasse de 0% para 90% na região. O sistema conta com sete estações de tratamento e diversas unidades de bombeamento, que tem a capacidade tratar mais de 100 milhões de litros de esgoto por dia.
A concessionária disse ainda que possui também 38 km de cinturão coletor no entorno da Lagoa de Araruama para captar o esgoto que até os anos 2000 chegava in natura na laguna. Para complementar a blindagem e acompanhar o desafio do crescimento populacional acelerado dos municípios, a Prolagos informou que está realizando a construção de mais 26 km de rede coletora, e a ampliação e modernização de quatro estações de tratamento de esgoto nos municípios de São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo, incluindo a da Praia do Siqueira, sinalizada na matéria.
Além disso, a concessionária afirmou que está realizando uma série de iniciativas com foco em apoiar os municípios na avaliação da regularidade de estruturas de esgotamento sanitário de residenciais e comércios.
Destacou também que a Lagoa de Araruama possui características próprias que influenciam diretamente na sua aparência como os ventos, chuvas, altas temperaturas, baixa profundidade e um passivo ambiental de anos de lançamento direto de esgoto dos imóveis, antes da atuação da concessionária. Além disso, a água de chuva oriunda de redes de drenagem com lixo, detritos e matéria orgânica que ficam acumulados nas manilhas e galerias e lançamentos irregulares de esgoto também podem impactar a laguna.
Por fim, a concessionária informou ainda que o sistema de esgotamento sanitário segue operando normalmente e reforça que as atividades da concessionária contribuem diretamente para a melhoria e preservação dos mares e da Lagoa de Araruama.
O TEMPO REAL também procurou a Prefeitura de Araruama, mas, até o fechamento deste texto, não havia sido encaminhada resposta. O espaço permanece aberto.